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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

renome d'este paiz, não duvidou trocar as glorias infructuosas de chefe da opposição pelas de representante do seu paiz n'aquelle citado congresso. Se então já aqui tivesse assento um homem que se chama José de Moraes, que foi muito tempo representante do circulo da Figueira, diria que tinha havido n'isto um rapto parlamentar (riso). N'esse tempo não se conhecia a phrase mas já se sabia qual o objecto que ella expressava. O sr. d'Avila deu a prova experimental (apoiados).

Depois, emprehendendo ainda o primeiro meio, isto é, o do regulo e da aguia, foi s. ex.ª chamado a tomar parte no ministerio formado pelo sr. marquez de Loulé, e que representava uma politica opposta aquella que s. ex.ª representara na ultima vez que tinha sido ministro. Mas o sr. marquez d'Avila, camaleão admiravel, representa diversas politicas, conforme vae aos interesses... publicos, já se vê, que lá dos proprios não cura elle (riso). Entrou s. ex.ª, e parece-me que foi n'esta occasião que o paiz se felicitou por ver pela vez primeira o sr. Carlos Bento na posse de uma pasta, parece-me que a da marinha. Das façanhas heroicas d'este estadista fallarei adiante.

Chegámos a 1865, e o partido historico que até então tinha presidido aos destinos da nação, caíu. N'essa epocha, não sei se s. ex.ª já era conde d'Avila, entrou n'uma situação que apenas durou breves dias, e á qual me parece que pertencia v. ex.ª, sr. presidente.

Uma voz: — Não, senhor.

O Orador: — Foi erro. V. ex.ª fez parte do ministerio que caíu. Em 1865 o sr. marquez d'Avila dissolveu a camara e trouxe aqui uma outra que immediatamente lhe deu um cheque politico em consequencia do que s. ex.ª teve de saír, bem contra vontade.

Não sei, mas parece-me ter dito s. ex.ª, como hontem affirmou aqui com documentos, o sr. Rodrigues de Freitas, que havia de vir um dia era que se riria d'aquelles que o obrigavam a dissolver n'essa occasião.

Vozes: — É verdade, disse isto.

O Orador: — Pois diga-se de passagem que chegou esse momento, e eu logo tratarei d'este ponto importante. Continuemos, porém, n'esta narrativa edificante.

Veiu a situação chamada fusão, e s. ex.ª fez-lhe opposição constante e intractavel na camara dos pares. Mas foi exactamente n'essa mesma occasião que a s. ex.ª se deparou sacrificar-se outra vez pelo bem do paiz.

Era necessario que s. ex.ª representasse a sua patria na exposição internacional de París. Era necessario que s. ex.ª com o seu grande nome e auctoridade inconcussa, suspendesse uma torrente que então já rodopiava na vizinha Hespanha, que podia ser-nos fatal. Por isso não espanta que s. ex.ª fosse nomeado nosso representante em Madrid, e chefe, director, ou não sei que seja, d'aquelles cavalheiros que foram mandados á exposição de París para estudar os progressos da industria e bem assim d'aquelles que mandavam para lá os seus productos.

Tudo isto parece um rapto parlamentar. Mas não foi, com quanto s. ex.ª deixasse de fazer opposição ao governo. Entendeu que mais uma vez devia sacrificar-se por este paiz, que tanto lhe deve e tão ingrato tem sido para com s. ex.ª (riso —apoiados).

Veiu a janeirinha, a revolução pacifica de 1868, e s. ex.ª, sem se saber como, nem por que, viu-se com grande espanto d'este paiz, chefe d'esse movimento; isto é: passou de exercer funcções de confiança junto do governo que tinha caído perante o embate da revolução, a collocar-se immediatamente á frente d'ella.

Já se vê que a lei da continuidade não é aquella que s. ex.ª mais respeita! (Riso.)

S. ex.ª falsificou completamente o programma, as idéas, os principios da revolução de 1868; e a camara que s. ex.ª elegeu sob o influxo d'esses principios foi a mesma que lhe deu o cheque, o qual o obrigou a saír das cadeiras onde estava renegando o credo que confessara.

E vem agora, muito de passagem, justificar essa revolução pelo consenso unanime na aceitação dos principios por ella proclamados (apoiados).

Hoje não ha partido militante que não aceite o labaro sacrosanto d'essa revolução; não ha ninguem que rejeite as severas economias; todos se conformam com ellas, todos as desejam, todos lutam por ellas (apoiados), todos as inscrevem na sua bandeira (apoiados.)

Portanto não foi uma ociosidade, não foi um capricho; foi um bom principio, que é por todos aceito (apoiados).

Passarei por cima dos acontecimentos que se succederam desde essa epocha até ao momento em que o partido reformista soffreu s. ex.ª como presidente do conselho.

Vejo no rosto de alguns cavalheiros que estão aqui sentados, florear um sorriso, julgando talvez que vou collocar-me n'um terreno falso, pelo qual me posso precipitar.

Não devo dispensar-me de salvar a minha responsabilidade. E humilde, bem sei, mas pertence-me, e tenho de a defender como cousa minha.

Na sessão passada mostrei n'este logar a grandissima inconveniencia com que o partido reformista aceitou o sr. marquez d'Avila como presidente do conselho.

Eu já o disse. Nós nunca vimos em s. ex.ª o representante proximo ou remoto, directo ou indirecto das nossas, idéas...

Uma voz: — Declararam que era o chefe.

O Orador: — Nunca declaramos isso. O illustre deputado está enganado. Não trato, porém, de proseguir agora n'este ponto, porque o meu fim é outro, e já tive occasião de mostrar como soffremos o sr. d'Avila.

Mas o sr. presidente do conselho, fazendo mais uma vez o que o sr. Latino Coelho disse que s. ex.ª fazia muitas vezes; passando de simples conviva, aliás mal visto pela sociedade, a amphytrião, pretendeu collocar-se á frente d'este partido, e veiu declarar que era seu representante, seu chefe natural, e que marchava com elle á conquista de melhores destinos para a nação.

Ainda mais. S. ex.ª uma vez, em um dos seus rasgos oratorios, que todos estamos ha muito tempo acostumados a admirar, disse que tinha sido s. ex.ª o progenitor do partido reformista.

Mal sabiamos nós que o partido nascido, como se ha dito, na lama da rua e nas arruaças populares, tinha tão nobre estirpe, e que lhe corria nas veias sangue tão illustre e azul (riso—apoiados).

Vieram os acontecimentos de janeiro passado, e o meu collega o sr. Saraiva de Carvalho e o sr. bispo de Vizeu, tiveram que saír do ministerio. Mas o sr. presidente do conselho vinha todos os dias para esta casa proclamar a necessidade de fazer economias; vinha proclamar que era mais economico do que ninguem; que elle marchava na vanguarda de todos, e que era a elle que competia, et par droit de conquête et par droit de naissance, o bastão do commando.

S. ex.ª todos os dias nos dizia que havia de fazer grandes economias e grandes reducções na despeza, e apresentava-nos um tão quantioso rol de promessas douradas, admiradas e mirificas, que mostrava quasi que tinha descuberto a pedra philosophal e o pó projectivo (riso).

Então nós entendemos por dever da nossa consciencia e em satisfação aos desejos de que estavamos inspirados, amparar o governo, e fizemos isto sabe Deus com que difficuldades. Pelo menos eu, sr. presidente, sempre tive a infelicidade de não acreditar em s. ex.ª como ministro de qualquer pasta (apoiados).

Mas cedo veiu o desengano e esta camara estará lembrada, ou os membros d'esta camara que pertenceram á transacta, bem como o paiz estarão lembrados das scenas vergonhosas que se passaram aqui promovidas e representadas pelo governo.

Todos se lembram das contradicções flagrantes em que caíram os srs. ministros. Na commissão de fazenda diziam