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1360 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

imprevisto, etc., etc., que tem uma obra como a do porto de Lisboa.

Em vista d'isto conclui naturalmente e sem hesitar: o homem vão perder dinheiro.

Francamente, incommodou-me ver este negro quadro. (Riso.)

Não pelos meus collegas, mas pelo sr. Hersent. (Riso.)

Está claro, aquelle excellente sr. Hersent vem a Portugal para se arruinar. E os meus collegas piamente acreditaram que era verdade. E eu francamente antes de estudar a questão o que sentia era dó do empreiteiro.

A junta consultiva de obras publicas e minas não foi tão radical.

O sr. Laranjo: - A commissão não diz que o sr. Hersent lucrará 232:000$000 réis; a commissão simplesmente apresenta este calculo quando faz a differença de uns muros com a differença de outro systema de muros.

O Orador: - Está s. exa. enganado; leia o volume do inquerito a pag. 353, o calculo da differença dos muros feito pela commissão é de 231:000$000 réis; mas ahi é que está justamente a magna questão; é isso mesmo que eu não acredito; esteja s. exa. certo que eu não acredito; não se afflija o meu illustre amigo.

Eu tenho a certeza de que, a julgar pelo orçamento, elle ganhará ao todo mais de 2.700:000$000 réis.

Mas, como ía dizendo a junta consultiva de obras publicas, foi um pouco mais cordata n'esta parte; e dando por bem feitos os calculos da commissão, que tinha achado os 232:000$000 réis disse: 232:000$000 réis, mais réis 262:000$000 provenientes dos decimos incluidos nos preços de obra, mais 267:000$000 réis dos decimos das obras que foram orçadas por estimativa, perfazem para lucros do empreiteiro 761:000$000 réis.

Isto, emfim, já é alguma cousa.

Não é tudo; mas já é evidente que aquella corporação affirma a sua discordancia do pensamento da commissão a respeito dos lucros do empreiteiro Hersent.

Ha n'essa discordancia um ponto frisante a que não posso deixar de me referir, e que francamente me custou ver adoptado pela commissão.

Parecia que a commissão queria por força avolumar as despezas do orçamento do projecto Hersent, e n'esse intuito teve a mais peregrina e extraordinaria lembrança.

Lembrou-se de se revoltar contra os srs. Matos e Loureiro que fizeram o orçamento e que eram membros da commissão e sem pensar que estavamos em Portugal, e que as obras eram em Lisboa, imaginou que se estava em Inglaterra, nos Açores, ou nas diversas localidades de onde vêem importados os materiaes necessarios para as obras.

Os srs. Matos e Loureiro quando fizeram o orçamento tinham obrigação de calcular os preços dos materiaes para a construcção, em harmonia com os seus preços correntes em Lisboa, pois que era aqui que as obras tinham de ser feitas. Toda a gente fazia o que fizeram os srs. Matos e Loureiro, calculando no orçamento os materiaes pelo preço do custo acrescidos dos direitos da alfandega, isto é, o preço corrente do mercado. Foi isto o que os srs. Matos e Loureiro muito bem comprehenderam e executaram.

E o que inventou agora a commissão?

Foi fazer ura calculo complicado (pag. 362 e 363 do 1.° volume do inquerito) para demonstrar que o sr. Hersent tinha que pagar 360:000$000 réis de direitos na alfandega pelos materiaes a importar, e descontou esta quantia nos lucros que o empreiteiro havia de auferir.

A junta sobre este assumpto guardou o silencio dos tumulos.

E eu não pude deixar de o referir porque chego a considerar heroica tanta dedicação.

Posto isto entremos no apuro da questão.

Eu disse que as obras da primeira secção que o sr. Hersent ía fazer custavam 8.734:000$000 réis. Para o demonstrar é preciso provar que os muros que o sr. Hersent vae construir custam 5.555:000$000 réis e os aterros réis 528:000$000, pois que são estes os dois unicos numeros de differença entre o orçamento dos srs. Matos e Loureiro, e o do projecto Hersent.

A questão principal, como se vê, é, pois, dos muros. (Apoiados.)

Vamos, portanto, examinar como se demonstra que os muros do sr. Hersent custam 5.555:000$000 réis, porque, provado isso, o homem tem, pelos orçamentos, quasi no bolso os 2.700:000$000 réis, sem ninguém lh'os poder tirar. (Apoiados.)

É muito facil, não é preciso grande esforço, basta tomar os desenhos que o sr. Hersent juntou ao seu projecto definitivo e fazer a medição da obra.

Eu explico o que é fazer a medição.
Nos muros ha diversas unidades de trabalhos: ha calçada posta na obra, ha cantaria posta na obra, ha alvenaria posta na obra a diversas alturas abaixo e acima das mais baixas mares, ha enrocamentos, isto é, a pedra solta que só deita no rio, e ha dragagens.

Avaliar estas diversas unidades de trabalho chama-se fazer a medição da obra, calcular na extensão total dos muros qual é o trabalho que ha de calçada, de cantaria, etc , ou reduzir todo o trabalho a fazer nos muros a estas differentes unidades, chama se, como disse, medir a obra.

Quando, pois, se pretende comparar umas obras com outras quaesquer, o processo que lembra logo é reduzil-as ambas ás unidades de trabalhos, isto é, medil-as, para depois se poder facilmente comparar umas com outras.

Façamos, pois, a medição das obras dos dois projectos.

A commissão que foi encarregada do estudar a economia comparada d'esses dois projectos, procedeu a este trabalho, mas eu entendo que os calculos d'esta commissão não estão exactos, e vou demonstrar a rasão por que assim o penso, e bem assim explicar de uma maneira que me parece muito plausivel, o motivo das differenças que encontrei.

Comprehende-se muito bem que a rasão dos diversos enganos que se encontram, para não dizer outra expressão, se deduz do empenho que a commissão tinha, da sua muito boa vontade em collocar em bom terreno o sr. ministro e o governo; e dizer isto não lhe fica mal, pois que todo o erro provem do sr. Navarro precisar que os seus subordinados abonem a sua administração.

Por consequencia a tendencia toda da commissão era para puxar pelo orçamento do projecto do sr. Hersent para cima, até o chegar ao do sr. Matos. E nós diga-se a verdade não levâmos a mal essa tendencia da commissão, e o que lamentâmos são as condições illegaes e excepcionaes em que ella foi chamada a funccionar.

Dada a natural tendencia vamos ver, como as medições foram sempre uniformente avolumadas.

Como o mesmo meio empregado invariavelmente dava logo nas vistas, empregaram-se diversos processos; e ora se augmentava e puxava pelo preço, ora se puxava pela quantidade de trabalho, e se puxava cumulativamente, pelo preço e pela quantidade de trabalho, e n'este engraçado jogo, foi-se chegando até se achar apenas a singela differença de 231:000$000 réis.

Aqui está como se fez o trabalho, e a camara comprehende-o logo com o primeiro exemplo.

Estudemos a unidade do trabalho - calçadas:

Em cima dos muros, propriamente, ha uma porção do calçada; e fóra dos muros ha tambem diversas extensões calçadas.

No orçamento está a verba de 64:400$000 réis para calçadas fóra dos muros, e quando se procede á medição dos muros só se deve avaliar a calçada que está em cima dos mesmos muros, (Apoiados.) porque é essa verba a que carrega no custo do muro, visto que as outras calçadas lá têem a verba no orçamento do sr. Matos.