O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

263

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

é valioso melo de prova n'este assumpto, visto que é o orgão official da administração do concelho de Arganil. É, como os outros, documento do governo ou dos seus agentes; e eu, como tantas vezes tenho dito, não saio fóra d'estes documentos, e de outros que tenham o caracter de rigorosa authenticidade.

Previno desde já a v. ex.ª e a camara de que eu, alludindo a este jornal, não levanto proxima ou remotamente uma questão pessoal. As minhas questões pessoaes com este jornal ou com outro qualquer trato-as nos tribunaes ou onde julgo mais conveniente; os conselhos da nação não foram instituidos para se discutirem questões pessoaes, nem essas questões podem ter valor diante das graves questões do interesse publico.

Preciso, porém, d'esta folha como documento, porque tenho de me referir muitas vezes a este jornal; e, como elle contém a explicação dos actos da auctoridade administrativa do concelho de Arganil, de quem é orgão official, eu, indo buscar argumentos a tão auctorisada fonte, creio que sou imparcial, creio que sou insuspeito no genero de provas em que me apoio.

Refiro-me ao Trovão da Beira, e creio que os meus collegas, a quem os seus redactores fazem o mimo de enviar um exemplar quando o julgam opportuno, todos á uma hão de ver que é completamente insuspeito tudo quanto disserem os individuos que collaboram n'aquella folha, e de que eu possa tirar proveito para a defeza da minha causa.

Referindo-me ao jornal, não quero censurar nem offender os seus redactores, quero unicamente tirar partido, e tirar argumento de um jornal que é orgão official da administração do concelho de Arganil, para apreciar os acontecimentos que ali se deram na ultima eleição. E digo que é orgão official do concelho de Arganil, porque no n.º 3, de 10 de maio de 1871, diz esse jornal o seguinte:

«Os principaes fundadores do nosso jornal foram os srs. drs. Manuel da Cruz Aguiar, José Albano de Oliveira, Agostinho Albano da Costa Carvalho, Manuel da Costa Carvalho, e aquelle que estas palavras escreve — collaborador responsavel. Foi muito pensada e reflectida a empreza. Fique, pois, s. ex.ª sabendo que o primeiro dá o seu ordenado de administrador do concelho de Arganil e o que ganha como advogado; o segundo, toda aquella porção de rendimento da sua grande casa de que poder dispor, e vaé até á venda de propriedades, se necessario for; o terceiro, que ganha 500$000 réis pela advocacia, pouco mais ou menos, dá tudo; o quarto, o seu ordenado de professor de latinidade, e nós sacrificámos tudo que lemos: isto alem do auxilio que nos dão outras pessoas, que é escusado mencionar.»

Para sustentar o jornal, o administrador do concelho dá, alem de outros meios, o seu ordenado, que é pago pela camara municipal, e que sáe por consequencia do bolso dos contribuintes, que n'elle são injuriados. Creio portanto que um jornal n'estas condições é o mais insuspeito ácerca dos factos que proxima ou remotamente respeitem á minha pessoa.

Se ha algum documento mais insuspeito no que dissera favor da minha causa, peço aos meus adversarios que m'o indiquem. Creio porém que os meus collegas me farão a justiça de acreditar na sinceridade das minhas palavras, quando declaro que não conheço documento mais insuspeito em tudo o que escrever a meu favor ou dos meus amigos.

Começo, pois, por este documento. Gosto sempre de principiar pelos documentos mais officiaes; e, como este jornal é o orgão official da administração do concelho de Arganil, tenho um grande prazer em começar por elle no exame dos documentos do governo.

Eu sympathiso muito com a imprensa, nunca me refiro a ella senão para lhe dirigir palavras de louvor. Com relação a este jornal, devo dizer que não posso dirigir lhe palavras de louvor, mas que tambem não lh'as dirigirei do censura. Unicamente o considero como importante meio de prova na questão sujeita. Será ponto de partida para a minha argumentação.

Ha ainda outra circumstancia de que ha pouco me não recordei, circumstancia que me occorre agora, e que vou referir antes de passar adiante, que prova a importancia do alludido jornal n'esta questão.

Como no concelho de Arganil o que a auctoridade queria era ordem e muita ordem, como no concelho de Arganil o que o governo queria era evitar violencias e excessos, violencias e excessos que se evitaram no dizer do magistrado superior do districto, simplesmente pelos esforços da unica pessoa que nos documentos apparece como desordeira; como, repito, o que o governo desejava n'aquelle concelho era ordem e muita ordem, e como este jornal a todas as auctoridades judiciaes, fiscaes e ecclesiasticas, e aos particulares senão a todos, pelo menos a quasi todos, dirigia palavras de tal modo injuriosas, que nem as posso repetir n'esta assembléa, mas que alguns dos illustres deputados terão lido, quem presume a camara que foi escolhido para ir manter essa ordem, que tanto se desejava, e para não provocar ninguem, e sobretudo escolhido para a assembléa da minha terra, onde estão os meus parentes e os meus amigos, e onde a opposição obteve 540 votos contra 50? Quem presume a camara que havia de ir para ali acompanhado de cincoenta bayonetas? Quem presume a camara que, para manter a ordem publica e para não provocar ninguem, seria mandado como delegado da auctoridade administrativa, acompanhado por cincoenta bayonetas para a assembléa do Pombeiro?

Foi o redactor principal do jornal O Trovão da Beira!...

Vozes: — Ouçam, ouçam.

Orador: — Estão aqui as actas que provam este facto inaudito, em cuja apreciação não posso deixar de insistir, porque o reputo um horroroso attentado, mais grave que um crime ordinario; e como provocação ao conflicto e á desordem é o ultimo dos attentados (apoiados). Para manter a ordem escolhia se, apoiado em bayonetas, o redactor de um jornal que todos os dias publicava as ultimas injurias contra os seus vizinhos, sem poupar o que ha de mais recôndito no lar domestico, o que ha de mais sagrado no sanctuario da familia!

N'uma occasião em que, segundo os documentos dos delegados do governo, os partidos politicos estavam tão apaixonados, na occasião em que se prendeu um homem porque era irascivel e se apaixonava (apoiados), punham se cincoenta bayonetas á disposição do insultador dos povos!

Por consequencia, não posso invocar documento mais insuspeito para o governo do que o jornal de que era fundador o administrador do concelho de Arganil, e redactor responsavel o delegado da auctoridade administrativa na assembléa de Pombeiro, uma das mais importantes d'aquelle concelho.

V. ex.ª e a camara comprehendem muito bem pelas rainhas breves explicações que é meu intento mostrar que a nenhuns outros elementos hei de recorrer na minha argumentação senão aos documentos do governo, alem dos documentos authenticos.

Quer v. ex.ª e a camara saber o que diz o jornal, o que escreve o proprio redactor responsavel, que era o de'egado da auctoridade administrativa n'uma das assembléas d'aquelle concelho a respeito dos amigos que o governo tinha era Arganil?

Note se que o jornal consigna o periodo que vou ter á camara, n'um artigo em que trata de desculpar o administrador de concelho por não ter dado parte ao governador civil da prisão do cidadão Antonio de Abreu Pinto? Diz o jornal no seu n.º 21, de 15 de julho: «Quem todavia se lembrar de que era a primeira eleição que o sr. Cruz Aguiar fazia, e a mais renhida que ali tem apparejido, quasi só e rodeado de mil affazeres, não tendo sequer tempo para sacudir o pó das botas, de certo desculpará o esquecimento.»