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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

logo em seguida sósinho sem tropa para a Pampilhosa! Já é valentia! (Riso.)

E se lhe apparecessem no caminho os homens armados e desconhecidos, com fins sinistros, que lhe aconteceria?! Estava perdido! (Riso.)

Mas o administrador de Pampilhosa, com uma coragem que faria inveja a um general com a fronte crestada pelo fogo de cem batalhas, sabendo que a serra estava infestada de homens desconhecidos, armados e com fins sinistros, atravessou intrépido as montanhas, affrontou todos os perigos, e recolheu-se a Pampilhosa! (Riso.) Já é heroicidade! (Riso.) Nem todos seriam capazes de praticar d'estas acções; nem todos teriam a coragem de proceder como elle! Eu conheço muitos valentes, que, sabendo que em certo logar estavam homens desconhecidos, armados e com fins sinistros, não eram capazes de por lá passar (riso).

Como v. ex.ª ouviu, eu declarei bons os officios dos regedores e muito bons os dos administradores de concelho.

Passo a ter um d'estes officios tambem muito bom. É o seguinte:

«(Copia) — Confidencial. —III.mo e ex.mo sr. —Não me tendo sido possivel effectuar com os cabos de policia a captura de alguns criminosos n'este concelho, e constando-me que n'este circulo andam alguns homens armados, rogo a v. ex.ª se digne enviar-me uma força de vinte e cinco a trinta praças para o dito fim, e para no proximo domingo manter a liberdade da uma, cuja força, com a que n'esta data requisita o meu collega de Pampilhosa, deverá achar-se, pela meia noite de 6 para 7 do corrente, no sitio do Arroçan da Várzea, d'este concelho, onde receberá as minhas convenientes instrucções.

«Deus guarde a v. ex.ª Goes, 3 de julho de 1871. — III.mo e ex.mo sr. conselheiro governador civil de Coimbra. = O administrador do concelho, Francisco Antonio de Veiga.»

Sr. presidente, a dmire a assembléa o empenho com que este cavalheiro tratava de capturar os criminosos nas vesperas da eleição (riso).

Provavelmente este louvavel procedimento era dictado pelo seu zêlo no serviço publico, e pelo seu amor ás liberdades individuaes. Considerou que o dia 9 de julho era um dia de regosijo nacional, não só por se proceder a uma eleição de deputados, mas tambem por outros motivos de gloriosa recordação para as nossas liberdades; quiz solemnisar este dia, e preparava-se n'esse intuito para capturar os criminosos que lá apparecessem (riso). Mas como é que o administrador do concelho de Goes, que tinha tantos criminosos a capturar, pretendia que a tropa parasse no Arroçan da Várzea á meia noite de 6 para 7?

Ao administrador do concelho de Goes tambem constava que andavam por lá homens armados, mas ao menos evitou o emprego da palavra sinistro. A tropa era sempre para manter a liberdade da uma! A tropa podia ser necessaria para capturar os criminosos e para qualquer outro fim de serviço publico; mas para o que ella era competentissima em todos os casos, era para manter a liberdade da uma (riso).

E como é que, tendo o administrador do concelho da Pampilhosa necessidade da tropa no seu concelho, e carecendo o administrador do concelho de Goes tambem da tropa para manter a liberdade da uma, quer este funccionario que as forças reunidas parem á meia noite de 6 para 7 n'um dado sitio para receberem as suas convenientes instrucções! Que instrucções seriam estas? Isto é mais sinistro do que os homens sinistros que andavam na serra!! (Riso.)

Mas quaes seriam estas convenientes instrucções! Talvez logo lhe achemos uma explicação clara, porque a habilidade do poeta consiste em descobrir a explicação de factos envolvidos na obscuridade e nas trevas. Talvez eu, sem ser poeta, consiga logo decifrar estes mysterios.

Pois se o collega de Pampilhosa precisava da força no seu concelho, como queria o administrador do concelho de Goes dete-la para lhe dar as suas convenientes instrucções?

O mais notavel é que o administrador do concelho da Pampilhosa esteve a ponto de conseguir inutilisar a eleição por uma estrategia, cuja realisação não carecia de força armada. Consta das actas do processo eleitoral que este funccionario, logo que chegou á Pampilhosa, pediu ao secretario da commissão do recenseamento, que era tambem o secretario da administração, o livro original do recenseamento. O secretario entregou-lh'o, suppondo que o administrador o queria apenas para tirar uma copia dos eleitores.

O administrador, contando que ainda não se achavam extrahidos os cadernos para a eleição, ficou com o livro até depois de effectuado o acto eleitoral! Debalde lh'o pediu o presidente da commissão do recenseamento para satisfazer a deveres do serviço publico. Não póde obte-lo senão passada a eleição!

A tropa que o administrador do concelho queria, já v. ex.ª e a camara sabem para que era (Vozes: — Muito bem). Mas a subtracção do recenseamento podia ser fatal, se as copias não estivessem já tiradas (apoiados).

E querem v. ex.ªs ouvir o que dizia o administrador de Goes ao collega de Pampilhosa na sua carta do dia 5, que eu apresente como documento?

«III.mo e ex.mo sr. — A nossa importantissima victoria depende necessariamente da fiel execução do nosso plano concertado.

«Portanto, confiado na honradez, lealdade, intelligencia e energia de v. s.ª, espero que tudo ha de correr admiravelmente em harmonia com os nossos desejos.

«Pôde v. s.ª contar com a tropa e com o mais que for necessario, segundo as ultimas instrucções.

«Depois de escrever ao nosso amigo, ainda póde fazer esta á pressa pela demora da portadora.

«De v. s.ª — collega, etc. etc. — S. C. 5 de julho de 1871. = Francisco Antonio da Veiga.»

Para que era tanta cousa, tanta honradez, lealdade, intelligencia e energia, para tudo correr admiravelmente em harmonia com o que se desejava? A que vinha o dizer-se que podia contar com a tropa e comtudo o mais que fosse necessario segundo as ultimas instrucções? (Apoiados.)

Vozes: — Deu a hora.

O Orador: — Se v. ex.ª me dá licença, sr. presidente, fico com a palavra reservada para ámanhã.