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SESSÃO DE 8 DE MAIO DE 1885 1473

podem adoptar, mas a idea mais ou menos adequada, a noção mais ou menos nitida do objecto jamais poderá conseguir-se sem o conhecimento d'estes tres pontos, sem a solução d'estes tres problemas.
Sendo esta uma verdade incontrastavel da philosophia, parece-me que o methodo mais racional, o melhor systema a seguir n'esta questão, e fazer a exposição das ideas que dizem respeito a origem, natureza, fins e propriedades da igreja, a origem, natureza, fins e propriedades do estado; só depois de termos previamente adquirido uma noção completa d'estes dois termos, e que poderiamos emittir um juizo recto e consciencioso ácerca das relações de conveniencia ou de repugnância entre elles.
Se eu quizesse fazer a exposição das ideas que dizem respeito a estes dois organismos, iria muito longe, porque e assim que faz o objecto de dois cursos, um de direito publico ecclesiastico e outro de direito publico philosophico, politico e constitucional.
Abandonando por conseguinte esse terreno, limitar-me-hei unicamente a desenvolver o argumento baseado, como disse, na analyse da organisação interna, profunda e vigorosa da natureza moral do homem, das leis organicas e constitucionaes d'elle.
O fim de qualquer ser revela-se pela manifestação da sua natureza, e este jamais a philosophia o pode conhecer com exactidão possivel sem haver conseguido a noção adequada do principio ou origem do mesmo.
Vê-se, pois, rigorosamente e logicamente que a origem e o destino são dois pontos extremes, um de partida e outro de chegada, e que nenhum ser póde realisar a lei ontologica da sua finalidade, podendo desenvolver a sua natureza ou expandir a sua essência sem ter percorrido todos os pontos intermediarios entre aquellas duas balisas.
A expansão e irradiação da essencia só attinge o seu maximum de desenvolvimento quando o ser chega a meta final d'aquelle ponto.
E, pois, do estudo extreme da natureza e do conhecimento d'estes dois pontos que se deduz o systema de meios que o ser tem a empregar para a realisação do seu fim ultimo natural.
Creio que nem a philosophia positiva poderá contestar estas ideas, ou rejeitar estes principios, e é com a applicação d'elles a analyse da nossa organisação moral o espiritual que eu espero poder concluir com segurança a impossibilidade da separação entre a igreja e o estado.
E até se eu quizesse fallar como theologo havia de concluir pela obrigação e necessidade que o estado tem de prestar a igreja todo o auxilio, homenagem e respeito para bem do mesmo estado e utilidade dos cidadãos; mas não o farei pelas rasões já indicadas e porque não quero abusar da benevolência da camara, alargando-me em considerações que nem vem de molde perante uma assemblea politica.
É arida a materia em que vou entrar, exige muita contensão de espirito, envolve o que ha de mais difficil, escabroso e delicado em toda a philosophia espiritualista, e quiçá em todas as sciencias ethico-juridicas.
Nem o assumpto se presta a rendilhados de phrase e flores de rhetorica, ademanes da arte, pelo seu rigor e precisão; nem eu possuo fecundidade genial para poder inflorar a idéa com forma que prenda pela belleza, ou estructura que deleite pelo primor.
Sr. presidente, se estudarmos o homem tal qual elle é, e isto não podemos deixar de o fazer, porque legislamos para elle e a lei deve estar em harmonia com a sua natureza, havemos de descobrir provas irrefragaveis em favor da minha these.
Conheço que o ser humano e consideração de differentes modos, principalmente no que diz respeito a substancia espiritual.
Não desconheço a consciencia do momento actual philosophico sei o que pensa a philosophia positiva ácerca da natureza moral do homem, mas sei tambem, sr. presidente, e posso asseverar, em face da historia, da philosophia, e em face da philosophia da historia e da critica dos systemas, que os maiores pensadores, as mais eminentes intelligencias que têem alumiado, como verdadeiros soes, o espirito da humanidade e têem deixado apos si rasto o mais luminoso, na sua rápida passagem pela terra, desde o seu nascimento até ao seu occaso, são todos Concordes e unanimes em affirmar, que dentro de nos existe um principio, que sente, pensa e quer, e este facto é-nos attestado pelos phenomenos psychologicos, convenientemente discriminados a luz da nossa consciencia.
A pedra cae sem conhecer a sua queda, o raio calcina e pulverisa sem conhecer a sua força, a flor desabrocha e murcha sem conhecer a sua encantadora formosura, o irracional segue seus instinctos sem saber a rasão d'elles, mas o homem, encerrado dentro do sanctuário de sua alma, onde e ao mesmo tempo oraculo e consultor, ahi encontra alguma cousa de distincto d'esse invólucro de materia que o cerca, ahi descobre um principio superior que, recordando-lhe a sua alta origem, lhe annuncia seu immenso destino.
E n'este ponto permitta-me a camara que eu observe que a philosophia espiritualista dá ao homem uma origem mais elevada, uma natureza mais nobre e um fim mais sublime do que a positiva, que nos equipara em ultima analyse ao macaco, ao cão, ao gato ou ao burro.
O sr. Agostinho Lucio: - Poderia citar o chipanzé ou o gorilla, mas o burro e o cão é que me parece não virem a proposito para a ordem de ideas que o illustre deputado está expondo!
O Orador: - Teria toda a rasão o meu distincto collega e medico se eu me quizesse referir aos principios e leis de transformismo, mas eu alludo a negação do principio espiritual, que aquella philosophia larga a margem, debaixo d'este ponto de vista não se pode negar que a substancia corporea do homem, na retorta, dá o mesmo resultado que a do burro ou a do macaco.
O sr. Azevedo Castello Branco: - Sempre fazem differença!
O Orador: - A differença está apenas na proporção em que se acham combinados os mesmos elementos...
(Interrupção.)
E por isso o que se poderá obter será mais azote ou mais oxigenio n'um caso do que no outro; mas o que e certo é que chegamos aos mesmos principios, oxigénio, hydrogénio, carbono, ozote e agua.
O sr. Correia Barata: - Pelos processos rigorosos baseados na anályse minuciosa dos phenomenos, nos differentes ramos da sciencia, chega-se a uma conclusão, que não é tão desairosa para o homem, como o illustre deputado affirma.
0 Orador: - O rigor d'esses processes mostra-se por um exemplo bem frisante.
Se nós nos basearmos em analyses e considerações deduzidas da morphologia, chegamos á conclusão de que o bull-dog e o galgo são de especie differente, e que o burro e o cavallo pertencem á mesma espécie.
E a verdade é que os dois primeiros são da mesma especie e differente raça, e os dois últimos pertencem a especies distinctas, como se prova physiologicamente. (Riso. Vozes: - Elle sabe.)
É na origem, natureza e destino que havemos de estudar os seus fins, as suas necessidades e os meios de realisar esses fins e satisfazer a essas necessidades.
Era esta a ordem lógica que eu ia seguindo e as ideas que eu ia expondo quando fui interrompido pelos meus illustres collegas.
0 homem é, como diziam os maiores philosophos da Grecia, como affirmava Platão e Aristóteles, o estado em ponto pequeno, assim como este é um homem de grandes proporções.