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que entrou a força armada e restabeleceu a ordem, desapparecendo o presidente, os dois escrutinadores, e um dos secretarios que eram favoraveis ao administrador, levando comsigo as chaves das urnas, sendo para notar que já antes d'isto tinha apparecido na sachristia, ou casa da fabrica, todo sujo de teias de aranha, um official do administrador do concelho chamado Joaquim Carlos, o qual se dizia estar ali escondido por ordem do administrador para de noite falsificar as urnas.

Que as urnas n'aquella noite de 21 para 22 de novembro foram entregues no referido estado ao parocho da freguezia, que as metteu em uma arca, cuja chave guardou, e retirados os eleitores, foi elle testemunha e outros para uma casa vizinha da igreja, e d'ali vigiaram esta toda a noite, sem que houvesse novidade algures; e no dia seguinte, quando muitos eleitores se achavam reunidos no adro da igreja para continuarem o acto eleitoral, appareceu ali com o administrador um reforço de infanteria e cavallaria, sustentando o dito administrador que a eleição não podia continuar attenta a falta do presidente da mesa e vogaes já referidos, mas porque a assembléa impugnasse, dizendo que queria ver acabada a eleição, e que d'ali não retirava senão á força de armas, o administrador e a dita força armada se ausentaram, e então a assembléa nomeou quem substituisse os mesarios faltosos, e quebrados os aluquetes das urnas, prosegui-se na eleição até ao fim, sem que mais houvesse transtorno algum.

Disse mais que é publico e notorio que o administrador do concelho anda constrangendo muitas pessoas para virem depor na syndicancia, invocando ordens do chefe do districto para uma grande reunião na proxima sexta feira, dizendo mais que elle administrador declara que para este effeito vieram ordens de Lisboa da parte do governador civil para que os factos fossem deturpados de tal modo que nunca se chegasse ao conhecimento da verdade; e mais não disse, e depois de lido, e achado conforme vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario que o escrevi e assigno. = José Fortunato Machado, padre = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

11.ª Antonio Augusto Guedes, casado, negociante e proprietario, da freguezia de Lobrigos, concelho de Santa Martha de Penaguião, de idade quarenta annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse: Que quinze dias antes da eleição andou o administrador do concelho pelas freguezias do mesmo a angariar votos acompanhado de empregados de fazenda e regedores, ameaçando aquelles que não votassem na sua lista com penhoras e augmento de contribuições, e com o recrutamento dos filhos, e que tres ou quatro dias antes da mesma eleição deu diplomas de cabos de policia a varios dos mesmos eleitores, que nunca o tinham sido, comprehendendo até um de oitenta annos, e outros doentes, fazendo-lhes saber pelo respectivo regedor, que se não votassem com elle, iriam presos para Villa Real, o que sabe por ser publico e notorio, sendo isto o que mais augmentou a opposição ao dito administrador.

Que, pelo ver, sabe que no dia da eleição o mesmo administrador fez postar uma força armada de infanteria n.° 13 perto do adro da igreja matriz aonde a eleição devia fazer-se, o que sendo muito estranhado, a fez depois retirar para logar mais distante.

Que o acto eleitoral começou pela formação de uma mesa mixta composta de pessoas que representavam o partido do administrador e o da opposição, e quasi no fim do dia, ainda não eram decorridas as duas horas de espera, estabeleceu-se disputa depois de fechadas as urnas competentemente, e de entregues as chaves a quem competia, sobre o modo de guardar as ditas urnas, querendo o administrador e seus sequazes, que ellas ficassem na igreja, e a porta d'esta fechada, e sustentando os outros que ellas ficassem dentro da igreja com as portas abertas, e guardadas por ambos os partidos protegidos da força armada, que n'este meio tempo levantou-se voz de que na igreja estava escondido um official da administração de combinação e ordem do administrador para de noite falsificar as urnas, que já então se dizia conterem grande maioria de listas a favor da opposição; e com effeito dando-se busca, appareceu ali o dito official por nome Joaquim Carlos na casa da fabrica, tendo a capa toda enrugada, como se tivesse estado deitado sobre ella, e deu por desculpa que se achava ali para beber uma pinga de vinho, e assim foi d'ali expulso pelo parocho.

Que aquella desordem sobre a guarda das urnas se augmentou com a entrada de grupos de homens que dentro da igreja davam vivas ao administrador e morras á opposição, tentando ao mesmo tempo roubar as urnas, até que interveiu a força armada, restabeleceu a ordem, e o presidente e alguns vogaes da mesa a quem haviam sido entregues as chaves das urnas, desappareceram com ellas, ficando as urnas em poder do parocho, e pelo mesmo guardadas dentro da igreja.

Que no dia seguinte quando os eleitores se reuniam para a continuação do acto eleitoral, appareceu junto da igreja, o administrador do concelho com uma força de sessenta soldados de infanteria, e seis ou sete de cavallaria, que vinham da Regua, alem dos outros que já ali estavam desde a vespera, e quiz fazer retirar os eleitores pelo fundamento de que faltavam os mesarios que tinham levado as chaves das urnas, e que por isso não podia a eleição continuar, porém a assembléa dizendo que havia na lei meios de tudo supprir, e que por isso não retirava, levou o administrador a retirar-se com a dita força, e desde então elegeu novos mesarios que supprissem os faltosos, tomando a presidencia o vice-presidente que então era da camara, a que elle testemunha tambem pertencia como vereador fiscal, correndo depois a eleição regularmente até ao fim.

Que alguns dias depois o presidente da camara dissera a elle testemunha, que fallando com o governador civil este lhe censurara a cobardia do administrador, dizendo que se o mesmo seguisse as suas instrucções conforme os outros, havia de como elles vencer a eleição, sendo que já antes da eleição era publico que o administrador vinha ao governo civil receber instrucções, e mais não disse, e depois de lido e achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario que o escrevi e assigno. = Antonio Augusto Guedes = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

12.ª João Ferreira da Costa e Silva, casado, proprietario, da freguezia de Fontes, concelho de Santa Martha, de idade cincoenta e nove annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que sabia pelo ter presenceado que na sua freguezia antes da eleição o administrador do concelho fallou a alguns eleitores, promettendo e ameaçando com contribuições e recrutamento, e isto desde que uma grande parte dos proprietarios se pronunciou contra o nome que continha a lista por elle apresentada, pois até ahi tinha havido perfeito accordo, e com a innovação ou alteração d'aquelle nome é que começou a desenvolver se a opposição na sua dita freguezia.

Que chegado o dia da eleição presenceou igualmente que ella correu regular até que sendo sol posto, e não podendo acabar-se no dia 22, depois de fechadas as urnas, levantou-se questão sobre o modo de as guardar, e por essa occasião se disse que para as falsificar de noite, estava na igreja escondido um homem, que com effeito se achou na casa da fabrica, e era um official da administração do concelho, que elle testemunha não viu, mas disse-lh'o o parocho da freguezia.

Que tambem por esta occasião viu entrar na igreja um bando de homens armados, alguns d'elles de paus, pistolas e punhaes, dando vivas ao administrador e morras á opposição, o que o dito administrador presenceava em silencio.

Que no meio d'esta confusão a urna da eleição do juiz ordinario levou alguns tombos, e a dos vereadores permaneceu na mesa segura por um eleitor, e então o presidente da mesa requisitou o auxilio da força armada, com a presença da qual se restabeleceu a ordem, desapparecendo por esta occasião o dito presidente e escrutinadores que tinham tomado conta das chaves, depois de as terem offerecido ao commandante da força, que as recusou, vindo por ultimo a ser o parocho quem guardou e fechou as urnas na igreja.

Que no dia seguinte, sendo mais de dez horas da manhã, ainda não era apparecido o presidente e um dos escrutinadores, bem como um dos secretarios, mas apresentando-se elle, testemunha, como outro dos escrutinadores, com a sua chave para a continuação do acto eleitoral; e estando já reunida á porta da igreja grande porção de eleitores e não eleitores, appareceu o administrador do concelho com a força armada da vespera e com outra que viera da Regua, dizendo que tinha ordem positiva, sem declarar de quem, para não deixar continuar a eleição e mandar dispersar os eleitores, e porque estes dissessem que só o fariam no caso de o commandante da força declarar por escripto que lhes intimava a ordem de saírem, com pena de empregar a mesma força, o mesmo commandante se recusou a isso, e então com a gente do seu commando se retirou, seguindo-se ficar ainda o administrador, que mais tarde se retirou com a força que de vespera ali tinha estado, depois de protestar contra a eleição, que novos mesarios substitutos dos que faltaram concluiram, protesto que foi contraprotestado pela mesa, como deve constar da respectiva acta.

Por ultimo declarou que o administrador do concelho mandou entregar diplomas de cabos de policia na vespera da eleição com o fim de os afugentar da urna, o que não conseguiu; sabendo isto pelo presencear.

E mais não disse, e depois de lido e achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, que o escrevi e assigno. = João Ferreira da Costa Silva = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

18.ª Francisco Frederico da Silva Mello, casado, proprietario, residente na freguezia de Sanhoane, do concelho de Santa Martha de Penaguião, de idade quarenta annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos em fórma devida.

Perguntado sobre os assumptos da syndicancia, disse:

Que sabia, por ser publico, que o administrador do concelho antes da eleição municipal andára com alguns empregados de fazenda e regedores a pedir votos pelas freguezias, como até aconteceu a elle, testemunha, e alguns lhe disseram que foram pelo mesmo administrador ameaçados com contribuições e recrutamento de filhos, dizendo que para isso tinha ordens superiores.

Que pelo ver e ser publico tambem sabia, que na vespera da eleição o dito administrador mandára entregar diplomas de cabos de policia a varios eleitores com quem não contava, determinando-lhes a satisfação de diligencias no dia da eleição com o fim de os afugentar da urna, o que todavia não conseguiu, porque todos votaram.

Que n'este dia foi postada junto do adro da igreja, por ordem da mesma auctoridade, uma força de infanteria 13, cujo commandante por deliberação propria depois a desviou d'ahi, e defronte da dita igreja tambem se viam em uma casa paizanos armados que eram olhados como facinoras, alem de se ver tambem em outros pontos policia armada.

Que apesar d'isto a eleição foi correndo regularmente, até que fechadas as urnas por senão concluir n'aquelle dia, houve grande questão sobre a guarda d'ellas, querendo o presidente e mais partidarios do administrador que ficassem na igreja a portas fechadas, e querendo os outros que ficassem a portas abertas guardadas por todos.

Que neste acto houve quem dissesse que na casa da fabrica estava escondido um official do administrador por ordem d'este, para de noite falsificar as urnas, e não tardou que o parocho viesse dizendo, que com effeito ali encontrara o dito official.

Que aquella discussão e desordem sobre a guarda das urnas augmentou com vivas á auctoridade e morras á opposição, chegando no meio do tumulto a caír uma urna que ficou um pouco esmagada, mas sem se abrir, nem romper, até que, a requisição do presidente da mesa, veiu a força militar que restabeleceu a ordem, mas desapparecendo o presidente e escrutinadores, que levaram as chaves, ficaram as urnas entregues ao parocho, que as guardou na igreja, o que tudo elle testemunha presenciou.

Pela mesma rasão sabe que, no dia seguinte, não apparecendo o presidente da mesa e um escrutinador, foi o outro com a sua chave, apparecendo tambem ahi o vice presidente da camara, alem de muitos outros cidadãos, todos dispostos a proseguirem no acto eleitoral, porém apparecendo então o administrador do concelho com maior força militar que a da vespera, e querendo que a eleição se não concluisse, dizendo que para isto tinha ordens superiores, a assembléa não annuiu, dizendo que só se retiraria depois de violentada; e tomando a presidencia da mesa o vice-presidente da camara, e preenchidos por acclamação os mais logares vagos, concluiu-se a eleição, protestando contra ella o administrador, e contraprotestando a mesa.

Que, finalmente, passados alguns dias, o vereador fiscal da camara de então lhe dissera ter ouvido ao governador civil censurar a cobardia do administrador, e dizer que se este seguisse as suas instrucções, como os outros, venceria como elles.

E mais não disse, e depois de lido e achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario que o escrevi e assigno. = Francisco Frederico da Silva Mello = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

No dia 15 do referido mez e anno continuou a inquirição das testemunhas pela fórma seguinte:

14.ª Sebastião Maria da Nobrega Pinto Pizarro, casado, proprietario, residente na rua das Flores, d'esta villa, de idade quarenta annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que sabia por ser publico e notorio que desde abril do anno passado se declararam abertamente como chefes politicos do partido opposicionista ás auctoridades constituidas em todo o districto os bachareis Luiz de Bessa Correia, Antonio Tiburcio Pinto Carneiro e Antonio José Ferreira de Carvalho, d'esta villa, fazendo reuniões e ajuntamentos em casa dos dois primeiros, aonde elle testemunha muitas vezes viu entrar e saír differentes pessoas conhecidas como oppostas ao governo actual, dizendo se geralmente que eram emissarios politicos dos differentes concelhos d'este districto, e que iam ali combinar e receber instrucções sobre o modo de dirigir os trabalhos eleitoraes e mais meios de hostilisar o governo.

Que estas reuniões se tornaram mais frequentes á proporção que se foram approximando as eleições municipaes, sendo que já no dia 14 de janeiro do anno proximo passado, por occasião da eleição da commissão de recenseamento, os ditos Bessa e Pinto Carneiro, sem serem dos maiores contribuintes, nem serem ali chamados por algum motivo legal, ali compareceram acompanhados de amigos e parentes, influindo na eleição da dita commissão, como um dos trabalhos preparatorios para os seus fins; e o terceiro, Antonio José Ferreira de Carvalho, estando n'esse dia a julgar um criminoso em audiencia geral, na qualidade de juiz de direito substituto, suspendeu a audiencia, interrompendo a apenas no intervallo em que foi votar para a dita commissão, sem mesmo largar a beca de que se achava revestido, o que sabe pelo ver, e pela mesma rasão sabe tambem que nas vesperas das ultimas eleições municipaes se espalharam differentes cartas por varios eleitores d'este concelho, assignadas pelo dito Antonio Tiburcio Pinto Carneiro, pedindo-lhes o seu voto e influencia contra o partido chamado governamental, tanto para as eleições municipaes como para as de deputados, e servindo-se do estudado argumento de que o governo ou seus agentes queriam a liberdade illimitada do commercio dos vinhos, por entender que era esta a questão vital do districto, e igualmente viu cartas assignadas por Luiz de Bessa Correia, as quaes supposto não eram tão claras, comtudo remettia as pessoas a quem eram dirigidas a seu cunhado Luiz da Mota, por todos conhecido como agente politico d'elle Bessa, em cuja casa, sempre que nas proximidades das ditas eleições vinham a esta villa o deputado Manuel Pinto de Araujo e Henrique da Silva Avelsar, ambos conhecidos como altamente oppostos á governação actual, pernoitavam.

Que pelo ter ouvido dizer a muitas pessoas de credito sabia, que dias depois das ultimas eleições municipaes estivera em casa do negociante d'esta villa Manuel Correia Pereira, um eleitor de fóra, apresentando ahi uma porção de libras, é dizendo que ía entregadas a Luiz de Bessa Correia, como resto das cem que o mesmo lhe havia dado, pois que não fôra preciso emprega-las todas, ou as não poderá empregar na compra de votos para as referidas eleições.

Disse mais, que é publico e notorio que com as ditas eleições se gastaram grossas sommas de dinheiro abonado por Francisco José da Silva Torres, residente na cidade do Porto, e tambem proprietario no Peso da Regua, o que elle testemunha piamente acredita, porque alem de outros factos que podia narrar, viu e presenceou que na freguezia da Campeam, alguns dias antes da eleição, em casa