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dissera que ali com esta eleição tinha despendido 5:000$000 réis, sendo ao mesmo tempo publico e notorio, que desde a noite de 21 de novembro até á manhã do dia 23 estiveram recolhidos em uma casa vinte e tantos homens armados, pagos pela opposição, perto da referida assembléa, e elle testemunha na vespera da eleição viu assim como nos dias anteriores, chegarem a esta villa armados differentes empregados do contrato do tabaco, de que é arrematante ou socio o dito Torres, vindo os ditos empregados de differentes pontos, não só do districto, mas tambem de fóra d'elle.

Que elle testemunha nesta villa só assistiu ás operações eleitoraes no segundo dia, e tanto pelo que então viu, como pelo que ouviu dizer a todos, sabe que aqui não appareceu força armada, pois apenas se achavam aqui treze soldados de infanteria e seis de cavallaria, que por impedidos não faziam serviço, e tanto que a guarda da cadeia fôra feita por policia.

Que alem dos factos referidos muitos outros se deram por onde se mostra que a opposição empregou todos os meios, ainda os mais illicitos, para ver se vingava o seu proposito, chegando até na assembléa de Andrães, d'este concelho, a empenhar-se para com o delegado do administrador do concelho na dita assembléa, José Manuel Ferreira, por intermedio de uma senhora viuva, D. Emilia, a quem aquelle é muito obrigado, a fim de ver se elle, como o unico representante do partido governamental na dita mesa, consentia em que a urna fosse falsificada, substituindo listas governamentaes por outras da opposição, e para isto até fizeram com que a dita senhora fosse ali ás duas ou tres horas, depois da meia noite, mas nada conseguiram; e na assembléa de Mouçós, deste mesmo concelho, houve tentativa de roubo da urna por parte da opposição, precedendo uma carta do bacharel Antonio Correia de Almeida Lucena, escripta a Luiz de Bessa Correia, a perguntar-lhe se queria que isto se fizesse, o que elle testemunha sabe por ser, publico e notorio, e tanto por esta rasão, como tambem pelo ver, sabe que o governador civil do districto era incançavel em recommendar, e tomar todas as medidas para a boa ordem e tranquillidade publica, e manutenção da liberdade eleitoral.

E mais não disse, e depois de lido é achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo, o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario que o escrevi e assigno. = Padre, José Justino de Carvalho = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

21. Manuel Joaquim da Rocha, presbytero, residente na freguezia de Santa Luzia do Amieiro, concelho de Alijó, de idade sessenta annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que fôra um dos escrutinadores na assembléa de Carlão, do seu concelho, aonde a eleição durou dois dias, no primeiro dos quaes viu e presenceou que se guardou a melhor ordem; mas como fossem muitos os votantes, e todos juntos difficultassem o accesso aquelles que iam sendo chamados, o presidente da mesa fez collocar dois soldados na igreja para fazer dar passagem aos votantes, sem haver a mais pequena alteração da ordem, e até á testa da gente da opposição estava, junto da urna, o bacharel Antonio Maximino Pinto Villela, da freguezia de Sanfins, com uma copia do recenseamento, fazendo notas de descarga, como faziam os da mesa.

Que ao pôr do sol se fechou a urna, que ficou na igreja a portas abertas, guardada por quatro soldados e alguns cabos de policia, e vigiada por pessoas dos dois partidos.

Que no principio da noite se ouviu um grande susurro fóra da igreja, dizendo o povo que ali se achava, que a pouca distancia vinha gente armada de Favaios, com o fim de fazer desordem e roubar a urna, e voltando-se para o dito dr. Antonio Maximino, a cujo partido se dizia pertencer aquella gente armada, lhe pedíra para que a fizesse dispersar senão queria ver uma forte resistencia, e responder depois pelas consequencias; que com effeito o mesmo doutor se dirigiu para o sitio d'onde vinha a dita gente, e desde logo aquietou tudo, espalhando-se a noticia de que aquelles homens armados se haviam retirado, assim como outros que para o mesmo fim vinham de Cheires e Sanfins, e com effeito havia todos os dados para crer que o seu proposito era o da desordem e roubo da urna, porque foi publico que em duas estalagens se esperavam com comida e vinho para elles de antemão preparada.

Que no resto da noite houve perfeito socego, e no dia seguinte procedeu-se á extracção das listas, mas já então ninguem appareceu representando a opposição, o que se attribuiu á desanimação com que ficaram, desde que viram malogrado o plano do ataque, que haviam projectado.

Que a auctoridade administrativa do concelho não exerceu pressão, nem violencia alguma directa ou indirecta, nem antes, nem ao tempo da eleição, e é tida, e havida, como muito benefica para os povos, e incapaz de commetter abusos, sendo certo que os regedores de parochia diziam que tinham d'ella as mais positivas ordens e instrucções para prevenirem e evitarem desordens, e manterem-a liberdade da eleição; e mais não disse, e depois de lido e achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario que o escrevi e assigno. = Padre, Manuel Joaquim da Rocha = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

22. Antonio Victorino da Mota, parocho da freguezia de Santa Comba de Sotto Maior, residente na mesma freguezia, do concelho de Sabrosa, de idade de sessenta e um annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que sabia pelo ver que dois mezes antes das ultimas eleições municipaes, andou o administrador do concelho e seus agentes pedindo votos, indo tambem a casa d'elle testemunha, que assim como outros se recusou, pois que já estava compromettido a fazer opposição á auctoridade por pedido de João Teixeira Ribeiro, ex-administrador do seu concelho, pessoa bemquista dos povos, e cuja demissão dada pelo governador civil Heredia, fôra mal recebida dos mesmos povos.

Que depois d'isto passou o administrador a empregar ameaças, com augmentos de contribuição a todos os que se manifestavam contrarios, e com o recrutamento dos filhos, vendo elle testemunha depois muitos dos seus parochianos collectados no dobro da contribuição industrial que d'antes pagavam, precedido isto de insinuação feita pela administrador para que se carregassem aquelles que lhe eram oppostos, segundo lhe disseram alguns dos proprios informadores.

Que por tres vezes fôra elle testemunha chamada a este governo civil, pedindo lhe então o chefe do districto para que o coadjuvasse nas ditas eleições, por entender que acquisição d'elle testemunha era muito importante em rasão da influencia que tem nos povos do seu concelho, porém que elle testemunha sempre se negou, e pela ultima vez o governador civil lhe dissera que ficaria sujeito ás consequencias futuras da sua recusa.

Que depois d'isto se fizera em conselho de districto no dia 17 de novembro, se bem se recorda, uma nova divisão das assembléas para aquelle conselho que de duas que sempre teve, a saber: Sabrosa e Provezende, passou a ter quatro o uma d'ellas com assentada em Gouvinhas, extrema sul do concelho, dando se por essa mesma occasião de suspeitos tres vogaes effectivos de conselho de districto para isto se fazer, como se fez com os substitutos.

Que na sexta feira anterior ao domingo da eleição é que se receberam as participações d'esta alteração de assembléas, e porque não houvesse até á eleição dia santificado para se publicarem na estação da missa conventual, deixou de se fazer tal publicação, a qual só teve logar no proprio domingo da eleição.

Que a assembléa a que elle testemunha, e a sua freguezia concorreu teve assentada em São Lourenço, e ahi viu que a eleição correu com regularidade, notando comtudo que o regedor da dita freguezia de São Lourenço ahi mesmo ao pé da urna entregou a dois eleitores dois papeis que dizia serem officios do administrador do concelho para os levarem aos seus destinos, e assim evitar que votassem, porém sendo-lhe isso estranhado não deixaram os ditos eleitores de votar.

Que o acto eleitoral não se concluiu n'aquelle dia, findo o qual se fecharam e guardaram as urnas na sachristia da igreja, que ficou exteriormente guardada por cabos de policia, e gente de ambos os partidos, e no dia seguinte só se pôde fazer a extracção e apuramento das listas dos vereadores, emquanto que as do juiz ordinario ainda ficaram para o terceiro dia, tendo-se apurado as listas dos vereadores, manifestando a maioria de 27 votos a favor do partido chamado governamental.

Que na segunda noite ninguem da opposição teve cuidado na guarda da urna, que dizia respeito á eleição do juiz ordinario, e no dia seguinte appareceu um resultado que não correspondeu á expectativa geral, pois que appareceram muitos menos votos do que aquelles que se contavam como certos da opposição, o que se attribuiu a falsificação feita de noite.

Que não assistiu ao que se passou na assembléa de Gouvinhas, mas levado do empenho que tinha na victoria da opposição, estava em correspondencia com os que ali, a representavam, e por elles soube que o presidente nomeado pela camara, chegando ali ás oito horas e meia da manhã já encontrou uma mesa constituida, tendo por presidente o bacharel Antonio Caetano de Mello Sampaio, a quem o nomeado pela camara entregou os cadernos que levava, ficando depois a presencear o modo como corria a eleição, a qual não se tendo concluido n'aquelle dia, ficou de continuar no seguinte, guardando o dito presidente Mello Sampaio as urnas em sua casa, para onde as fez acompanhar por alguns homens armados, e que no dia seguinte procedendo-se á extracção appareceram 256 listas na urna, 10 das quaes sómente eram da opposição, emquanto que na acta se mencionou o numero de trezentas e setenta ou trezentas e setenta e tantas, não sabendo se o presidente convidou para pernoitarem em sua casa e vigiarem as urnas algumas pessoas da opposição alem do já dito presidente nomeado pela camara, unico que sabe fôra convidado para isso.

Que pelo ter ouvido dizer ao proprio parocho de Gouvães, e a outras pessoas, sabia que na dita assembléa de Gouvinhas foram descarregadas no caderno respectivo como tendo votado differentes pessoas da freguezia de Gouvães, que ali não compareceram, e até duas que tinham fallecido e uma em que se acha presa.

Que finalmente quanto ás outras assembléas de Sabrosa e Provezende nada sabia que affectasse a regularidade da eleição, e mais não disse, e depois de lido e achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario que o escrevi e assigno. = Antonio Victorino da Mota = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

23.ª José do Carmo Azevedo Canavarro, casado, proprietario, residente na freguezia de Provezende, concelho de Sabrosa, de idade trinta e tres annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que fôra elle o presidente nomeado pela camara para a assembléa de Gouvinhas, mas que chegando ali já achou constituida uma mesa, presidida por Antonio Caetano de Mello Sampaio; vendo, elle testemunha, no seu relogio que eram oito horas e meia da manhã, perguntou admirado aquelle Mello Sampaio pelo titulo com que se achava ali presidindo, ao que elle respondeu, que fôra por acclamação, e que já passava das novas horas e meia no seu relogio, que n'este, acto apresentou.

Que, elle testemunha, vendo ali sómente gente de Gouvinhas, lembrou-se de se retirar com os cadernos e urnas, porém não o fez por alguem lhe ter dito que podia passar mal, e assim entregou as ditas urnas e cadernos ao presidente acclamado, o qual disse que já estava para os mandar pedir á camara.

Que depois d'esta entrega ficou ali presenceando o processo eleitoral, e notou que sob o pretexto de irem jantar os mesarios se demoraram muito tempo, dando a conhecer o empenho que tinham de que a eleição se não concluisse n'aquelle dia, e notou igualmente que foi admittido a votar um homem culpado em crime de morte.

Que n'esse dia se fez a extracção das listas, cujo numero total eram 256 para vereadores, e 255 para juiz ordinario, mas nenhum edital se affixou a publicar este resultado, apesar d'elle testemunha assim o ter requerido, vendo depois entrar grande porção de homens na igreja, e um creado do dito presidente lançar mão das urnas, e as levou para casa de seu amo, acompanhadas de quatro homens armados, não obstante elle testemunha ter requerido para ficarem na igreja, guardadas pela gente de ambos os partidos, sendo certo que o dito presidente a ninguem convidou para vigiarem as urnas em sua casa, pois só o fez a elle testemunha unicamente para jantar, convite que não aceitou.

Que no dia seguinte não foi á dita assembléa, e por isso não viu o que lá se passou, constando-lhe porém que n'esse dia é que se publicou por edital o dito numero de listas, em que se manifestavam 13 a favor da opposição, e todas as mais a favor da auctoridade, porém no domingo seguinte assistindo ao apuramento geral viu que na acta d'esta assembléa se mencionavam como votadas 330 listas, das quaes só 10 eram da opposição, o que tudo attribuiu a falsificação que se fizesse na urna, e que por ter visto as notas de descarga no respectivo caderno sabe que figuraram como votantes dois individuos de Paradella de Goiães, que já tinham fallecido, e outro que se achava preso.

Que, finalmente, sabia pelo ter ouvido dizer a pessoas dignas de fé, que no logar de Pinhãocel, freguezia da Torre do Pinhão andára nas vesperas da eleição o administrador do concelho, e seus agentes por alta noite ameaçando os eleitores d'aquelle logar, arrombando as portas de duas casas, indo ter com elles á cama aonde estavam com suas mulheres, e pondo-lhe pistolas á cara, o que elle testemunha acredita, attenta a idoneidade das pessoas que lh'o disseram.

E mais não disse, e depois de lido e achado conforme, vae assignar seu depoimento commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario, que o escrevi. = José do Carmo de Azevedo Canavarro = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

24.ª José Correia Marinho, casado, proprietario, residente na freguezia de Covas, concelho de Sabrosa, de idade quarenta annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que indo em companhia do presidente nomeado pela camara para a assembléa de Gouvinhas, do concelho de Sabrosa, chegaram ali ás oito horas e meia da manhã, como verificaram pelos seus relogios e pelos de outras pessoas que estavam presentes, e perguntando n'essa occasião o presidente nomeado ás pessoas que estavam em torno de uma mesa na igreja, o que isso representava, lhe foi respondido por Antonio Caetano de Mello Sampaio, que se tinha constituido a mesa por acclamação, sendo elle presidente, e isto porque sendo nove horas e meia não havia comparecido o presidente nomeado, ao que este replicou dizendo não ser exacta essa asserção, porque tanto no seu relogio como no de outras pessoas presentes eram por essa occasião oito e meia.

Que insistindo porém a mesa em funccionar, elle testemunha aconselhára ao presidente nomeado que entregasse os cadernos para evitar qualquer desordem, ao que elle annuiu.

Que a eleição corrêra regularmente até ao meio dia, recolhendo-se todas as listas dos votantes que se apresentaram.

Que a essa hora a mesa deixou de funccionar, por irem os mesarios tomar uma refeição.

Que sendo duas horas e parecendo extraordinaria a demora, mandára o presidente nomeado chamar o presidente acclamado e mais mesarios, e apparecendo só o presidente quando eram tres horas da tarde continuaram a esperar que apparecessem os outros membros da mesa, mandando-se chamar por varias vezes, e tocando-se até por ordem do presidente o sino para esse effeito.

Que algum tempo depois appareceram dois vogaes da mesa, não entrando um dos secretarios, porque elle testemunha vira, que um agente da mesa o mandára desapparecer, dando lhe saída por de trás da igreja.

Que sendo já bastante tarde se procedêra á contagem das listas, reconhecendo-se terem sido lançadas nas urnas 256 para a camara, e 255 para juiz ordinario, e que dizendo-se por esta occasião que era sol posto, se fecharam as urnas, e agitando-se n'esta occasião questão sobre o modo porque deveriam ser guardadas, entrava precipitadamente na igreja um troço de cincoenta homens desarmados, e após estes quatro armados, e juntamente um individuo que era creado de um parente do presidente Mello Sampaio, e chegando-se todos á mesa dizendo «arreda» o dito creado pegára na urna, e a conduzira para casa do referido presidente, o qual acompanhou esta deligencia.

Que lhe consta que no dia seguinte se fizera a extracção