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Em virtude de resolução da camara dos senhores deputados se publica o seguinte

(Continuado do numero antecedente)

46.ª Manuel José Borges Fernandes, viuvo, proprietario, residente na freguezia de Tellões, do concelho de Villa Pouca de Aguiar, de idade de cincoenta annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto da syndicancia, disse:

Que a camara de Villa Pouca fizera uma divisão de assembléas em que se satisfazia á commodidade dos povos, mas que havendo recurso do administrador para o conselho de districto, dando ao mesmo tempo de suspeitos os tres vogaes effectivos do conselho, por este tribunal fôra attendido o recurso em ambas as partes, posto que os referidos vogaes suspeitados nenhuma influencia tivessem no concelho de Villa Pouca, como fôra allegado, e assim ficaram estabelecidas só tres assembléas, em que se não attendia á commodidade dos povos, por isso que Tellões era levada a votar a Pensalvos, que lhe fica a uma grande distancia, passando pelas assembléas de Villa Pouca e de Bornes, acontecendo o mesmo á freguezia de Vreia de Jalles, que passando por Villa Pouca foi votar a Bornes.

Que o administrador do concelho para extorquir votos nas vesperas da eleição empregára violencias e ameaças, sendo certo que entre outros casos, mandára embargar os dinheiros devidos a um recruta refractario na mão dos devedores pelo dito recruta haver fugido, mas que convindo-lhe o voto do amo, não só consentiu que o recruta para ali voltasse, mas em sua presença lhe fizera entrega das dividas embargadas.

Que a Francisco Pinto da Freixeda fôra pedir o voto, e como este lh'o negasse, o espancára.

Que sabe que o presidente da mesa da assembléa de Bornes requisitára força do general, o que este lhe respondêra que se entendesse com o administrador do concelho, em harmonia com as instrucções do governador civil, e que officiando ao administrador, este lhe dissera que se entendesse com o regedor.

Que elle testemunha fôra votar á assembléa de Pensalvos, e chegando ali pela volta das oito horas e meia da manhã, não só já achou constituida uma mesa, mas até lhe constou que a eleição estava tão adiantada que já estavam correndo as duas horas de espera, como presenceou, sendo essa mesa presidida por José Xavier de Miranda, e tendo se servido de cadernos fornecidos pelo governo civil.

Que havendo certa contestação entre aquelle presidente e sua mesa e o nomeado pela camara, estranhando este ultimo que se tivesse constituido uma mesa tão illegalmente e a hora tão impropria, e como aquelles mesarios não acedessem a estas reflexões, foi o dito presidente nomeado constituir a sua mesa para outro logar da igreja, onde se procedeu regularmente a eleição.

Que elle testemunha vira na igreja um relojo de sala posto ahi pelo regedor da freguezia, o qual já marcava sete horas da tarde, e ainda havia bastante sol.

Que lhe consta por pessoas fidedignas que na assembléa de Bornes se praticaram muitas irregularidades, não sendo obedecido o presidente da mesa.

Que o regedor e o mestre escola da freguezia de Capelludos abriram alas na capella para que os eleitores por ali passassem com as listas levantadas, remettendo contra o eleitor Madureira por lhe observar que isso era illegal.

Que ali se praticaram por parte destes outros disturbios declarando elles que tinham carta branca do governador civil e administrador do concelho para procederem assim, dando lhe vivas em seguida.

Que ali andava muita gente armada, sem serem eleitores, ás ordens do regedor da freguezia e do delegado do administrador Francisco de Assis Teixeira.

Que defronte da assembléa estava collocada uma pipa de vinho por ordem dos agentes do administrador, e que quando se tratava de guardar a urna, proximo á noite, em casa do padre Lino, houvera grande desordem provocada pelo reitor de Bornes e padre Caetano Borges de Faria, chegando a ser ameaçados e perseguidos Paulo Canavarro e Antonio de Sousa Machado, e prendendo-se por essa occasião dois creados daquelle Paulo Canavarro, estando presente o administrador do concelho, tendo sido conservados na cadeia por espaço de tres dias, soltando-os sem processo.

Que ali apparecêra o tenente Ribeiro de infanteria n.° 13, e que tomára conta da urna das mãos do padre Francisco Borges de Faria e Urbano José Rodrigues, que a disputavam.

Que no dia seguinte faltando uma parte dos mesarios, assim mesmo procederam ao apuramento, constrangendo o presidente a ir lá, insultando-o por essa occasião.

Que no acto da contagem das listas, a qual não era feita pelos mesarios, se trocavam umas listas por outras, estando coactos o presidente da mesa e o escrutinador Madureira, que viam e callavam.

Que indo elle, testemunha, a Chaves apresentar ao general commandante da divisão um requerimento exigindo que um sargento e um cabo, que haviam estado em Pensalvos, lhe passe um attestado da hora a que se constituiu a primeira mesa, pelo general lhe foi dito que não era uso passar taes attestados, e que se os ditos sargento ou cabo os passassem, que os havia de perder.

E mais não disse, e depois de lido vae assignar commigo o bacharel Guilherme Marcellino da Costa Ramos, secretario, que o escrevi. = Manuel José Borges Fernandes = Guilherme Marcellino da Costa Ramos.

47.ª João Chrysostomo de Sousa Machado, presbytero, residente na freguezia de Tellões, do concelho de Villa Pouca de Aguiar, de idade trinta e sete annos, testemunha jurada aos Santos Evangelhos e em fórma devida.

Perguntado sobre o assumpto de syndicancia, disse:

Que dirigindo-se á assembléa de Pensalvos, onde era eleitor, ali chegára pela volta das oito horas o meia da manhã, encontrando já a mesa formada, e a votação adiantada, e levantando-se ali questão da parte de alguns eleitores da opposição por não ser aquella mesa legalmente constituida, de prompto foram abafadas as suas vozes pelos clamores dos mesarios, do reitor de Pensalvos, do regedor, e d'outros que até não eram votantes.

Que applacando-se todavia o tumulto, se formára outra mesa com o presidente nomeado pela camara e que ali corrêra a eleição regularmente, não obstante pretender-se levantar desordem algumas vezes por parte de um capador da freguezia de Parada de Monteiros, o qual dizia que tinha o administrador a seu favor.

Disse que o administrador praticára actos de violencia ameaçando com o recrutamento, como aconteceu com Manuel Machado e Piolêdo, ambos da freguezia de Gouvães, a quem disse que se não votassem com elle lhes havia de prender os filhos, posto que estes já estavam livres.

Que tendo mandado prender como refractario um creado da Manuel Machado, da freguezia de Villa Pouca, e tendo elle fugido, o administrador mandára embargar quantias que lhe eram devidas, na mão dos devedores, e que por pedir o voto a Manuel Machado, lhe deixára ir para casa o recruta, e permittirá que se lhe entregasse o dinheiro embargado a troco do voto do dito Machado; ameaçando a outros com as decimas, e praticando outros actos de violencia, como foi offender corporalmente um individuo por lhe ter negado o seu voto.

Que sabe que o presidente da assembléa de Bornes requisitára força ao general, respondendo lhe este que a requisitasse ao administrador, o qual não quiz satisfazer a esta requisição.

Que lhe consta tambem que na assembléa de Bornes houvera muitas irregularidades, dizendo os agentes do administrador que tinham carta branca d'este e do governador civil para fazerem o que quizessem.

Que o administrador vinha a Villa Real receber frequentes vezes as instrucções do governador civil; que a alteração das assembléas tinha sido requerida por elle, e d'aqui levara os cadernos que serviram na primeira mesa de Pensalvos, sendo identicos cadernos negados pelo governador civil para a Regua.

Que a requerimento do mesmo administrador foram dados de suspeitos tres vogaes effectivos do conselho de districto, para ter logar a alteração das assembléas de Villa Pouca, que ficaram sendo muito menos commodas do que as designadas pela camara, por isso que Tellões foi votar a Pensalvos, que lhe fica a grande distancia, passando por Villa Pouca e por Bornes.

Que lhe consta que o administrador na assembléa de Villa Pouca impunha listas á bôca da urna.