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1925

Discurso do sr. deputado Cortez, pronunciado na sessão de 6 de agosto, e que devêra ter sido publicado no Diario n.° 176, a pag. 1902, col. 2.º

O sr. Cortez: — Sr. presidente, pedi a palavra para chamar a attenção do governo para o estado em que se acha a provincia, da qual represento um dos circulos, da provincia do Algarve.

Usando da palavra não imagine V. ex.ª que eu vou fazer um longo discurso. Não o faço, porque nem a conjunctura o permitte, nem eu sou orador. E ainda que o fosse, ainda que podesse dispor da eloquencia irresistivel e olympica de Demosthenes, ou da pomposa e elegantíssima de Cicero; ainda que eu possuisse a facundia invejavel que admiro em muitos dos meus nobres collegas, ainda assim o não faria. Serei pois breve nas poucas e, porventura, incorrectas palavras que vou pronunciar. (Vozes: — Muito bem.)

Quando, ha tres ou quatro dias, pedi a palavra sobre a questão do caminho de ferro do sueste, foi porque entendi que devia cumprir o meu dever como um dos representantes d'aquella provincia...

O sr. Presidente: — Eu deixo fallar o sr. deputado emquanto a camara mostrar que consente que falle; mas sou obrigado a observar-lhe que o contrato do caminho de ferro de sueste esta votado.

O Orador: — Como é que v. ex.ª póde appellar para a camara? Como é que a camara póde ser juiz sobre o que eu vou dizer, se a camara e v. ex.ª ainda o ignoram?

O sr. Presidente: — Póde usar da palavra. Faço-lhe apenas esta advertencia.

O Orador: — Posso usar da palavra! Mas para que é essa pretendida concessão, se v. ex.ª não me podia retirar a palavra senão quando eu pretendesse fazer uma declaração de voto e o fundamentasse. Não faço isso; estou fazendo considerações que me parecem de summa importancia para a provincia que represento; estou pois plenamente no meu direito. V. ex.ª não m'o póde contestar. Respeito muito a v. ex.ª e ás decisões da camara, comtanto que v. ex.ª ou ella não ataquem os meus direitos. Dizia eu que, quando ha tres dias ou quatro tinha pedido a palavra sobre a questão do caminho de ferro de sueste, o tinha feito pelo desejo de cumprir o meu dever como deputado pelo Algarve, defendendo os seus interesses, tanto quanto m'o permittissem as minhas modestas forças, na discussão d'aquelle momentoso assumpto; porque inquestionavelmente os interesses do Algarve, que represento, estão n'elle gravemente compromettidos.

A questão porém, sr. presidente, correu, encerrou-se, a palavra não me chegou e eu não pude tomar áparte no debate. Não é portanto agora occasião de eu fazer considerações a esse respeito. O que em verdade me não penalisa, sr. presidente, porque de certo eu nada poderia juntar ás joias de erudição e talento que os meus collegas derramaram profusamente na téla do debate...

O sr. Barros e Sá: — Isso é que é joia de eloquencia.

O Orador (dirigindo-se ao sr. Barros e Sá): — Não é eloquencia, é só verdade e justiça.

Dizia eu, sr. presidente, que nada poderia acrescentar; demais a questão ha de voltar a esta casa, e então a fortuna talvez me seja mais propicia.

Não é pois hoje, sr. presidente, occasião como era hontem para eu como deputado pelo Algarve vir trazer ao seio da representação nacional as rasões por que os interesses d'aquella provincia e do Baixo Alemtejo devem ser particularmente attendidos na resolução que se tomar sobre o accordo do caminho de ferro de sueste. Devem se-lo; têem incontestavel direito a se-lo.

A provincia do Algarve, e só me occupo d'esta, tem os titulos d'esse incontestavel direito, note-o V. ex.ª e a camara, na inexplorada riqueza do seu solo, na amenidade do seu clima, na feracissima productividade das suas costas, e devo acrescentar, nos feitos dos seus filhos que têem sabido escrever os seus nomes nas paginas mais gloriosas d'esta velha terra de Portugal. Digo-o desassombrado, porque ahi estão as provas patentes a todos.

Se hoje fosse occasião opportuna, sr. presidente, eu, avo-