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1516 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

desgostos, e, sujeito a mais violentas e injustas accusações, e calumnias não tiveram outra mira que não fosse o bem publico, e, deixar aos successores trabalhos menos espinhosos.
Procuraram-se os meios de reduzir as despezas publicas, atacando-se interesses mais ou menos justificados, fecharam-se as portas aos candidatos a empregos, imposeram-se duros sacrificios aos funccionarios e contribuintes. Foi a cruel lei da necessidade. (Apoiados.)
Portanto, já vê o illustre deputado, que quem precede assim, pode deixar, de si, outro sentimento, mas nunca, o da saudade. (Muitos apoiados.)
Se o illustre deputado tivesse, em vida do bispo de Vizeu, percorrido as provincias, se se tivesse demorado algum tempo, nos ultimos recantos d'este paiz - d'este paiz, onde, para o povo, os nomes dos ministros, raro, ultrapassar as barreiras das cidades - encontraria, nos mais rudes lavradores, nos mais humildes proprietarios, n'aquelles que passam a vida acorrentados ao torrão natal regando-o cor o seu suor, um culto ardente para com o bispo de Vizeu, e haveria a prova de que, em torno d'elle, se tinha formado uma lenda, tão respeitosa, como sympathica, de respeito pelo seu caracter, de sympathia pelo seu coração. (Muitos apoiados.)
Se, mais tarde, o illustre deputado tivesse ido, em piedosa romaria, como eu, e, muitos collegas que aqui estão, fomos, a Vizeu, assistir aos funeraes d'aquelle illustre e honrado cidadão, teria presenciado um espectaculo que, por certo muitos annos que o illustre deputado viva, não poderia vir a esquecer.
Ali, ao cerrar da noite, no cemiterio, onde concorreram milhares de pessoas, teria visto bem patente, na commoção de todos, que, não era só, o homem simples e bom, o prelado virtuoso o bemfazejo, mas tambem o cidadão, cujo nome symbolisava as aspirações do paiz, que todos pranteavam, e, que, o que descia á terra, não era só um cadaver, mas tambem uma esperança! (Muitos apoiados.)
Felizes nós - feliz da nação! - se hoje, podesse alguem, á similhança do ultimo dos Gracchos, que expirante, lançou ao ar - na phrase do orador - o pó de que nasceu Mario, arrombar a lousa que cobre as cinzas do bispo de Vizeu, e, lançando-as aos quatro ventos do paiz chamar a vida cidadãos, como elle, grandes pelo espirito e pelo coração! (Muitos apoiados. - Vozes: - Muito bem.)
Mas o illustre deputado vae ver algumas das rasões porque o bispo de Vizeu não deixou saudades. Estão no orçamento rectificado, que elle apresentou ao parlamento.
Em 3 de Janeiro de 1869 tinha sido apresentado o orçamento geral.
O governo havia sido auctorisado, por uma lei anterior de 9 de setembro de 1868, a reformar todos os serviços, effectuando n'elles as necessarias reducções e economias.
As camaras foram depois, como se sabe, dissolvidas; e em 20 de maio apresentava-se ao parlamento o orçamento rectificado, que, já disse, não era o primeiro, porque já tinha sido anteriormente, pelo sr. Dias Ferreira, apresentado um outro, mas fui um dos primeiros. A lei que havia auctorisado as despezas fôra a de 26 de junho de 1867.
Ora n'este orçamento rectificado comparando-se a situação anterior, com a, d'elle constante, lê-se o seguinte:

[Ver Tabela na Imagem]

«Importam as economias em ....
«Additando as reducções a que me refiro, approximadamente ....
«Temos uma diminuição de ....
«As receitas creadas desde setembro de 1868, provenientes do caminho de ferro do sul, emolumentos consulares e do thesouro publico, das capitanias dos portos e emolumentos de saude, são calculadas em ....
«Sommam estas verbas ....
«Porém como a despeza com os encargos da divida cresce sempre, e desde 1867 tem augmentado, não só pela emissão do emprestimo externo, mas por emissões successivas de titulos da divida publica interna, e evidente que estas reducções e augmentos da receita não influem de modo a diminuir consideravelmente a cifra do deficit, que alias estaria hoje muito reduzido se não fôra esta rasão.»
2.128:101$237 réis de differença para menos no orçamento rectificado! (Apoiados.)
Eis o exemplo de um orçamento rectificado, accusando na despeza uma differença para menos da que estava calculado. (Apoiados.) 2.000:000$000 réis, que não podiam deixar duas mil saudades. (Riso)
E, n'esta quantia, incluia-se o vencimento de um dos ministros, porque o bispo de Vizeu, - ou melhor, a administração de que elle fazia parte - se cortou cerce todas as verbas do orçamento, que, reputava superfluas, ou, ainda de uma utilidade, apenas relativa, cortava tambem os vencimentos dos proprios ministros.
Esse ministro não tinha, que eu saiba, bens de fortuna, e foi o proprio que referendou o decreto da abolição do conselho geral de instrucção publica, cujo era membro. Graças aos céus, porém que, assim como quasi todas as outras verbas, então cortadas, figuram já no orçamento, a respectiva a tal conselho tambem já foi restaurada!
Foi a ultima, creio, e, para essa restauração, por certo que nada concorreu o ex-ministro, que a havia cortado, e, que nem da nova junta de instrucção publica, que ahi se organisou, ficou fazendo parte. E, eu, folgo muito de ter esta occasião, de prestar a devida homenagem ao sr. Latino Coelho, cujo talento e muito grande, mas cujo caracter e ainda maior, sentindo a sua falta no parlamento, e lamentando - mas tirando d'isso licção - que elle houvesse de tomar uma attitude que é um protesto eloquente contra a política que ultimamente se tem seguido.
Mas não foi só elle, o unico ministro que ficou, depois de o ser, em peiores condições. Outro ministro, igualmente digno e honesto, entendeu dever abandonar a alta posição que occupava na administração n'este paiz, retirar-se para a terra da sua naturalidade, e viver, ahi, só com os seus rendimentos. Refiro-me ao sr. Pequito de Andrade.
Ora aqui tem s. exa. porque a administração do bispo de Vizeu não deixou nem podia deixar saudades.
O orçamento de 1869 para 1870 accusava, pois, como disse, 2.128:000$000 réis, numeros redondos, para menos; e insisto de novo, estes 2.128:000$000 réis, não chegavam para cobrir os encargos da divida externa e interna contrahidos para solver responsabilidades anteriores a administração de 1869-1870.
Examinemos agora outro orçamento rectificado. E o seguinte, o de 1870-1881.
O orçamento geral havia sido apresentado em 3 de Janeiro de 1869, em seguida foi, tambem, dissolvida a camara, o gabinete, de que era presidente o illustre duque de Loulé, apresentou, a nova camara, um orçamento rectificado em 20 de maio de 1869.
Tinha tambem havido uma lei, a de 23 de agosto de 1869, pela qual o governo fôra auctorisado a reorganisar os quadros e serviços publicos de modo a simplificar estas e a reduzir a respectiva despeza. E, antes de continuar, direi, que quando me refiro a esta auctorisação, devo ser tido, completamente, como insuspeito, por isso que, apesar de deputado, quando foi concedida ao governo, nenhuma responsabilidade n'ella tive. Essa auctorisação fazia parte de uma lei de meios, e eu votei, na commissão de fazenda e no parlamento, contra ella.
Quando, n'uma outra discussão, me referi a esta auctorisação, um illustre deputado levantou-se, e, disse que por virtude d'ella, o governo tinha augmentado as despezas. O sr. Luciano de Castro, e eu; protestamos contra tal asserção.