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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

priados á defeza, que debalde procura n'esta situação deploravel.

Tambem é esse, creio eu, o unico meio que o governo póde ter de escapar ás accusações que se lhe têem feito, e que em vista dos documentos apresentados ficam sem defeza possivel.

O governo intromette tambem na discussão o seu ex-governador civil de Coimbra, não para combater os documentos, não para o defender das accusações que se lhe fazem, e que elles provam, mas principalmente e de proposito para vir accusar com tardio zêlo os ministros da dictadura, especialmente o ministro das tres pastas, pelo seu procedimento eleitoral e politico n'uma epocha que passou. Triste recurso invoca o governo na sua posição desesperada!

Este meio, muito conhecido e muito usado, não póde aproveitar. Accusações dos outros não são defeza propria. Defendam-se agora os que agora são accusados. Accusem depois, se quizerem, mas não confundam as accusações, que são distinctas e separadas.

Nós não tratâmos agora de saber qual foi o procedimento da dictadura, nem nos importa averiguar hoje qual foi o procedimento de todos os ministerios que passaram; tratâmos unicamente de accusar o ministerio actual pelos seus abusos e pelos crimes proprios praticados nas eleições, que ultimamente tiveram logar.

Tem o governo coragem e meios de se defender d'estas accusações? Defenda-se, destrua todas ás accusações que se lhe fazem, invalide os documentos, desminta as provas, confunda os accusadores. Se o peso do proprio crime o esmaga, se a voz da sua consciencia o condemna, se não tem coragem, se lhe faltam todos os meios de defeza, confesse.

Confesse?!... Já confessou. O réu que não contraría, quando tem interesse e, obrigação de contraria, confessa tacitamente. Nós temos já a confissão tacita, que transparece d'entre os arrojos incriveis com que o desespero da propria causa leva o accusado á insolita tentativa de se transformar em accusador. Reum habemus confitentem.

Confesse, mas confesse contricto e humilde, de fórma que o seu arrependimento possa aproveitar-lhe como attenuante das gravissimas culpas

Não venha, porém, o governo, nem intrometta o seu delegado a querer illudir ou desviar a attenção das accusações directas, que só a este governo são feitas, com uma supposta accusação contra os ministerios ou contra as dictaduras anteriores.

A este respeito eu posso declarar-me inteiramente insuspeito. Tanto da organisação, como dos actos da ultima dictadura eu fui simples espectador, mais ou menos indifferente, mas sempre completamente estranho a todos os actos politicos d'essa epocha.

Nas eleições, em que essa dictadura consultava o paiz, eu tinha retirado pela imprensa a minha candidatura e manifestei logo e terminantemente o meu proposito firme e inabalavel de retirar-me do parlamento.

N'este ponto devo explicar-me com toda a clareza, para que possa avaliar-se o alcance d'este meu procedimento.

A recusa da eleição, que n'aquella epocha eu vim fazer publicamente pela imprensa, não significava que desistia ou prescendia de pedir ou de solicitar, como especial mercê ou favor de qualquer governo, a concessão de um circulo eleitoral, onde esse governo apresentasse, ou me deixasse apresentar a minha candidatura, não aos votos dos eleitores, mas á influencia das auctoridades; não significava nada d'isso: significava pelo contrario, que era eu que espontaneamente deixava vago um circulo, pelo qual tinha a certeza plena e absoluta de ser eleito pela vontade dos eleitores, sem compromissos de especie alguma o sem ter que attender á vontade de mais ninguem.

Esse circulo eleitoral, em que me glorio de ter nascido e que me honro de ter representado, elegeu sempre livremente, desde que o direito eleitoral se exerce n'este paiz.

Ainda agora acabou de mostrar como sabe eleger contra todos os abusos e todas as tentativas de qualquer governo.

Ora, um circulo que não faz isto só agora, nem só a mim, mas que o tem feito constantemente, porque nunca aceitou imposições de governo algum; um circulo que escolhe livremente os homens que lhe parecem mais competentes, e que os elege com absoluta independencia, do que póde dar testemunho o sr. Mártens Ferrão, uma vez por ali proposto, quando se julgava arriscada a sua candidatura por outro circulo, e por ali eleito sem que para isso concorresse influencia alguma do governo; um circulo habituado e investido na posse permanente de impor os candidatos ao governo, e de não aceitar do governo imposição nem indicação de genero algum; um circulo n'estas condições parecia predestinado para dar uma lição monumental no orgulho e na vaidade do sr. ministro do reino, que a levou tão severa, como a merecia.

O sr. marquez d'Avila foi humilde o supplicante, primeiro diante de um homem de bem, que recusou ceder ás suas instancias, e depois diante de um partido politico implorar que, para obrigar aquelle cavalheiro, lhe estendessem a mão de protecção. Como questão de governo e de lealdade eleitoral exigiu ao partido que resolvesse, ou coagisse, a deixar-se propor um cavalheiro respeitabilissimo, meu antigo collega e amigo, a quem muito respeito pelas suas excellentes qualidades, e ao qual dei perante os eleitores do circulo, durante a eleição, e tanto antes como depois d'elle retirar a sua candidatura, as maiores provas de estima e de consideração de que esse cavalheiro é incontestavelmente digno.

Mas o sr. marquez d'Avila não se limitou a curvar-se humilde e supplicante, implorando como supremo favor a concessão de um nome, digno e honrado, para oppor ao meu. Fez mais. Illudiu e enganou o homem honrado, que a muito custo cedeu ás instancias dos seus amigos politicos, promettendo-lhe como certo, seguro e infallivel, o apoio de influentes, que não podiam deixar de o hostilisar, desde que eram elles os que mais se empenhavam a favor da minha eleição.

Prometteu lhe solemnemente o apoio d'esses influentes em Celorico de Basto, obrigou-o a escrever-lhes, e, illudindo-o, sujeitou-o a receber respostas, todas honrosas para esse cavalheiro, mas todas desfavoraveis á sua eleição, que o obrigaram a desistir da candidatura vinte dias antes do designado para a eleição geral.

O sr. ministro do reino não quiz deixar publicar essa desistencia, e recusou-se a communica-la officialmente, porque no seu furor cego e crescente queria obrigar aquelle nome honrado a soffrer uma derrota eleitoral, que seria altamente significativa, ainda que a significação se dirigisse só e directamente ao governo, que todos os eleitores consideram ali inepto e nefasto, e não ao candidato que todos estimam e respeitam.

Emquanto o candidato instava para que o governo mandasse retirar a candidatura, o sr. marquez d'Avila insistia e teimava em a conservar, e os seus agentes, seus dignos representantes no districto e no circulo, punham em hasta publica os livramentos dos recrutas, as diminuições do imposto, todas as violações das leis de administração, offereciam um logar de secretario, geral, um baronato, empregos publicos, e até a insigne e revoltante impostura de que o governo, em troca da eleição, mandaria construir por conta do estado uma estrada já estudada e approvada como districtal!

Para levar o escandalo, ao ultimo excesso os agentes do governo obrigavam-se a entregar os decretos aos interessados no dia da eleição, talvez á bôca da uma!

Tudo foi inutil. O candidato, meu honrado antagonista, vendo-se enganado e burlado pelo governo, veiu elle mesmo pela imprensa desistir da candidatura.

Todos os influentes, sem excepção de um só, repelliram com indignação e com desprezo as offertas com que a ad-