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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr. Presidente: — Permitta-me o illustre deputado uma interrupção. Eu não desejo por fórma alguma coarctar a palavra aos srs. deputados para fallarem, e sobretudo antes da ordem do dia e exporem á camara o que tiverem por conveniente sobre os pontos de que se quizerem occupar; mas o illustre deputado está a referir-se a uma eleição que já foi approvada pela camara, e nós não podemos estar todos os dias a discutir antes da ordem do dia uma eleição já approvada (apoiados). O proprio cavalheiro a quem o sr. deputado se referiu, se estivesse presente seria o primeiro talvez que não quereria que se estivesse a fallar d'ella (apoiados). Mas o illustre deputado póde continuar no uso da palavra que tem para antes da ordem do dia.

O Orador: — Sim, senhor, posto me assista a liberdade de fallar sobre os assumptos que eu melhor julgar, não me demorarei.

São pouquissimas as observações que me restam a fazer, mas antes d'isso permitta-me v. ex.ª que discorde da sua opinião e lhe diga, que se o sr. Coelho do Amaral estivesse presente, e depois das ultimas palavras que proferiu o sr. Fortunato das Neves, seria elle o primeiro que se levantaria para tratar d'este assumpto (apoiados). Direi ao illustre deputado, que está muito mal informado ácerca do que se passou n'aquella assembléa. O illustre deputado talvez ignore que dentro mesmo da igreja se deram morras ao sr. Coelho do Amaral e se gritou ás armas; que houve motins e motins graves e tão graves que foi preciso requisitar força armada e interromper os trabalhos eleitoraes na fórma determinada na lei eleitoral. E esses motins progrederiam mais, se não fosse a posição serena e firme que tomaram os eleitores de Santar. Os factos passaram-se como venho de referir e constam das actas da respectiva assembléa.

Disse o illustre deputado que não se praticaram violencias, que tudo correu regularmente! Eu não digo que se praticassem os factos que se praticaram em muitas outras eleições, mas para provar a liberdade e tolerancia que houve na eleição do circulo do Carregal, vou narrar um facto que bem mostra a regularidade dos actos eleitoraes.

Na povoação de Villar Secco havia uns poucos de individuos que eram amigos, outros devedores a um cavalheiro muito honrado e muito respeitado, cujo nome não tenho duvida em citar, pois é elle bem conhecido de alguns dos deputados do districto de Vizeu, e o sr. Albino Paes da Cunha (apoiados). Este cavalheiro desejava favorecer quanto estivesse ao seu alcance a eleição do sr. Coelho do Amaral, como toda a sua familia a favorecia. Dirigiu-se elle a Villar Secco, com seu sobrinho e meu amigo, o sr. dr. Paes da Cunha; entraram na casa de um, creio que seu amigo ou pelo menos conhecido, para ahi mandarem chamar as pessoas a quem desejavam fallar. Aconteceu que pouco depois de ali se acharem, entraram por a porta dentro da casa onde estavam alguns cavalheiros da localidade...

O sr. Monteiro: — Cavalheiros?!

O Orador.: — Cavalheiros, sim, senhor, embora transviados por a paixão que os cegava. Alguns d'elles conheci eu. Repito, entraram alguns cavalheiros, e cuido mesmo que o administrador em exercicio, ou pelo menos um seu irmão, e começaram altercando e censurando o irem ali pedir votos. Esta altercação tomou maiores e serias proporções, o que obrigou o sr. Albino Paes e seu sobrinho a saírem de casa, passando por meio da multidão que se tinha agglomerado á porta da casa, não sem algumas ameaças, e obrigando-os assim a não pedirem aos eleitores a que tencionavam dirigir-se. Ora, tudo isto era em nome da liberdade. Pois a não ser a attitude energica do sobrinho d'aquelle cavalheiro, o sr. dr. Paes da Cunha, é de presumir que as cousas se não passassem tão pacificamente.

Julgou-se feliz o sr. Albino Paes, e meu honrado amigo, por saír incolume d'aquella refrega, e não lhe ficaram desejos de lá voltar.

Ora, é uma cousa sabida de todos que o circulo do Carregal estava em uma especie de sitio; era prohibido pedirem-se votos a favor do candidato que não fosse o candidato governamental. Não quero alongar-me n'este assumpto; unicamente direi que estimo que fosse mesmo o illustre deputado que fizesse justiça ás qualidades que possue o sr. Coelho do Amaral, e estimo tanto mais, quando é certo que a apreciação de s. ex.ª é insuspeita.

Mas s. ex.ª, que tem tanto amor aos principios liberaes, parece-me que não mostrou muito esse amor, lançando o circulo do Carregal em uma luta tão violenta e cheia de excessos, quando s. ex.ª tinha uma candidatura certa por outro circulo. Podia evita-la perfeitamente, e nós tinhamos aqui mais um homem liberal que havia de acompanhar s. ex.ª em todas as manifestações pela liberdade, á qual diz, e eu creio, professa tanto amor. E se a popularidade de s. ex.ª n'este circulo era tanta, era melhor não se ter proposto por o de Penacova, porque evitava nova eleição, novos incommodos para os povos e novas immoralidades, que são o resultado d'estas repetidas eleições.

Sr. presidente, parece-mo que a popularidade do illustre deputado, que eu sei que tem em Santa Combadão, se ámanhã fosse opposição, estava summamente cerceada. Nada mais direi sobre este assumpto.

Passando a outro, visto que estou com a palavra, farei algumas pequenas observações.

Fiz ha muito tempo um requerimento em que pedia esclarecimentos ao governo ácerca da estrada mandada fazer no meu circulo, de Mangualde a Penalva do Castello.

Eu disse n'essa occasião que esperava justificar o governo da accusação que era feita, de que esta estrada tinha sido mandada construir com fim eleitoral; pois, sr. presidente, são mandados os documentos officiaes por tal fórma deficientes que não satisfazem ao requerimento, o que me faz persuadir que é verdade o que os povos diziam por toda a parte — que tinham sido ali mandados os engenheiros, para com isso angariarem votos (apoiados).

Eu tinha pedido que se me dissesse qual era a verba auctorisada devidamente, em virtude da qual se tinha pago a esses engenheiros; pois é aquillo que se me não diz; por consequencia, fico sem saber se existia ou não verba destinada, e por consequencia, se foi legal o pagamento feito a esses empregados, e se foi ou não pretexto a ida d'elles áquelle circulo. Mando portanto um requerimento para a mesa, em reforço d'aquelle que já fiz, e no qual peço que me sejam dados os esclarecimentos de que preciso com relação a este assumpto.

Hoje estou convencido de que effectivamente por fins eleitoraes é que se mandaram fazer aquelles estudos, e lamento que se fosse fazer aquella offensa realmente grave ao bom senso d'aquelles povos na epocha em que estamos, porque ha muitos annos que já passou de moda hastearem-se as bandeirolas com o fim de servirem de beleguins eleitoraes.

Sr. presidente, peço a urgencia do meu requerimento, porque me são indispensaveis os documentos que reclamo para, fundado n'elles, dirigir uma accusação ao governo, por isso nada mais digo a este respeito.

Já que estou no uso da palavra continuarei para renovar a iniciativa do projecto de lei que foi aqui apresentado na sessão de 20 de maio passado, que tem por fim considerar estrada directa, para os effeitos da lei de 15 de julho de 1862, a estrada de Mangualde a Gouveia.

Este projecto era assignado pelos meus antigos collegas e amigos os srs. Julio Rainha e Coelho do Amaral e por mim. Renovo agora a iniciativa d'elle, e chamo para este ponto a attenção do illustre ministro das obras publicas.

O sr. Andrade Corvo, quando esteve no governo, como ministro das obras publicas, percorreu esta mesma estrada, que é cheia de precipicios e perfeitamente inviavel (apoiados), e reconheceu tanto a importancia d'ella que foi o primeiro a declarar que devia ser considerada como estrada de 1.ª ordem e feita por consequencia á custa do estado. Infelizmente, para á feitura d'aquella estrada, aquelle cavalheiro