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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DETUPADOS

no Diario da camara, e era melhor que o nobre deputado se tivesse dado ao trabalho de o examinar bem antes de o combater.

V. ex.ª ouviu o nobre deputado, e peço licença para tirar partido d'esta circumstancia. V. ex.ª ouviu o nobre deputado, e a camara ouviu-o tambem. Durante tres sessões o illustre deputado não fez senão injuriar o ministerio, ou para melhor dizer, o presidente do conselho. Mais ainda. Para obter este fim, recorreu o illustre deputado ás asserções as mais absurdas e as mais inexactas. Não ha uma só que não esteja em contradicção com os factos. E apesar d'isso eu o ouvi com toda a attenção, sem nunca o interromper. E agora o illustre deputado está a interromper me a cada instante, sem poder supportar a minha resposta (apoiados).

Peço ao illustre deputado que tome o exemplo que eu lhe dei...

O sr. Visconde de Moreira Rey: — Não é preciso.

O Orador: — Não é preciso? Estimarei bem que o não seja, mas não me parece.

Torno a dizer, durante tres dias o illustre deputado não fez senão dirigir-me injurias. S. ex.ª ainda hoje pronunciou esta phrase, que eu copiei logo: a audacia quasi insensata com que se quer, etc..

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Eu retiro o quasi

Vozes: — Ordem, ordem.

O Orador: — Ora veja v. ex.ª a cortezia com que o illustre deputado está tomando parte n'este debate; e eu peço a v. ex.ª que não lh'o consinta.

(Ápartes.)

Os illustres deputados querem até que eu permitta sem observação a phrase «audacia insensata com que se quer, etc.»

Veja v. ex.ª como aquelles mesmos cavalheiros, que estiveram aqui a aggredir tão violentamente o governo, e especialmente o presidente do conselho, agora são tão susceptiveis que reagem contra qualquer cousa que se diz, e que não têem a menor similhança com o que elles disseram.

O sr. Luiz de Campos: — Quando se classifica de injuria.

O Orador: — Injuria? E a linguagem que foi empregada a meu respeito? Tenha a camara a certeza de que eu não empregarei, para repellir as aggressões dos illustres deputados, as phrases que elles empregaram contra mim (Vozes: — Muito bem, muito bem), mas hei de tirar partido de todas estas irritações, que não provam senão a falta de rasão dos illustres deputados, e o terreno apaixonado em que se collocaram (apoiados).

Ora, aqui está exactamente o que eu disse, e que preciso referir á camara.

Tratava-se de uma carta que se teve a audacia de publicar, e isto posso eu

dize-lo, porque me não refiro a nenhum dos srs. deputados. N'essa carta disse-se o seguinte com relação á divindade de Jesus Christo:

«Eu nunca disse a pessoa alguma que ia negar a divindade de Jesus na minha conferencia. Não só não negaria que Jesus foi divino, como até afirmaria que o foi, e no mais alto grau. Sinceramente não podia considerar Jesus menos divino que Platão, Çakia-Mouni, Santo Agostinho, Newton, Hegel e outros.»

Realmente, para ouvidos catholicos, é esta a linguagem mais offensiva que se póde empregar.

A carta acabava assim:

«Antes de tudo sejamos moraes, depois discutiremos quaes foram mais divinos, se uns, se outros.»

Aqui temos Jesus Christo em concorrencia com Socrates e Platão, com Newton e Santo Agostinho, para se resolver qual d'elles era mais divino!

Eu esperava que os illustres deputados, que tanto me têem aggredido, quando ouvissem esta proposição tão altamente offensiva do sentimento religioso, que felizmente inspira este paiz, se associassem commigo para vivamente a estygmatisarem (apoiados). Isto é o que eu esperava dos illustres deputados, mas não aconteceu isso, interromperam me a cada passo, veiu uma serie de interrupções, e a uma d'ellas respondi com a tal phrase que os illustres deputados estão a citar, e que não tinha nem a interpretação nem o alcance que s. ex.ª lhe deram.

Eis aqui o que eu disse:

«É claro que eu me referia ao desregramento da linguagem empregada na carta que li á camara. Sobre a doutrina ali professada pense cada um como quizer; mas limite-se a isso, não trate de propagar as suas doutrinas, não queira fazer proselytes, que lh'o não permittem as nossas leis.»

(Ápartes).

Note-se bem que eu não disse, que só era permittida em toda e qualquer questão a liberdade de pensamento, porém não a de o exprimir. Eu referia-me unicamente á questão delicadissima, de que tratava a carta, a que me referi. E debaixo d'este ponto de vista sustento ainda o que disse, e ninguem me póde combater.

Quando os illustres deputados me quizerem dar lições de liberalismo, não se esqueçam de que ha quarenta annos que estou activamente na vida politica, e de que tenho dado todas as provas da minha dedicação á causa da liberdade.

Queria o illustre deputado demonstrar que tinha dado grandes garantias a esta causa. Não entro n'essa apreciação, mas assevero-lhe que não deu mais, nem tantas como eu.

Fallou o illustre deputado na sua familia, e disse que esta tinha feito muitos serviços á causa da liberdade; não fallou dos seus nem podia fallar.

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Ainda não tinha nascido.

O Orador: — -Bem sei: mas é mais uma rasão para respeitar aquelles que contribuiram para o estabelecimento d'essa liberdade que hoje está gosando. Eu já vivia n'esse tempo; já era um funccionario de certa importancia; servi a causa da rainha e da carta. Diminue todos os dias o numero dos homens d'essa epocha; mas ainda vivem bastantes, que podem dar testemunho do que digo.

Attribuiram-me tambem alguns illustres deputados ter eu dito que não fazia caso de jornaes.

Aqui está no mesmo discurso o que eu disse a este respeito, com relação á licença que se affirmou que eu dera para se effectuarem enterramentos no cemiterio de Paranhos; hei de referir tambem á camara o que houve a este respeito.

Tratando-se d'estes enterramentos, eu disse que não tinha conhecimento de tal facto. Um illustre deputado, que está presente, respondeu-me que eu o devia ter pelos jornaes. Ao que repliquei.

«Os jornaes não digo que não quero, ou não os devo ter, mas confesso francamente que não tenho sempre tempo para os ter todos.»

Pois deveria asseverar-se, em vista d'isto, que eu declarei que não queria ter os jornaes! Quando se combate por esta maneira um ministro, mostrase que não se tem rasão alguma (apoiados).

Quiz fazer estas duas rectificações, porque me pezava ver os illustres deputados todos os dias, homens de uma intelligencia superior, a tirar partido de phrases que eu não tinha pronunciado. Quando estavam cheios de factos, dizem elles, para me opprimir (apoiados), divertiam se com argumentos d'esta natureza!

Visto que fallei do cemiterio de Paranhos, e tenho aqui os documentos, e posso pô-los á disposição dos illustres deputados, devo dizer que effectivamente tive noticia do enterramento pelos jornaes; e apenas tive conhecimento d'elle ordenei que se perguntasse ao governador civil do Porto o que havia a esse respeito; e logo que o governador civil me respondeu que era verdade ter havido n'aquelle cemiterio um enterramento sem ordem sua...