O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

312

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Uma voz: — Foram dois os enterramentos.

O Orador: — Mas o governador civil assevera que foi um; eu immediatamente fiz expedir áquelle magistrado a portaria que foi publicada, e que está no Diario do governo (leu).

Aonde está a minha responsabilidade?

Vozes: — A data da portaria?

O Orador: — Está no Diario do governo, é de 20 de julho de 1871, é do dia immediato aquelle em que recebi a resposta do governador civil. Aqui o diz a portaria (leu).

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Então já estava feita a eleição.

O Orador: — Tudo se envenena! Não ha nada innocente, não ha nada regular senão o que fizeram os illustres deputados. Não ha eleições regulares senão aquellas em que triumpharam; tudo o mais foram offensas aos direitos do cidadão!

O sr. visconde de Moreira de Rey disse, e eu esperava isso, que a auctoridade superior administrativa do districto do Porto, por ordem do governo, consentiu enterramentos no cemiterio de Paranhos.

A camara acaba de ver que o illustre deputado asseverou uma proposição que não póde sustentar, e asseverou-a quando estava publicado um documento que prova completamente que s. ex.ª não tinha rasão.

Tomo a responsabilidade de todos os actos dos meus subalternos, que eu approvo ou consinto; quando eu os censuro, querem lançar-me tambem a responsabilidade d'elles? (Apoiados.)

Portanto aqui está a censura que me cabe pelas tropelias do Porto, que o illustre deputado reduziu unicamente aos enterramentos no cemiterio de Paranhos, enterramentos que eu desapprovei e prohibi.

Nos termos que a camara acaba de ouvir tenho muita pressa de entrar...

O sr. Rodrigues de Freitas: — Peço a palavra para um requerimento antes de fechar a sessão.

O Orador: — Se é para pedir estes documentos...

O sr. Rodrigues de Freitas: — É para requerer ao sr. presidente que convide o sr. ministro do reino a declarar o dia em que se dá por habilitado para responder a esta interpellação.

O Orador: — Estou já habilitado; e quando v. ex.ª marcar o dia para essa interpellação, responderei.

O sr. Rodrigues de Freitas: — Desisto do meu requerimento.

O Orador: — Como ía dizendo, tenho muita pressa de entrar nas arguições que me forem feitas em virtude do meu comportamento nas eleições de Arganil; mas antes d'isso careço de responder ainda a algumas observações feitas pelo sr. visconde de Moreira de Rey.

O illustre deputado asseverou com o tom de uma convicção profunda que eu era o creador da divida fluctuante no estrangeiro, a qual alem d'isso tinha desacreditado...

Ò sr. Visconde de Moreira de Rey: — Não disse isso; disse que o desacreditou.

O Orador: — Que o desacredita. Mal sabia o illustre deputado que estava atirando para o ar pedras que haviam de caír sobre a sua cabeça.

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Então fui eu?

O Orador: — Pois eu era ministro da fazenda n'esse tempo?

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Então era eu?

O Orador: — O illustre deputado sabia muito bem quem o era.

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Não sei.

O Orador: — Pois quem não sabe não falle; quem não conhece os factos, não está aqui tres dias a entreter a camara com asseverações falsas. É preciso ser mais modesto.

O sr. Mariano de Carvalho: — Isto é parlamentar?

O Orador: — O illustre deputado não me póde dar lições de parlamentarismo, quando eu lhe estou lendo as phrases que não estigmatisou, e que tinha obrigação de estimatisar. Fallou-se em informações officiaes falsas e calumniosas, e esta phrase como era dirigida contra o governo não feriu os ouvidos do illustre deputado.

Tambem não fez reparo algum, quando se attribuiu ao governo a audacia insensata. Agora que o governo se defende é que o illustre deputado reage contra a linguagem que elle emprega, e que não tem nenhuma comparação com a dos seus adversarios.

O sr. Mariano de Carvalho: — Dirigi-me ao sr. presidente da camara; não tenho nada com v. ex.ª Tenho com o sr. presidente para depois notar um facto que tem relação com este.

O Orador: — Phrases d'aquella natureza, quando são pronunciadas é obrigação de todo o mundo repelli-las.

(Interrupção.)

O Orador: — Não se afflijam os illustres deputados. Eu estive tão sereno a ouvir a accusação, e não podem os srs. deputados ouvir a resposta com a mesma placidez!

Vozes: — Podem, podem.

O Orador: — Não têem remedio senão ouvir.

Sr. presidente, parece me que está a dar a hora, e acamara comprehenderá que me é impossivel acabar hoje.

Uma voz: — Já deu a hora.

O Orador: — Ouço até dizer que já deu a hora, e então peço a v. ex.ª que me reserve a palavra para a sessão seguinte (apoiados).

A proposta apresentada por s. ex.ª é a seguinte;

Proposta

Senhores. — Tenho a honra de renovar a iniciativa da proposta de lei por mim apresentada á esta camara na sessão de 29 de maio ultimo, para ser permittido ás associações e corporações perpetuas a acquisição, por titulo oneroso, dos bens immobiliarios, que forem indispensaveis ao desempenho dos deveres das respectivas administrações.

Secretaria d'estado dos negocios do reino, em 23 de agosto de 1871. = Marquez d'Avila e de Bolama.

O sr. Presidente: — Fica-lhe a palavra reservada.

A ordem do dia para ámanhã é trabalhos em commissões e para o dia seguinte a mesma que estava dada, tanto na primeira como na segunda parte.

Está levantada a sessão.

Eram cinco horas da tarde.