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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

em Guimarães e em Fafe, parecia ser eleito ao mesmo tempo sob nomes e pessoas differentes (apoiados).

Para o sr. marquez d'Avila eu não sou eu (riso); sou, segundo parece, a sombra de outro corpo, o echo de outra voz, o reflexo de outra intelligencia, a copia ou representação submissa de alguem que s. ex.ª odeia. Não tenho individualidade propria, represento apenas uma dependencia. O sr. marquez d'Avila tem d'estas opiniões excentricas, que, por serem de s. ex.ª, nem me offendem. O meu caracter desmente essas opiniões exoticas, e nenhum dos meus actos publicos as auctorÍ8a (apoiados).

A lealdade para com os meus amigos nunca me obrigou a contradizer as minhas opiniões. A minha amisade nunca foi submissão nem servilismo, e na independencia da minha opinião e do meu voto posso e quero ser pertinaz e rebelde a todas as considerações opposlas á minha rasão e á minha consciencia, nunca fui nem hei de ser servo submisso nem humilde escravo de nenhuma especie de senhor (apoiados).

Não admira que o sr. marquez d'Avila se enganasse commigo, porque o mau fado obriga-o nos ultimos tempos a enganar-se com todas as cousas, sendo raras as que não vê inteiramente ás avessas, quando preside ás eleições (apoiados).

Eu nunca me queixei, vi tranquillo preparar se e desenvolver-se contra mim o arsenal do sr. ministro do reino, e apparecerem em campo todos os meios que já referi. Nem uma só vez recorri a imprensa a queixar-me, nem a denunciar esses escandalos e abusos do poder. Limitei-me apenas a dirigir um manifesto aos meus eleitores, unicos com quem eu trato de eleições, e distribui-o entre elles, não lhe dei outra publicidade nem tencionava dar. O manifesto era só para os eleitores do circulo.

Mas depois o candidato governamental, que o governo tinha coagido e violentado a propor-se — contra mim, pedindo-lhe humilde e supplicante, e enganando esse honrado cavalheiro e o seu partido, o candidato governamental, vendo-se, como eu disse, illudido e burlado pelo governo em todas as promessas, veiu á imprensa retirar a sua candidatura por um modo nobre e digno, como era proprio do seu honrado e respeitablissimo caracter (apoiados).

Então, e só então, recorri eu á imprensa tambem. Não podia consentir que o facto se attribuisse a causa diversa da que o produzia, e tinha de acautelar-me contra as interpretações, ás vezes ambiguas, do sr. ministro do reino. Declarei terminantemente, que, fosse qual fosse a causa que levava o meu honrado antagonista a retirar a sua candidatura, eu era estranho a esse facto, e continuava a minha posição de guerra ao governo, em manifesta opposição, a mais hostil possivel, em perfeita harmonia com o meu manifesto. Provoquei claramente o governo a substituir por outra a candidatura governamental, que se retirava, e fiz publicar então na imprensa periodica o manifesto, que tinha dirigido aos meus eleitores.

N'esse manifesto dizia eu o seguinte (para não abusar da paciencia da camara, leio só a ultima parte, transcrevendo o na integra para poder ser lido, quando se publicar o discurso):

Manifesto eleitoral aos eleitores do circulo n.º 11

«Envolvido n'uma luta eleitoral, em que o governo, tendo-me declarado crua guerra, envidou os ultimos esforços e ameaça ainda recorrer a todos os excessos para combater a minha candidatura, eu posso e quero abster-me agora de referir e de analysar os meios que o governo tentou e a que recorre, mas não posso nem devo deixar de fazer uma declaração positiva e terminante, com a qual defina, sem equivoco possivel, a minha posição actual e futura, apresentando-me desde já claramente ao meu circulo eleitoral, ao paiz, e á camara da qual me proponho a fazer parte.

«Se esta declaração é conveniente para a minha dignidade como candidato, mais convem ainda para fazer respeitar, como a justiça exige que se respeitem, a illustração e a independencia dos meus eleitores, que, no meio da geral dissolução dos costumes politicos, ha muito abriram n'este paiz exemplo de virtude civica, e firmes sustentam, como homens livres, illeso e pleno o seu direito de eleger, emquanto que a maioria dos circulos cobardemente o abandona ou servilmente o entrega de seis em seis mezes a cada governo que está, tenha ou não tenha idéas, tenha ou não tenha principios, comtanto que não deixe de ter á sua disposição as leis para violar, os favores para corromper, a repartição dos impostos para diminuir, o recrutamento para livrar, as obras publicas para negociar, os empregos para prometter, e toda a administração para captar amigos com fallazes promessas ou ameaçar adversarios com a denegação de justiça nas mais justas pretensões. É assim que as lutas eleitoraes, de que deve e póde a todo o momento surgir a salvação publica, imprudentemente repetidas contra a lei fundamental do estado e criminosamente executadas contra todos os principios de liberdade, cavam cada vez mais funda a ruina da patria, em vez de a salvarem, como deviam.

«Não se queixe o paiz do governo, nem das camaras, nem de nenhum dos poderes do estado. Não attribua a outros a culpa que é exclusivamente sua. Queixe-se unicamente de si que, quando elege, aproveita, para negociar á custa do interesse geral o a troco de mesquinhos favores ou illusorias promessas, a unica occasião solemne em que se entregam nas mãos do povo a futura constituição dos principaes poderes e a possivel ou facil realisação de todas as reformas, sem as quaes todos sentem e todos sabem dizer que não podemos viver nem sustentar-nos como nação independente.

«Nas lutas eleitoraes deixe o paiz o governo governar ou fingir que governa na execução das leis, mas governe cada eleitor no seu voto, resista a todas as seducções e a todas as ameaças, vote em homem que todos conheçam no respectivo circulo eleitoral, que aos seus vizinhos offereça pelo seu passado e pela sua posição garantias de intelligencia e de probidade, e que inspire á maioria plena confiança, tanto para esta aceitar os indispensaveis sacrificios que elle votar, como para lhe prestar auxilio e força contra a furiosa resistencia, que hão de oppor os interesses feridos e os abusos cortados pelas reformas, que os verdadeiros representantes do paiz terão de fazer largas e profundas na actual organisação dos serviços publicos em todos os ramos da administração.

«Escolha a nação representantes, que realmente a representem, e não tolere mais esta farça representativa, em que o nome de representante do povo anda alliado á condição de só representar o favor dos ministros e á impossibilidade absoluta de representar a vontade dos eleitores. Desengane-se o paiz, já que a successão dos varios ministerios se conspira para perpetuar a perfida e nociva illusão que nos perde, compromettendo gravemente o futuro da patria.

«Os governos deveriam ser os primeiros a desenganar-se, e tempo era já de ter cessado para elles toda a illusão. As quedas rapidas e successivas dos ministerios, a sua duração ephemera, a prompta substituição dos ministros ao primeiro abalo ou commoção popular, apesar de uma maioria numerosa ou de uma camara quasi unanime, deviam ter desenganado todos os ministros de juizo e de boa fé de que a sua conservação no poder depende menos do numero que da qualidade dos representantes que os apoiam. De representantes puramente nominaes, sem raizes, nem sympathias, nem confiança do povo, tanto vale a maioria como a aunanimidade; essa camara, longe de robustecer, enfraquece e desconceitua o governo a quem apoia.

«Qualquer sacrificio votado pelo verdadeiro representante do povo, que é conhecido e estimado na localidade que o elegeu, que ali tem credito pessoal e possue bens proprios sujeitos tambem aos tributos que votou, não encontra de certo enthusiasmo nem festejos, mas não encontra tambem a indignação popular, não é estimulo nem incentivo para