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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

madora do partido regenerador, que a revolução de 1868 succumbiu, sem que dos prejuizos que d'este facto resultaram, se possa tomar a responsabilidade á gerencia financeira do sr. Dias Ferreira.

Foram áquelles eximios patriotas quem tudo perderam, foram os que clamavam contra todos os funccionarios trabalhadores e honestos e que votaram contra a suppressão dos terços e o acabamento das aposentações, foram os liberaes avançados, que votaram contra a desamortisação dos pasmes, os que desacreditaram e perderam a revolução chamada janeirinha.

Foi essa mesma phalange reformista quem, mais tarde, fez crua guerra a todos os funccionarios honrados e prestadios, chamando-lhes victorinacios e comedores!!

Um dos mais perseguidos foi o infeliz Fradesso da Silveira, o infatigavel trabalhador, que tantos serviços prestou ao paiz, e que deixou a sua familia na miseria, attestando n'este desamparo dos que estremecera, a gratidão da patria e a justiça dos que o accusaram do victorinacio e harpia do thesouro!

Foi a crua guerra que fizeram aquelle benemerito cidadão, que impediu, que, em 1870, o ministerio, de que fazia parte o meu illustre amigo o sr. Luciano do Castro, pudesse dotar o paiz com o arrolamento geral da população, e com uma reforma completa das matrizes.

O sr. Luciano de Castro: — Apoiado.

Mas; como aquella reforma não agradava aos chefes dos differentes campanários, aos homens influentes que tinham trazido á camara estes illustres progressistas, aos homens que não queriam que se rectificassem as matrizes, que não queriam que se fizesse pagar a cada um dos proprietarios o que devem pagar, segundo os seus rendimentos, fez-se, por estes salutares principios, uma grande opposiçâo ao sr. Fradesso da Silveira, que foi quasi lançado ás feras, como um homem que queria levar este paiz ao abysmo, com a barbara medida dos arrolamentos!

Mas, voltando ainda ao que se passou em 1868, devo dizer a v.' ex.ª, que não tenho hoje opiniões differentes das que tinha então, ácerca dos intuitos politicos dos que perderam ê desacreditaram a janeirinha.

O que eu digo agora, com relação ao que se passou n'essa epocha, foi o que tive a honra de dizer n'esta camara nas sessões de 6 e de 8 de junho de 1868, na presença de todos os reformistas.

Não quero cançar a attenção da camara com uma grande leitura, apenas lhe vou ler o que eu disse, quando se tratou 'do projecto dás jubilações, reformas e aposentações, que foi impugnado pelo sr. Costa e Almeida, o sr. Costa Simões e outros deputados, que eram os mais enthusiastas e os mais exaltados progressistas d'esse tempo.

Dizia eu:

«Permitta-me v. ex.ª que eu, sem querer fazer a mais leve censura a qualquer dos meus collegas n'esta casa, estranhe que, tendo-se apregoado tanto as economias, ao primeiro projecto de economias que se apresenta para ser discutido, todos se levantem contra elle. (Muitos e repetidos apoiados.) '

«O sr. Costa e Almeida: — Protesto solemnemente contra a asserção' do illustre deputado. Eu continuei:

«Pôde protestar, mas o facto é este que acabei do notar. (Apoiados) Apparece o primeiro projecto de economias, revoltam-se contra elle muitos d'aquelles que mais têem apregoado as economias. (Apoiados.)

O projecto de que se trata faz a economia de tirar o terço dos ordenados. (Apoiados.) O projecto faz a economia de limitar as aposentações em todas as classes dos funccionarios publicos. O projecto faz a economia de limitar as reformas do todos os militares'. Contra isto se levantaram os oradores que fallaram. (Apoiados repetidos.)»

O sr, Costa e Almeida interrompeu-me, protestando contra as minhas palavras, e eu redargui, proseguindo no meu discurso.

As palavras que acabo de ler produziram um sussurro tal, que teve de se interromper a sessão, mas eu depois continuei a fallar, justificando, sem replica, as minhas affirmativas.

Tambem com relação ao papel que o sr. Dias Ferreira teve n'essa situação, eu sou hoje do mesmo parecer, que era na sessão de 8 de junho de 1868.

Estes illustres progressistas, que não sympathisavam com as reformas apresentadas pelo sr. Dias Ferreira, tiveram a intenção do o fazer saír do ministerio desacompanhado dos seus collegas.

Não lograram esse intento, mas espalhou-se n'essa occasião que era isso o que queriam, e que o queriam, porque não concordavam com as propostas apresentadas por s. ex.ª, e principalmente pelas que diziam respeito ás aposentações e á desamortisação dos passaes.

Fazendo notar esta circumstancia á assembléa, eu dizia o seguinte:..

«Cada vez que ouço fallar na gloriosa revolução chamada de janeiro, por um flagrante erro de data, sinto o coração opprimido pelo peso do tudo quanto desejo dizer, que faz esforços para se expandir, o que a minha rasão mal póde obstar a que n'este momento me saia dos labios.

«Gloriosa revolução de janeiro! Gloriosa nos intuitos, gloriosa nas aspirações de todos, que de boa fé a prepararam, mesquinha, enfezada e insignificante, pelos fructos que d'ella se colheram. (Apoiados.)

«Pois ha nada mais desgraçado, nada mais pequeno, nada mais desanimador do que ver levantar-se n'esta assembléa um talento formoso, um filho predilecto d'essa revolução, e limitar as suas aspirações, as suas propostas, as suas economias, a tirar meia duzia de contos de réis ao subsidio do rei e alguns tostões aos salarios dos empregados?!

«Por tão pouco não valia a pena que os Moysés politicos batessem com a sua vara magica na bronca penedia do orçamento, não para fazer brotar jorros de agua pura e crystalina; mas para arrancar algumas lagrimas a meia duzia de desgraçados e um sorriso de compaixão a um rei pobre de um paiz pobríssimo.

«Querem ser liberaes, querem ser democratas? Não peçam á corôa alguns centos de mil réis da sua dotação; peçam-lhe algumas das suas prerogativas que andam cerceadas á soberania popular.

«Peçam-lhe o direito de eleger pares ou senadores que ella hoje nomeia. (Apoiados.)

«Peçam o suffragio universal, peçam-lhe emfim todas as garantias de liberdade; mas não lhe peçam dinheiro, (Muitos apoiados.) que ella não póde dar, porque ao rei, como a todos, os progressos da civilisaçào e as necessidades sociaes augmentaram-lhe as despezas, sem lho augmentar a dotação.

«Que necessidade ha de fazer uma injuria e uma injustiça á corôa, pedindo-lhe ou tirando-lhe o que ella de bom grado dará espontanea e livremente, logo que as necessidades publicas lhe inspirem a munificencia, até hoje não desmentida? (Muitos apoiados.)»

Com relação á surda guerra feita ao sr. Dias Ferreira revoltei-me eu contra o procedimento dos meus illustres collegas, porque entendia que s. ex.ª, pelo seu merecimento real, e pelos seus intuitos liberaes e patrioticos, merecia outra especie de acolhimento e apoio d'aquelles deputados, que se tinham apresentado como vozes sinceras e ardentes da revolução, e por isso lhes disse, o seguinte:

«Sáe de uma das cadeiras ministeriaes (apontando para a do sr. ministro da fazenda) um tal ou qual cheiro a de functo, que explica até certo ponto a opposiçâo disfarçada, mas energica, que se está fazendo a este projecto.

«Merecia a vida que se some outros responsos; e merecia-o não só pelo seu valor real e intrínseco, mas pelos muitos sacrificios que fez do seu engenho, das suas aspira-