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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
nemente; e nem podia deixar de ser, porque a auctoridade não tinha força, para evitar essa venda, qualquer que fosse a disposição da lei, porque o consumo da polvora é de uma absoluta necessidade, o a fabrica de Barcarena não produzia toda a que se precisava.
Não, fallo agora na polvora que se consumia nos serviços publicos, sobre tudo no exercito e na marinha, mas na polvora que se consome nos serviços particulares; e uma grande parte da polvora que se consumia nos serviços particulares não podia ser produzida na fabrica do estado, porque a producção d'essa fabrica não chegava para o consumo de todo o paiz.
Aqui está a rasão por que eu apresentei á camara uma proposta de lei, cingindo-me em grande parte ao parecer da commissão creada em "1854 pólo ministerio de que tive a honra de fazer parte, presidido pelo sr. duque de Saldanha, e a que acaba de referir-se o illustre deputado.
Cingindo-me a esse parecer, propuz o melhoramento da fabrica, para dar em resultado o melhor fabrico, e, portanto o melhor fornecimento dó paiz.
Officiaes e pessoas competentes que consultei para este fim disseram me que com "a quantia de 80:000$000 réis se podia melhorar 'consideravelmente o fabrico da polvora; e aqui está a rasão por que em 1875 tive a honra de apresentar a está camara unia proposta de lei n'este sentido, proposta de lei que foi votada n'esta camara sem alteração e com ligeira modificação na camara dos dignos pares, sem embargo de que essa proposta de lei se referia a varios outros assumptos alem da auctorisaçâo para o fabrico da polvora pelos melhoramentos introduzidos na fabrica de Barcarena.
Em 1876 começou o fabrico em novas condições.
Em 1877 deixei o ministerio, e o meu illustre successor continuou, na conformidade da lei e segundo a auctorisaçâo d'ella, a introduzir na fabrica de Barcarena alguns melhoramentos importantes.!
Depois tomei novamente conta, da pasta da guerra, e continuei no mesmo sentido, no uso da auctorisaçâo concedida ao governo pára aquelle fim.
Emquanto, porem, estive fóra do paiz procurei investigar quaes eram os meios por que se abasteciam de polvo ra, e visitei alguns estabelecimentos.
Em França,"por exemplo, visitei aquelle que ficava mais perto de París, onde eu estava, a fabrica de Sevran-Livres, o analysando as1,condições 'd'essa fabrica, convenci-me de que os melhoramentos que se, estavam fazendo na, fabrica, de Barcarena estavam longe de satisfazer as necessidades da armada, do exercito "e do publico, e de que era preciso um capital superior talvez a, 500:000$000 réis para montar o nosso estabelecimento em condições identicas ao que lá por fóra ha n'este genero.
Aquella fabrica que visitei está ao pé de um caminho de ferro, que, para, assim dizer, lhe passa pela porta, passa-lhe tambem perto um canal, e alem d'isso dispõe de outras vias de communicação ordinaria que servem para levar do logar da producção para os logares do consumo a polvora que ali se fabrica.
Em França, cuja. grandeza territorial não chega a ser oito vezes a de Portugal, ha onze fabricas de polvora, e alem d'isso duas fabricas de refinação do salitre e uma fabrica de dynamite.
Estas fabricas que antigamente, pela natureza d'ellas, se achavam a cargo do ministerio da fazenda, sem relações immediatas com os assumptos do ministerio da guerra, passaram em 1874 para a direcção do ministerio da guerra, e estão hoje a cargo d'este ministerio.
A fabrica, que acabo de trazer para exemplo, foi a unica que vi, não posso fallar das outras. Sevran-Livres assentada em terrenos planos, no meio do um bosque que é indispensavel e proprio de grandes fabricas para evitar desastres de exploração, com machinas de grande força, com um caminho de ferro e um canal ao pé da porta, póde n’estas condições produzir e produz effectivamente bastante; e eu desde logo reconheci que a fabrica de Barcarena, por falta d'ellas, difficilmente podia satisfazer as necessidades do consumo, e que apenas podia satisfazer ás necessidades do exercito.
N'estes termos quando vim para Portugal e o meu collega ministro da fazenda propoz em conselho que se mudasse de systema, e que em logar do monopolio do estado se estabelecesse a liberdade, eu, reconhecendo que da somma arbitrada para melhoramentos pela lei de 1875 não se tinham gasto ainda senão51:000£000 réis, e não 80:000$000 réis, como dizem os illustres deputados, o que não ora em pura perda, porque mesmo para o, exercito e marinha era necessario fabricar melhor do que fabricávamos, visto que é muito importante a quantidade de polvora que se consome na guerra e na marinha, o que as armas de guerra carecem do uma polvora especial; digo, pelas rasões que acabo de expor, não tive du* ida em que se passasse do systema do monopolio para o da liberdade.
E eu que tenho sido accusado de que as armas compradas não são de bastante perfeição, direi que por mais perfeitas e mais caras que ellas sejam, essas armas na mão dos soldados são simples cajados todas as vezes que a polvora não tiver o maior alcance possivel.
Aqui está porque a somma gasta não é perdida, porque ella fez com que se tornasse melhor o fabrico da polvora, que é um elemento de guerra, de que podemos e devemos ter maior ou menor abastecimento, e porque precisámos ter polvora propria para, os canhões do campanha e de costa que têem sido adquiridos.
N'estes termos não me peza o melhoramento introduzido na fabrica da polvora. Não sei se ao illustre deputado lhe fazem peso estas considerações, mas as minhas rasões são estas.
Foram estas que me determinaram e resolveram a modificar profundamente o meu systema adoptado em 1875, para adoptar o systema do liberdade, que é o de alguns paizes eminentemente militares, e que não deixa de ser aproveitável e conveniente debaixo de certo ponto de vista.
Mas esta questão é aparte. So convem que haja fabricas do estado, ou só fabricas particulares onde o estado vá comprar a polvora de que necessita…
O sr. Sá Carneiro: — É impossivel.
O Orador: — Tambem assim o penso.
As armas aperfeiçoadas carecem de polvora, especial, essa polvora especial precisa ser feita debaixo da inspecção de officiaes muito competentes, muito intelligentes e muito praticos, devo ser feita com grandes meios de rigor, sem poupar despezas.
Só assim se póde conseguir ter uma polvora á altura das melhores da Europa, e como uma fabrica por conta do estado a deve fabricar.
Mas objecta-se a isto que a fabrica do que se trata vae ficar em condições excepcionaes, porque vae concorrer com a industria particular. Ou não é bastante boa a polvora que se fabrica, ou é mais cara.
No primeiro caso ninguem a compra, e no segundo acontecerá o mesmo, e por isso não vejo era que ella possa estabelecer concorrencia com a, industria particular.
Digo que mesmo entre nós não é novo que haja fabricas que fabriquem para o estado e para os particulares, e dizendo-o não dou novidade alguma á camara nem ao illustre deputado.
S. ex.ª mesmo acabou de citar um estabelecimento importante que existo no paiz, que fabrica para o estado e para os particulares, quer dizer, que faz concorrencia á industria particular, pelo modo por que fabrica, porque fabrica muito bem, e isso lhe tem merecido o elogio e os applausos dos paizes estrangeiros. Fallo da imprensa nacional, (Apoiados.) que, fabricando para o estado o para