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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

guem cedia o passo, nem mesmo ao sr. Avila ou Sá Vargas, e que procurava conservar as tradições honradas e briosas do seu renome, como emprezario de eleições.

No concelho de Fornos de Algodres havia um dignissimo escripturario de fazenda, que vivia completamente arredado de todas as lutas e paixões politicas, que tratava de exercitar com verdadeiro applauso e luzimento as funcções do seu cargo, e merecia o respeito e acatamento de todos, porque era, e é, um homem honrado.

Na eleição, porém, julgou-se necessario fazer com que um celebre influente eleitoral, cujas façanhas heroicas eu hei de contar ainda, trouxesse á liça a favor do governo uns 40 ou 50 votos de que dispunha por um acaso fortuito. Esse tal influente eleitoral, na qualidade de homem honrado e convicto e leal partidario, impunha como condição necessaria e previa, que um parente seu proximo, que para nada servia, porque tudo ignora, fosse exercitar o cargo que estava preenchido pejo individuo a que me refiro.

Não houve a menor difficuldade, e o sr. ministro da fazenda, sem que lhe tremesse a mão de remorsos pela acção injusta e criminosa que ía praticar, transferiu immediatamente aquelle empregado de Fornos para Celorico, a fim de ficar vago o logar.

Ora, segundo noticias que tenho, foi nomeado para o emprego vago, depois de um simulacro de concurso, aquelle pretendente, que tinha sido imposto por uma influencia eleitoral!

Sr. presidente, eu não esperava que o sr. ministro da fazenda tomasse sob sua responsabilidade factos d'esta ordem, que, por se referirem a individuos humildes, nem por isso ferem menos o coração de todos nós, que devemos zelar a liberdade da urna e do voto (apoiados), e manter a honestidade como a primeira e mais essencial qualidade governativa (apoiados).

Isto é uma veniaga repugnante e tediosa. Se não é, muito se approxima d'ella. Em todo o caso, sr. presidente, v. ex.ª podia bem indicar-me o termo assás proprio e parlamentar para qualificar este facto escandaloso.

Eu nunca esperei que o sr. ministro da fazenda podesse ter as honras de um Graccho, mas tambem não esperava que s. ex.ª quizesse ter as honras de um Sylla. Não queria que elle viesse defender os fóros populares, porque todos sabem que s. ex.ª, por nascimento, por educação e por indole, foi sempre mais conservador do que outra cousa, e parece-me que até mesmo muito reaccionario. Mas o que eu nunca podia imaginar, era que o sr. Carlos Bento viesse, Sylla de nova especie, fazer esta proscripção de um humilde mas honrado empregado de fazenda, para vencer uma eleição (apoiados).

Eu não espero, não posso esperar que o sr. ministro da fazenda consiga mostrar-se immaculado do acto que praticou, acto demasiado glorioso, e que se vae juntar ao immenso rol de outros do mesmo genero que s. ex.ª já tem praticado (apoiados). Mas o sr. ministro, provavelmente, limita-se a responder que não sabe. Não admira. Estes srs. ministros sempre se desculpam d'este modo, que é facil, mas indecoroso.

Mas, sr. presidente, eu entendi que devia protestar, e entendi que devia levantar esta accusação ao sr. ministro da fazenda, accusação que é merecida, muito merecida, que não tem nada de gratuita, e que é perfeitamente fundamentada, como o Diario do governo ha de demonstrar dentro de muito pouco tempo, por isso mesmo que sei, por fonte segura, que o logar a que me refiro já foi preenchido, por indicação imperiosa do tal pseudo influente eleitoral, que ajudara o governo na ultima eleição!

Sr. presidente, em todo o caso, se o sr. ministro da fazenda entender que póde responder a estas observações, e se me mostrar que eu estou em engano ou em erro, de certo me congratularei, porque antes quero achar nos bancos dos ministros a innocencia do que a culpa. (Vozes: — Muito bem.)

Por esta occasião, sr. presidente, devo dizer a v. ex.ª, que sinto que o sr. ministro da justiça ainda não mandasse para esta camara um documento que lhe pedi, ácerca do preenchimento da igreja de Nossa Senhora da Matança, do concelho de Fornos de Algodres, que foi provida, segundo me dizem, e posso quasi affirmar, sem as competentes informações do illustre prelado da diocese de Vizeu, o que constitue um facto inteiramente novo, que muito prova a favor do facciosismo do sr. ministro.

Sr. presidente, ha a este respeito um facto grave, um facto gravissimo; e eu peço ao sr. ministro da fazenda, que vejo presente, se digne annunciar ao seu collega da justiça, que eu pretendo formular uma interpellação a respeito d'este facto; e para a formular preciso, careço previamente do documento que pedi.

Não é esta a maneira de tratar os negocios publicos e de se respeitar a carta constitucional, pela qual os srs. ministros dizem que têem muito respeito, sendo supersticiosos sómente nas suas palavras e não nos seus actos. Não querem a reforma da carta, mas todos os dias a rasgam (muitos apoiados).

Tambem sinto que não esteja presente o sr. ministro da marinha (o que aliás não admira, porque ninguem ha mais fugidio da discussão) para me dirigir a s. ex.ª a respeito do requerimento que ha pouco tive a honra de mandar para a mesa; refiro-me ao elogio historico feito em francez ao sr. marquez d'Avila e de Bolama. Desejava que o sr. ministro da marinha me dissesse se pelo seu ministerio se tinham tomado alguns exemplares d'esta obra magnificente (riso). S. ex.ª não respondeu como aliás respondeu o sr. Carlos Bento, que se mostrou o Mecenas dos biographos e dos photographos do sr. presidente do conselho (riso. — Apoiados).

O sr. Claudio Nunes: — Tenho a honra de mandar para a mesa o seguinte projecto de lei (leu).

O sr. Presidente: — Fica sobre a mesa para ter segunda leitura.

O sr. Ministro da Fazenda (Carlos Bento): — Não posso dizer senão que, no momento actual, não tenho idéa alguma do facto a que o illustre deputado se referiu.

O sr. Pereira de Miranda: — Desejo dever á mesa o favor de me informar sobre se já veiu, ou não, alguma resposta do ministerio da marinha ácerca dos documentos que eu e o meu illustre amigo, o sr. Mariano de Carvalho, pedimos em relação ao observatorio de marinha.

O sr. Presidente: — Vou mandar perguntar á secretaria.

O Orador: — Precisâmos d'esses documentos com tanta mais urgencia que o sr. ministro da marinha apresentou um projecto a respeito d'este assumpto.

O sr. Presidente: — Transmittirei ao sr. deputado o que da secretaria for communicado á mesa.

O sr. Melicio: — A sr.ª D. Gertrudes Romana de Freitas Pedrosa requereu o anno passado á camara que esta resolvesse uma questão que tinha pendente no ministerio da fazenda.

Este requerimento, que tinha sido enviado á commissão de fazenda da camara de então, ficou sem ser resolvido, em consequencia da dissolução d'essa camara.

Peço a v. ex.ª, sr. presidente, que dê ordem para que da secretaria seja remettido á actual commissão de fazenda.

O sr. Presidente: — Está sobre a mesa uma proposta apresentada pelo sr. deputado Carlos Ribeiro, e admittida á discussão na sessão de antes de hontem, para ser nomeada uma commissão de quinze membros, que, funccionando no intervallo da actual sessão legislativa, e da que se lhe seguir, examine varias questões indicadas na mesma proposta.

Tinha-se resolvido, como eu já indiquei na sessão de hoje, logo depois da leitura do expediente, que entrasse em discussão quando estivesse presente algum membro do governo e o auctor da proposta.

Como estão agora presentes um membro do governo e o