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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

hoje estou, de que este empregado de fazenda é um cavalheiro, que me está ligado pelos laços estreitos da consanguinidade.

As nossas relações de sangue nada tem com a nossa posição na camara. Mas v. ex.1 ha de comprehender que cada um dos membros d'esta camara não póde ouvir em silencio uma palavra só, que envolva a menor sombra de censura a um seu parente ou amigo, quando do mais a mais a consciencia lhe diz que esse amigo ou parente é dos funccionarios mais distinctos que ha no paiz.

Posso assegurar á camara que, embora o illustre deputado entendesse que não devia pronunciar o nume do empregado que assignou o manifesto da propaganda, e se empregado não era nem o delegado do thesouro, nem o escrivão do fazenda.

Ora, não sendo nem o delegado do thesouro, nem o escrivão de fazenda, mas outro empregado de fazenda, já v. ex.ª vê que a influencia de um nome no manifesto não era cousa para impressionar qualquer individuo.

Notem, porém, v. ex.ª e acamar:: que quem fez esta observação do um empregado de fazenda assignar o manifesto do propaganda, em uma epocha eleitora], foi um deputado progressista. Nenhum de nós, membros do partido regenerador, nem na camara, nem na imprensa, onde muitos têem logar, estranhámos que fosse profusamente distribuido um convite para um comicio, convite, em que o governo era accusado, e que era assignado pelos seus empregados.

Eu, louvando o governo pela tolerancia de que então deu uma prova incontestavel; louvando a camara, porque nenhum de nós se levantou para estranhar o facto que estava submetido á nossa apreciação; louvando os illustres membros de partidos adverso. á actual situação que firmaram aquelle convite, e que Curam fallar no comicio; louvando tudo isto, tenho pezar em que da parte do partido progressista se levantasse alguem n'esta casa, para estranhar que um empregado de fazenda assignasse um manifesto de propaganda, ou umas certas carias; e aproveito a occasião par* declarar a s. ex.ª que os membros do partido progressista, convidando o povo, não em um districto, mas em todo o paiz para certa questão que podia agitar os espiritos, prestaram grande serviço, porque para mim prestam tanto serviço áquelles que dizem a verdade, como os que praticam claramente o erro, porque praticar claramente o erro é tambem o meio do fazer conhecer a verdade.

Não vi manifesto de, propaganda n'aquelle circulo. Na occasião da lucta eleitoral em Vianna ou não estava n'aquella cidade, por motivos que julgo abusado dizer á camara, e que nada lêem com a minha posição de membro do partido regenerado porque são apenas da minha posição determinada por cireumstancias du familia.

Conservei-me quasi estranho á lucta eleitoral em Vianna do Castello, e não tenho duvida alguma em declarar que com isto não prejudiquei a candidatura que foi vencida.

Mas se esse manifesto tinha o nome do empregado de fazenda, a que me parece que o illustre deputado se referiu, eu posso assegurar á camara o facto que vou narrar-lho.

Esse empregado, que se desempenhou com distincção dos seus cursos na universidade do Coimbra, dedicou se á nobilissima profissão de advagado, e por ella vivia, e não solicitou collocação alguma do poderes publicos nem de partido nenhum.

Foram pedir-lhe que acceitasse um cargo politico no seu concelho, eu fui um dos que com elle mais insistiram para prestar esse serviço, e desempenhou-se d'essas funcções por fórma, que ainda hoje é respeitado por todos os seus adversarios; já se vê, mantendo se sempre em immenso grau na estima dos seus partidarios.

Resolveu depois seguir a carreira da magistratura do ministerio publico, obteve em. concurso a classificação de bom por todos, e ficou muito satisfeito n'uma comarca de terceira classe, onde era estimado por toda a gente.

E sabe v. ex.ª como firam remunerados os serviços importantissimos que elle prestou, o que eu aliás não quero referir, porque não quero desviar mais a attenção da camara do assumpto principal que a occupa e deve occupar, mas que constam de. documentos passados pelo procurador regio do Porto?

Foram remunerado, com uma transferencia para uma comarca, embora de primeira classe, mas muito distante, e unicamente porque aquelle distincto magistrado tinha, não direi a culpa, porque isso não era inherente á vontade d'elle, mas o defeito do ser meu parente!

Quem praticou esse acto de transferencia em epocha já distante de eleições geraes de deputados, foi o sr. Mexia Salema.

E devo dizer a v. ex.ª que havia já muito tempo que a magistratura do ministerio publico não estava habituada a presenciar actos taes.

E o ministerio de que fazia parte o sr. Mexia Salema levo o apoio do illustre deputado a quem me refiro, não nesta casa, mas onde era necessario trabalhar.

Esta transferencia degolou muitissimo o magistrado a quem estou alludindo, o creio que foi por este facto que elle abandonou a carreira do ministerio publico.

Eu desejava que alguem do partido progressista me dissesse se o empregado de fazenda não pedia apresentar-se candidato a deputado, embora exercesse um emprego incompativel com as funcções de deputado.

V. ex.ª e a camara sabem muito bem que isso seria motivo apenas para elle ter do optar entro um logar de deputado e outro que com elle fosse incompativel.

Creio que ninguem contestará que um empregado de fazenda, elegivel para o logar de deputado, se podesse apresentar como candidato em qualquer circulo pelo qual fosso elegivel, e muito menos o póde negar o illustre deputado a quem me estou referindo, que tambem é um distincto funccionario dependente do ministerio das obras publicas.

Pois se o illustre deputado póde dar o seu nome para bandeira da lucta eleitoral, que muito poderá ser que outro cidadão, tambem funccionario, escrevesse uma carta, on assignasse um manifesto para combater a eleição do illustre deputado?

Eu creio que para um empregado influir dignamente, como cidadão, n'uma eleição, não é preciso ser da opposição.

Tenho a honrado ser empregado publico, e já influi em eleições pela opposição, e hei de influir quando o julgar conveniente, e tambem pelo governo que apoiar.

Permitta-me v. ex.ª que affirme á camara, que não tem rasão o illustre deputado para attribuir a influencia politica a demissão do escripturario de fazenda de Vianna.

Não sei quaes foram as rasões que determinaram essa demissão, mas assevero que não foi influencia politica.

Em 1874 eu, que tinha apoiado o governo durante quatro annos, apresentei-mo candidato á eleição geral pelo circulo de Vianna. Sabe v. ex/ quem foi o chefe da opposição que se levantou contra mim?

Foi o secretario geral do districto. E o secretario geral continuou no seu logar, e lá está.

N'essa occasião tive contra mim muitos empregados do confiança do governo. E não estranhei o facto. Hoje estou muito satisfeito de assim ter procedido, e de poder dizer que por minha cansa ainda se não deu uma" demissão. Nunca ninguem me accusou de ler promovido a demissão de qualquer empregado. (Apoiados.)

E effectivamente sendo ministro do reino o sr. Antonio Rodrigues Sampaio, que ainda hoje póde dar e dá lições de verdadeira liberdade a todos os homens do todos os partidos (Muitos' apoiados.), o sr. secretario geral podia usar livremente do seu direito, como effectivamente usou, sem que ninguem, lhe pedisse contas por isso.

Estou convencido de que o illustre deputado, quando apresentou c»ta accusação, não estava persuadido de que