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1738 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

recções que o mais rigoroso criterio scientifico possa exigir, são concordes assim como todos os dados historicos, em attribuir a provincia do Alemtejo, nos reinados de D. Diniz ate D. João II, mais população do que nos reinados que se seguiram ao de D. Manuel, e, em alguns pontos da provincia, mais população do que hoje tem.
«É o que claramente se deduz dos tres documentos mais antigos que directa ou indirectamente dão a conhecer o numero de habitantcs do paiz em tres differentes epochas. Refiro-me: 1.°, ao arrolamento dos besteiros do conto, feito no reinado de D. Diniz, mas que se attribue com bom fundamento ao tempo de D. Affonso III, entre 1260 e 1279; 2.º, a um identico arrolamento de 1422, no reinado de D. João I; 3.°, ao numeramento ou recenseamento ordenado por D. João III em 1527. Sobre os dois primeiros arrolamentos baseou Soares de Barros os calculos que depois foram plenamente acceites por Balbi e mais tarde por Rebello da Silva. Segundo estes calculos a provincia de maior população especifica, no primero quartel do seculo XV, seria o Alemtejo. Mesmo considerando o numero absoluto dos habitantes, o Alemtejo apresentava um numero mais elevado.
«Mas se se comparar o resultado dos calculos referidos a 1422, com o numeramento de 1527, ver se-ha que, durante um seculo, a população diminuiu mais de um terço, e de primeira que esta provincia era na escala da população especifica passou ao ultimo logar, que ainda boje occupa. Beja, por exemplo, parece que contava cerca de 17:000 almas em 1422, mas em 1528 descera a 14:000. Actualmente pouco excederá a 8:000 o numero de seus habitantes.
«Nao são sómente estes elementos, aliás de pouca confiança, que levam a admittir uma grande diminuição da população n'esta provincia.
«Os elementos fornecidos pela historia confirmara aquella conclusão. Mas bastam dois factos historicos para a explicar. O primeiro foi a expulsão dos judeus e mouros em 1490, grave erro politico do começo do reinado de D. Manuel, e de que bem depressa este monarcha reconheceu os inconvenientes, infelizmente irreparaveis.
No segundo foi a emigração incessante do reino para os novos paizes descobertos na Africa, causa continua e progressiva do enfraquecimento das forças e dos recursos do paiz.
«Quem folheia as chronicas d'esta epocha e das que se lhe seguiram, encontra a cada passo indicações o provas da influencia que aquelles dois factos historicos exerceram na diminuição da população rural.
«Mas, alem d'estes documentos estatisticos e historicos, outro genero de documentos de caracter mais positivo e incontestavel, fornece ainda hoje provas materiaes que confirmam todas as deducções que d'aquelles se tiram. Consistem esses documentos nos vestigios de habitações em localidades, em herdades que ha longos annos se acham despovoadas. Algumas d'essas herdades estão cobertas de mato, e não ha memoria de que em tempo algum tivessem sido cultivadas.
«Encontram-se esses vestigios tanto no concelho de Beja como no de Cuba.
«N'este ha tradição de haver existido uma villa denominada de Malk-Abraham em sitio hoje completamente deserto, no Outeiro do Tijolo, sobranceiro ás hortas do Manteigas.
«E não é só a tradição: em documentos antigos faz-se referenda a uma povoação chamada Malcabron, sobre a qual tinha direitos e padroado D. Estephania de Alvarenga, assim como em Villa Alva, direito e padroado que D. Diniz adquiriu para a corôa por troca.
«Fosse ou não uma villa ou aldeia, o que e facto e existirem n'aquelle local muitos vestigios de edificações. De resto, aquella designação e a da ribeira que corre pelo norte do outeiro, e tambem de tres herdades, uma da quaes vem entestar com o cume d'este monte.»
A producção cerealifera acompanhará e corria parallela com o desenvolvimento da população, chegando a ser nos seculos XIII e XIV, por vezes extraordinariamente grande, e bastante para as necessidades da população.
É o que se infere do seguinte trecho:
«O estado da agricultura e a extensão das culturas deveriam naturalmente seguir em perfeita correlação o estado da população. A diminuição de braços para trabalhar a terra deveria corresponder uma diminuição na area cultivada.
«É o que effectivamente succedia.
«Todos os escriptores dos seculos XV e XVI alludem á grande abundancia de cereaes que houve no reino durante o seculo XIII e parte do XIV.
«O mesmo se não póde dizer da grande escassez de cereaes nos fins do seculo XVI, esta era sem duvida já a resultante de tantas e diversas causas do definhamento da agricultura, e achava se em notavel harmonia com o facto incontestavelda grande diminuição da população Alemtejana no principio d'esse seculo.
«É que a superficie das terras lavradas estava muito diminuida por essa epocha, attesta-o em 1599 Duarte Nuno de Leão, que diz ter-se deixado converter muitas terras lavradas em maninhos cobertos de matos.»
E ácerca do progresso actual, embora lento das culturas, diz o sr. Gerardo Pery:
«A area cultivada tem augmentado muito nos ultimos vinte annos, e em cada anno se realisa mais uma conquista sobre a charneca.
«Mas não se deve daqui inferir que a cultura esteja muito mais adiantada ou occupe muito maior area do que nos tempos antigos. particularmente no tempo dos arabes, pois é certo que se encontram ainda hoje restos de reprezas destinadas para a irrigação, e que são evidentemente de construcção arabe, em sitios ermos e actualmente cobertos de matagaes, o que não só denota cultura onde hoje ella não existe, mas boa e apurada cultura.»
sobre a existencia de extensos vinhedos em terrenos hoje abandonados, noticia o sr. Pery o seguinte:
«Apesar da falta de indicações positivas, tudo leva a crer que a vinha foi desde tempos remotos uma das principaes culturas do termo de Villa de frades, a que antigamente pertenceu Cuba, estendendo-se por Villa Alva e Villa Ruiva.
«A oliveira acompanhava sempre a vinha.
«De documentos do começo do seculo XVI se deprehende que eram muito reputados os vinhos brancos d'esta região vinicola, e de antigas escripturas de aforamento, assim como dos tombos dos conventos se vê que nos seculos XIV e XV existiam ali muitas vinhas.»
concluindo, sr. presidente, o que tinha a dizer, com relação a estas monographias agricolas ácerca dos concelhos de Beja e cuba, vejo o seguinte, que o sr. Pery avalia em mais de 413:769$560 réis o valor da producção agricola d'este concelho, e m 154:119$560 réis o seu rendimento liquido, do qual ha a deduzir uns 12:000$000 réis de contribuições geraes e locaes, apenas 8 por cento d'aquelle rendimento. O encargo tributario que não excedia em Beja a 2$462 réis, em Cuba attinjia a 2$900 réis, por serem mais elevadas n'este concelho as contribuições parochiaes.
Consultando agora o annuario do sr. Pedro de Carvalho, acho que o rendimento collectavel do concelho de Cuba não excedia a 54:004$000 réis, isto é, o terço apenas do algarismo fixado pelo sr. Pery para o rendimento só das propriedades ruraes e industria agricola.
Mais uma demosntração de quanto eram menos fundadas as asserções aqui produzidas pelo sr. deputado dias Ferreira, e convem ainda acrescentar a esse respeito que, seguindo sempre o Annuario por vezes citado, a totalidade dos impostos minucipaes pagos em 1878-1879 não exce-