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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Santos e Silva, pronunciado na sessão do 1.° de setembro, e que devêra publicar-se a pag. 482 do Diario da camara.

O sr. Santos e Silva (subindo á tribuna): — Sr. presidente, permitta me v. ex.ª e permitta-me a camara, que após os discursos, nervosos e eloquentes, que se têem pronunciado n'esta casa, eu colloque as minhas modestas reflexões, que farei todos os esforços para que não sejam longas, principiando por ter a minha moção de ordem, que é uma emenda ao § 6.° da resposta ao discurso da corôa.

«Reconhecendo como urgente e indeclinavel a questão de fazenda, de que é indispensavel tratar, sem delongas ou adiamentos, a camara affirma a necessidade de manter e de fazer escrupulosa e fielmente respeitar a liberdade do voto, e todos os mais direitos individuaes e politicos consignados e garantidos no codigo fundamental.

«A camara não abrirá tambem mão de outros assumptos de vital interesse, que assegurem a tranquillidade e a independencia, a instrucção e a viação, melhorem as condições administrativas e o governo economico dos municipios sobre as bases de uma prudente descentralisação, e desenvolvam a prosperidade moral e material, tanto no continente como nos vastos dominios que possuimos alem mar.»

Sr. presidente, não ouso formar juizos sobre o estado presente d'esta discussão, mas não serei talvez muito temerario, se me atrever a dizer, que ella vae descambando, se não descambou já, para o periodo de declinação. Subiu até onde a podiam guindar a eloquencia e a paixão.

É necessario agora evitarmos, que seja ferida de mortal prostração.

Colhâmos o fructo, quando está maduro (apoiados). Tomemos a tempo resoluções serias e dignas, se queremos que a opinião publica nos dê rasão (apoiados).

Sr. presidente, não podemos deixar de confessar, que esta discussão tem corrido agitada talvez de mais. Têem sido violentos os ataques, e não menos vigorosas e energicas têem brotado as replicas das cadeiras ministeriaes.

As reciprocas retaliações substituidas á polemica, que nem sempre se tem mantido na serenidade, de espirito, e na placidez de argumentação, que as conveniencias parlamentares requerem, deram a um documento, de si inoffensivo, de si cortez, a feição de uma alta questão politica, apaixonada, vehemente, cortada muitas vezes de scenas tumultuarias, de ironias pungentes, de provocações duras e de apostrophes crueis.

O que n'estes ultimos tempos fôra um campo neutro, em que os adversarios podiam avistar-se, coexistir e cumprimentar-se, acha-se mudado em arena de debate a todo o transe, em que a opposição e o governo apparecem como querendo devorar-se, ou pelo menos não depor as armas, emquanto alguem não lograr cravar o estandarte da victoria sobre as ruinas, ou sobre os despojos, dos que succumbirem n'este duello de morte.

Espantosos devem de ter sido os delictos e os crimes do governo (muitos apoiados); poderosissimas as causas, que têem produzido tão intensas, tão extensas e tão atrozes accusações (muitos apoiados); imperdoaveis os erros e desvios d'esta administração (muitos apoiados); imprudentissima a sua falta de respeito pelas leis e pela moral politica e social (muitos apoiados).

É isto o que a logica affírmaria desde já, se a prudencia nos não aconselhasse, que é bom estarmos algum tanto precatados a respeito do nosso caracter meridional, com todo o seu cortejo de exaltações occasionaes e de amor proprio exagerado, que não raro alevanta ás alturas de uma these politica transcendental aggravos pessoaes, e confunde o egoismo ou a paixão de cada um com os interesses nacionaes e com o bem geral do paiz.

Sr. presidente, não pretendo devassar as intenções de ninguem, nem é meu proposito distribuir censuras a homens ou a partidos que têem assento e representação n'esta casa.