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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

gnar como governamental ou ministerial um candidato, ou um deputado eleito qualquer (muitos apoiados).

Eu não aceito, detesto, a doutrina anarchica, dissolvente, deleteria, de que, quando um partido, que tem principios, vida autocratica, historia e programma, aconselhado por dadas circumstancias, se resolve a apoiar com certas condições um governo, em pontos restrictos de administração, ou de finanças, que não destoem dos principios do partido alliado, a logica obriga esse partido a aceitar cegamente, fatalmente, todo o programma politico, administrativo e financeiro d'esse governo. Era absurda uma tal subserviencia, que degradaria os homens e infamaria os partidos (apoiados).

Nem as mais freneticas maiorias, nem as mais enthusiasticas confrarias politicas são capazes de affirmar em pleno parlamento similhante proposição (apoiados).

Eu interrogo os amigos pessoaes do sr. marquez d'Avila e de Bolama. Pergunto-lhes aqui muito á puridade: se lhes impozerem a condição, de que sempre, em todos os casos, hão de, com os olhos cerrados do espirito, e com a consciencia agrilhoada, subordinar-se á politica e ás opiniões do seu mestre, chefe e amigo, são capazes de aceitar tal humilhação? Respondo por elles: não (apoiados).

Nenhum partido politico deu jamais apoio a um governo com tão opprobriosas condições. Muito menos o poderiam dar homens e partidos independentes, que em attenção a certas circumstancias e difficuldades que atravessam não raro os paizes, são aconselhados a apoiar alguns assumptos restrictos em administração e em finanças, que não se afastem dos principios geraes, que cada um professa (apoiados). Todos sabem que ha pontos communs em todos os programmas; que ha questões em que todos os governos e todos os partidos estão conformes (apoiados). Apoiar um governo por esta fórma não é abdicar (muitos apoiados). É servir o paiz, mantendo cada partido pura e intemerata a sua bandeira. (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.) É o que temos feito (apoiados).

Sr. presidente, quem quizer exemplos de lealdade politica e de maxima abnegação, ha de colhe-los abundantes no partido progressista historico (muitos apoiados). Por ella sacrificou elle em certa epocha a sua immensa popularidade (muitos apoiados); erro grave, que os partidos não podem duas vezes impunemente commetter (apoiados). Por ella deixou este partido algumas vezes de tomar parte no poder, o que pouco ou nada vale, mas o que nem todos fazem (apoiados). Estes factos não se podem contestar. Liquidemos, porém, o assumpto principal.

Sr. presidente, o principio da reeleição não foi posto nem imposto por nós (apoiados). O principio da reeleição nasceu, como todos sabem, de um acto espontaneo do governo, sem insinuação e sem intimações algumas da nossa parte. Brotou puro e genuino do cerebro do sr. marquez d'Avila e de Bolama, como Venus da espuma do mar! (Riso.)

Fez o governo ao partido historico a graça especial de não mandar guerrear pelas suas auctoridades, quero dizer, pelos seus amigos e pelo seu partido (riso), o que é mais curial e constitucional, quasi todos os homens, não todos, que o apoiaram aqui lealmente, que o serviram com a maxima abnegação, com o mais estremado desinteresse, e ás vezes até compromettendo o futuro do proprio partido, em todas as questões graves, que se alevantaram; especialmente depois que saíram do governo o sr. bispo de Vizeu e o sr. Saraiva de Carvalho (apoiados).

Mas a verdade é, sr. presidente, que todos esses homens tinham raizes, influencia propria, ou pelo menos amigos importantes nos circulos por onde foram reeleitos. A prova é facilima e singela. Não me consta que o sr. bispo de Vizeu mandasse proteger officialmente os candidatos historicos, que foram eleitos em setembro passado. Não digo que os mandasse guerrear a todos, nem eu agora aqui discuto a politica eleitoral do sr. bispo de Vizeu.

Mas é facto, que não necessitava a protecção official do sr. presidente do conselho de ministros quem logrou vir ao parlamento no tempo do sr. bispo de Vizeu (apoiados).

Não precisavamos por consequencia de favor nenhum ministerial (apoiados).

Quanto aos outros collegas nossos, que lidam ao lado do partido historico, e historicos são, sabe Deus as lutas que alguns travaram, sabe Deus as difficuldades que alguns d'elles venceram, para lograrem os seus diplomas, contra a vontade, contra os esforços não sei de quem... (apoiados).

Eu não estou aqui accusando ninguem; não estou mesmo justificando o meu partido, que não precisa de justificações. Estou pulverisando insinuações que se lançaram sobre nós; que se tem feito em certa imprensa; que se têem tambem propalado em voz baixa. Estou reduzindo ás suas verdadeiras proporções accusações que se improvisaram.

Não sei se ha n'este processo delinquentes. Se os ha, não estão no partido historico (apoiados).

Não resuscitarei letigios findos, nem avivarei questões pessoaes; vou resumir este assumpto, afiançando á camara, afiançando ao meu paiz, com a mão sobre o coração, em nome do partido historico, de quem ouso ser n'este momento orgão, que nós a nenhuns pactos faltámos, porque nenhum compromisso contrahimos (muitos apoiados).

Somos o que sempre fomos; cooperadores modestos, mas independentes, mas livres, de qualquer administração que se proponha resolver as grandes questões, em que todos estamos empenhados (muitos apoiados).

Sr. presidente, permitta-me v. ex.ª ainda, que eu abra aqui um parenthesis, que não levará muito tempo a fechar, e que diz respeito a um assumpto importante que occorreu ha dias n'esta essa. Quero referir-me á rejeição de um projecto de lei, que tinha em vista a reformação radical do codigo fundamental.

Eu fui um d'aquelles que não poderam pronunciar a sua opinião por meio de seu voto n'esta casa, porque não estava aqui n'essa occasião. Fui tambem dos poucos que não se explicaram. Declaro francamente a v. ex.ª que, se alguma vez a tive, passou, e ainda não voltou, a vontade de me explicar.

O sentimento que ha dois dias me tem dominado, desde que ouvi taxar de illiberal e reaccionario o partido, a que tenho a honra de pertencer, é o de calar-me.

Ha consciencias que se humilham, quando se justificam. Ha partidos que se abatem quando ae defendem (Vozes: — Muito bem.)

Por isso eu louvo o meu talentoso e illustre amigo o sr. José Luciano de Castro por ter, no seu brilhante improviso, passado em claro as apostrophes iracundas, que um dos mais fogosos oradores d'esta casa, palavra aliás litteraria do partido reformista, lançou contra nós.

Não sacrifiquemos aos impetos tribunicios, nem aos jactos de oratoria a verdade dos factos! (Apoiados.) Não fica mal a ninguem, e muito menos a um homem novo, que tem futuro n'este paiz, porque tem probidade, tem talento e tem amor ao trabalho (apoiados), não fica mal a um homem novo, digo, ser mais comedido na sua phrase e nas suas apreciações, a respeito de partidos, que têem paginas gloriosas nos fastos liberaes d'este paiz (applausos).

Sr. presidente, é conveniente sermos tambem lidos na nossa historia politica e constitucional (apoiados). Os partidos podem, movidos por imperiosas circumstancias, que predominam na sua consciencia, não aceitar, em dados casos, e em determinadas occasiões, a reforma do pacto fundamental do paiz, ou porque seja inopportuna, ou porque seja radical, ou porque seja vaga e ilimitada, ou por outras quaesquer rasões, honrosas para todos aquelles que por ellas se guiem. Isso, porém, não auctorisa ninguem a vir aqui ao parlamento lançar um estigma de illiberaes, de retardatarios, de morosos, de scepticos, sobre todos os partidos em assumptos de liberdade (apoiados). Não póde ser (apoiados).