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1552-B DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

que lhe devia escancarar os olhos a quem os quer ter tão fechados.

Como comprehende o governo que, discutindo-se um projecto de caminhos de ferro, nem um só engenheiro da camara o defendesse, quando ha aqui muitos habilissimos e peritos n'esta especialidade?

Este projecto, diz-se lá fora, que é para favorecer amigos, que contam apanhar grossa maquia.

Estas cousas sabe-as toda a gente, que anda na politica, o se um ou outro tem reservas, eu não as tenho e digo tudo, e senão querem, que eu diga as cousas não mas contem. Quando eu souber qualquer cousa, que prejudique os interesses do meu paiz, venho para aqui pôr tudo era pratos limpos.

Se, o sr. ministro da marinha tem dois caminhos a seguir, um dar do arrematação este caminho de ferro a uma sociedade ou empreza, e outro a construcção por conta do estado, porque não segue este segundo, que é o mais moral, e vão metter-se em viellas tortuosas e suspeitas?

Alem d'isto, o sr. Julio de Vilhena, devia tambem tirar a conclusão do que são verdadeiras as declarações que acabo de fazer pela votação nominal que acabou de ter logar. Como todos viram a votação foi das mais insignificantes que aqui se lêem dado, desde que eu tenho a honra do ser deputado.

A votação nominal mostrou que votaram a favor .... 54
Contra .... 19
Somma .... 73
O numero de deputados são .... 169
Não votaram portanto .... 96

Já v. exa. e a camara vêem, que foi maior o numero de deputados que não votaram, do que os que votaram.

óde daqui concluir-se, que, se todos os deputados estivessem presentes o projecto seria rejeitado.

Mas ha mais.

O numero de deputados da maioria são .... 121
Votaram .... 54
Differença .... 67

Deixaram portanto de votar 67 deputados da maioria!

Não vê o sr. Julio de Vilhena aqui a prova evidente de que os seus proprios amigos não estão de accordo com este projecto?!

Mas ainda ha mais.

Não vê o sr. Julio de Vilhena aqui a prova evidente de que os seus proprios amigos não estão de accordo com o projecto?!

Não notou v. exa. e não notou a camara que ainda ha pouco haviam mais deputados na sala?

O que quer isto dizer?

Quer dizer, que muitos deputados da maioria saíram para não votarem.

Quer mais claro?

E quem sabe qual o sacrificio, que fizeram os que votaram!

O governo sabia, que os seus amigos não queriam votar este projecto, empregou as maiores instancias para os demover do seu propósito e ainda assim obteve os votos que se viram.

Não é isto mais eloquente do que todas as votações em contrario?

Creio que sim, mas o governo faz que não comprehende.

O que elle quer é o projecto tal qual está!

Eu podia levar quatro ou cinco horas a discutir este projecto, mas não o faço, porque quero ser breve, e vou apenas a largos traços mostrar até que ponto é verdade o que se suspeita.

Pois o sr. ministro da marinha não encontra na digna e honrada corporação dos engenheiros portuguezes um, competentemente habilitado e probo, que lhe vá dirigir o caminho de ferro?

Se julga, que uma companhia póde construir mais barato, e porque não tem confiança nos engenheiros.

O sr. ministro não encontra entre os engenheiros portuguezes, que tantas provas de honradez e de intelligencia têem dado, um que colloque á testa da construcção d'este caminho de ferro?

Isto e uma offensa, que s. exa. faz aos engenheiros portuguezes, offensa que elles não merecem.

Tem-se encarregado differentes engenheiros de obras importantes, e agora diz-se que só uma companhia póde construir barato? Não comprehendo!

Os factos vão-se precipitando de tal maneira, que toda a gente lança a suspeita sobre os individuos que se sentam nas cadeiras do poder, e isto é preciso que acabe de uma vez para sempre, porque todos os individuos são honrados, e é necessario, que se proceda de maneira, que não se dê occasião a suspeitas.

Eu quero, que os ministros, estes ou outros quaesquer, tenham o prestigio necessario para poderem manterem-se dentro da esphera elevada do poder, mas para isso, é necessario que não haja occasião para suspeitas, que dão força aos boatos, que se espalham, nem que favoreçam os interesses dos amigos em prejuizo do thesouro. O paiz está convencido de que os sacrificios que faz, não são bem administrados.

O projecto de que se trata e que nos é apresentado para votarmos, não é propriamente um projecto, e nem ao menos um ante-projecto, é apenas um reconhecimento, que o proprio engenheiro que o fez, diz que precisa ser rectificado em um ou outro ponto. Se o reconhecimento tem defeitos, como quer o governo adjudicar desde já a construcção do caminho de ferro e basear essa adjudicação n'um estudo incompleto?

E é, sobre uns estudos precipitadamente feitos, que s. exa. vae basear uma proposta de lei, e que a apresenta á camara, em que uns dizem bem, outros dizem mal! O projecto tem defeitos, como diz o proprio engenheiro, e por isso mesmo não se devia sobro elle basear uma proposta de lei.

Ha uma circumstancia tambem notavel. Eu vejo que no projecto se marcou 17 contos de réis por kilometro para os primeiros 150 kilometros até á base da Chella; mas eu vou ao projecto do engenheiro e vejo que o custo médio d'esses 150 kilometros são 14 contos de réis proximamente, contando já com a quantia de juro para o encargo do capital durante a construcção. Portanto, como é que se apresenta um projecto calculando o custo de 17 contos de réis por kilometro, quando o projecto do engenheiro marca 14 contos de réis ? Pois não está ahi uma grande margem de lucros, que seduz os que estão por detraz dos empreiteiros futuros?

Eu mostro á camara os calculos:

O governo garante, como declara na base 5.ª da proposta que se discute, 17 contos de réis por kilometro para os 150 kilometros desde Mossamedes até á base da Chella; logo:

17:000$000 X 150 .... = 2.550:000$000

Dá mais, segundo a base 6.ª, uma garantia de juro, que póde ir até 6 por cento, mas cujo encargo não poderá exceder 47 contos de réis para a secção da Chella; portanto, o capital a que corresponde estes 47 contos de réis a 6 por cento, é .... 783:335$000
Capital total .... 3.333:335$000

Portanto o capital é 3:333 contos e não 2:250 com diz a proposta.