O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1552-F DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

ram por anuo 150:000 arrobas de algodão; hoje, porém, devido á falta do recursos pecuniarios de seus donos, está essa exportação reduzida a 15:000, custando-lhe o carreto para Mossamedes 500 réis por arroba.

«A aguardente ali fabricada não póde ser transportada ao porto do embarque por motivo da carestia dos carretos e riscos da jornada.»

Os illustres signatarios do requerimento a que me estou referindo, não occultam que o caminho de ferro tem de atravessar regiões estereis e faltas de agua, e que o movimento de passageiros é pequeno, mas esperam que augmente com os doentes que para ahi hão de ír convalescer.

Ha, em parte, uma grande poesia n'isto, porque se nos fiassemos no rendimento do caminho de ferro pela receita que nos ha de vir do movimento dos doentes, estavamos bem servidos.

A maior parte dos doentes que porventura lá irão convalescer-se serio empregados publicos, que o governo tem de dar transporto gratuito. (Apoiados.)

Ouça a camara ler este periodo do requerimento:

«Pelo motivo da falta do agua e por outras causas, recusa-se o gentio d'ali e o de cima da serra a transportar cargas para Mossamedes, ao passo que se promptifica o offerece para as levar de Campangombe ao planalto e vice-versa.»

Nem agua ha para alimentar as machinas.

Agora continúa:

«Sendo relativamente pequeno o movimento actual de passageiros entre Mossamedes e as colonias ao interior, pela excessiva despeza e incommodos de jornada, e tambem pela falta de carregadores de tipoias, esse movimento augmentaria e rapidamente, com a corrente de emigração, com as viagens de recreio dos visitantes e dos doentes que para ali iriam convalescer sob a influencia d'aquelle clima, evitando uma viagem demorada e despendiosa á Europa.»

Todos sabem que mesmo em Portugal os medicos receitam ares patrios aos doentes para convalescerem, quanto mais na Africa.

O doente muitas vezes o que necessita é de distracções, e os que estão em Africa necessitarão restabelecer-se da nostalgia que lhe produz o clima inhospito em que vivem e as saudades da familia.

Continúa ainda:

«Os hoteis e casas de saude que hão de fundar-se, tanto em Mossamedes, como no plan'alto, se povoarão com essa gente e com os doentes da provincia que para ahi irão, aconselhados pelos medicos.»

Se as rasões aconselhadas para se construir este caminho de ferro fossem apenas estas, a camara responda o que deveriamos nós fazer.

Quero ainda mostrar á camara o modo como o governo procede e em que elle baseia o seu projecto, para nos vir pedir que o approvemos.

Como se sabe, diz o sr. ministro da marinha e diz o relatorio da proposta de lei que tudo foi baseado no reconhecimento do engenheiro, que não defendo pelas rasões que a camara facilmente comprehende.

Tenho ouvido accusar os estudos, que tambem não defendo, pela mesma ordem de rasões, e tambem porque me falta a competencia. Os que criticam o trabalho a que me estou referindo, certamente não o leram, porque se tivessem lido o relatorio e estudado todo o trabalho, certamente não se arvorariam em censores.

O que diz o engenheiro?

Eu vou mostrar á camara o que elle diz, logo no começo do seu relatorio:

«São, porém, indicações colhidas com muita precipitação e rapidez, e ião imperfeitas, que me não atrevo a envial-as a v. exa. como trabalho official.»

Eu creio que isto é claro.

O engenheiro declarou que o seu trabalho está imperfeito pela precipitação e rapidez com que se era obrigado a proceder.

Pois é sobre um trabalho d'esta natureza que o governo assenta o seu projecto de lei e vem pedir que o approvemos.

Bem fizeram os distinctos engenheiros da maioria em recusar o seu voto a este projecto.

O que era regular e logico, era o governo mandar fazer os estudos definitivos, e sobre elles basear o projecto que fizesse approvar pela camara.

Se a camara lesse o relatorio do engenheiro veria que ali se adduzem rasões, pelas quaes nos faz hesitar na approvação d'este projecto.

Vejam o seguinte periodo:

«Não é por emquanto o districto de Mossamedes theatro de um importante trafico commercial, exercido sobre mercadorias de alto valor, como acontece em Loanda e em Benguella, nem tão pouco se conhecem ainda n'elle minas que assegurem a formação rapida de grandes fortunas.

«Comtudo, ha ali condições bastante vantajosas para contentarem o modesto colono portuguez, que sendo na grande generalidade pobre e proletario, apenas capaz de ambições limitadas, faceis de realisar por emprehendimentos agricolas ou pelo pequeno commercio n'aquella parte da Africa.

«O plan'alto que se desenrola em suaves ondulações para leste da Chella é dotado de um clima benigno e agradavel, como está sufficientemente provado pelas experiencias de colonisacão começadas na Huilla em 1853 e repetidas na humpata, Lubango e Chibia, modernamente a partir de 1881.

«O solo é regularmente fertil, bem irrigado, proprio não só para as culturas alimenticias, mas ainda para a producção de generos oleoginosos, canna saccharina e algodão.

O paiz é povoado de indigenas dados á pastoricia e á cultura de cereaes. Um horisonte sem limites para producções agricolas e pecuarias, e a sua permutação por artigos manufacturados, está portanto ali aberto ao colono arrojado e emprehendedor. Taes circumstancias bastam para aconselhar ao emigrante, disposto a engajar-se para ír ser um proletario em patria estranha, a que de preferencia ás campinas da Humpata, do Lubango ou do Chipanpunhime aonde depressa attingirá um bem estar relativo, adquirindo alguns meios de fortuna propria, e sendo util ao paiz a que está ligado por forças de que ninguem se desprende sem sacrificio.

Se tivesse tempo para poder examinar todo o relatorio do engenheiro a camara, veria que não póde concluir-se à priori a, excellencia das vantagens, que nos ha de trazer o caminho de ferro como se nos diz.

Por aqui termino as minhas considerações pedindo ao governo que reflicta e acredite que o que eu aqui digo é o echo da opinião publica.

Se s. exa. entregar o caminho de ferro a uma companhia vae attrahir sobre si uma suspeita verdadeiramente extraordinaria, que não deve querer que pese sobre o seu caracter; mas não sei se outros mais malevolos poderão dizer que s. exa. leva rasca na assadura, quando não leva. (Apoiados.)

Todos nós conhecemos o caracter do illustre ministro da marinha, (Apoiados) e fazemos-lhes a devida justiça; mas aquelles que não conhecem podem não lhe fazer a que s. exa. merece e eu quero que se lhe faça, não só a v. exa. como a todos os ministros do partido regenerador e do meu partido.

Desejo que todos os ministros estejam collocados em situação tal, que nunca se possa suspeitar d'elles.

Vozes: - Muito bem.