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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

As familias não gostam d'estas difficuldades. Têem pressa do diploma que habilita os seus filhos pura adquirir um emprego; mas o governo deve ter coragem para arrostar cora a impopularidade que lhe vem de um justo rigor. A maioria do paiz estará com elle, porque interessa em que 03 cargos publicos sejam bem desempenhados.

Muito quereria ou dizer do ensino secundario, a que a Allemanha chama real, a Belgica professional, a Italia technico, e a França especial.

Isso não se podia fazer em breves palavras, o não desejo demorar a approvação d'este orçamento.

Vamos á proposta que annunciei. Tom por fim encorporar com a verba das despezas diversas da academia polytechnica do Porto a quantia de 4:000$000 réis votada para as obras do edificio.

A verba de 1:730$000 réis para o material da academia não é só insufficiente, é vergonhosa. D'essa verba saem as despezas do expediente, os premios para os alumnos, os livros para a bibliotheca, os instrumentos para o gabinete de physica, os utensilios o reagentes para o laboratório, os jornaes dos operarios do jardim botanico, os exemplares de mineralogia o zoologia, etc, etc. Todos os professores querem dinheiro para os estabelecimentos que dirigem, e aquella quantia que apenas bastaria para um, tem de repartir-se por todos, e não chega a nada. O professor de chimica passa todo o dia, e quando Deus quer, grande parte da noite, no laboratório. E um consumidor infatigavel de reagentes, e estou vendo que um dia desanima por falta de materiaes com que satisfaça a sua curiosidade scientifica. Até agora os outros professores tem o auxilia do, como a um irmão mais novo, que se trata com mimo; mas já se vão desgostando com a insignificante dotação que lhes fica para os seus estabelecimentos. Todos são de um notavel zêlo pelo ensino, e custa muito ver perdido todo esse zêlo por falta dos meios indispensaveis.

Não quero, (nem ainda para este fim sacratissimo, propor, augmento da despeza publica.

E por esta occasião tenho de declarar á camara que na qualidade do membro dá commissão de instrucçâo publica tenho dado e continuarei a' dar parecer favoravel a algumas propostas, das quaes resulta augmento do despeza; mas esse parecer significa que considero a proposta do utilidade para a instrucçâo, porque este é o lado por onde me cumpro encarar as questões, como membro d'aquella commissão.

Reservo-me, porém, o direito, e imponho-me o dever de votar na camara contra qualquer augmento do encargos para o thesouro.

A minha proposta não os augmenta; apenas habilita o conselho da academia polytechnica a applicar para fins de mais urgente necessidade uma parte da verba já incluida no orçamento para as obras do edificio.

Já que estou fallando na academia polytechnica, não terminarei sem tocar n'uma questão que muito importa aquelle estabelecimento, o creio que ao paiz. Refiro-me ao curso preparatorio para a escola do exercito.

Reconheço que a academia o a escola polytechnica são dois estabelecimentos de indole diversa.

Á escola polytechnica de Lisboa é modelada pelo systema francez; a do Porto pelo systema allemão, posto que uma e outra estejam muito afastadas dos seus typos.

A França é muito infeliz nos nomes com que baptisa os seus estabelecimentos de instrucçâo.

A idéa quasi sempre é contraria ao nome que lhe põe.

Assim, ás escolas populares mais completas, chamou escolas primárias superiores. Ao ensino secundario, destinado á instrucçâo das classes mais numerosas, como artistas, commerciantes, etc. chamou ensino especial, quando elle é verdadeiramente geral. E á uma escola, que é simplesmente preparatoria das escolas de applicação, que, portanto, não ensina arte nenhuma, deu o nome de polytechnica, que quer dizer de muitas artes,

Na Allemanha, os estabelecimentos polytechnicos lêem. por fim habilitar os estudantes, quanto e possivel nas escolas, para as profissões que dependem de conhecimentos mathematicos e á as ciências physico-chimicas, e historiso naturaes.

Por isso, ainda que já n'esta camara se tentou uma vez metter a ridiculo a academia polytechnica por ter a pretensão de formar engenheiros de todas as especies, os institutos polytechnicos allemães, que são muitos, o alguns mui ricamente dotados, têem todos os cursos do engenheria civil (excepto o de minas, que aliás não é incompativel com a instituição), cursos florestaes, de chimica technica, pharmacia, ele. Correspondem, pois, ao seu titulo, e distinguem-se essencialmente da escola polytechnica de França.

A academia polytechnica do Porto foi dado por missão o habilitar os engenheiros civis, ao mesmo tempo que ministrava o curso preparatorio das escolas medico-cirurgicas.

Mas no tempo em que foi instituida, ou antes reformada, o paiz não carecia, ou pensava que não carecia, de engenheiros do especie alguma. Havia apenas umas tres minas em exploração, e não se faziam estradas nem obras hydraulicas, porque não havia dinheiro para ellas.

Por isso, aquelle estabelecimento desejou cooperar desde logo com a escola polytechnica de Lisboa o a universidade para a instrucçâo preparatoria dos alumnos da escola do exercito.

Diversas leis lh'o prometteram mas nunca se cumpriram, e allegava-se a falta de um regulamento, que a dizer a verdade não era mais necessario para ella do que para os outros estabelecimentos.

Veiu por fim o regulamento, cuja data não cito, para evitar uma questão politica, que não quero introduzir n'esta especie de conferencia pacifica.

Esse regulamento limitava a tres annos o curso da academia preparatorio da escola do exercito. Dava muito trabalho aos professores, mas todos estavam dispostos a facilitar a sua execução. Alguns prescindiam do feriado da quinta feira, outros accumulavam a regencia de dois cursos; da nossa minguada dotação tirámos uma quantia para o ensino da gymnastica, e não faltava nada para se tentar lealmente se era possivel vencer no triennio o curso preparatorio.

Um estudante militar havia requerido ao governo licença para cursar a academia, e oitavado tal regulamento. O ministerio da guerra deferiu, mas acrescentou: apara a escola polytechnica».

Não se reparou na differença, e o alumno apresentou-se com a competente guia na academia, onde frequentou o primeiro anno.

Era um moço de talento e applicação, muito bom para a experiencia.

Acabou o anno, e requereu nova licença para continuar o segundo. O ministerio da guerra respondeu-lhe que tinha perdido o seu tempo, e que se quizesse, fosse matricular-se no primeiro anno da escola polytechnica!

O regulamento não estava suspenso de direito, mas estava-o de facto, por uma vontade superior ás leis.

Vou lembrar um modo muito simples de acabar com esta questão. Tem o inconveniente de ser tambem muito economico, e por isso não póde ser acceito n'esta quadra. E o seguinte:

Não se dá licença a militares para frequentarem com preferencia um ou outro estabelecimento. Poupa-se o que se despende com os militares que frequentam os estabelecimentos civis, o abre-se todos os annos um concurso, com provas publicas, para os logares de alumnos que se propõem frequentar os cursos das diversas armas na escola do exercito, exigindo-se-lhes um curso preparatorio em qualquer dos estabelecimentos do sciencias physico-mathematicas de Lisboa, Coimbra ou Porto.

Quem souber mais, entra; quem souber menos, fica de!