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DIARIO DA CAMARA DOS. SENHORES DEPUTADOS

a que deve chegar para cumprir a sua elevada missão. (Apoiados.)

Voltando, porém, ao assumpto especial que estava tratando, devo ainda notar A camara que o imposto de 1,5, a que ha pouco me referi, vae engrossar os fundos especiaes dos regimentos, fundos que, por lei, não podem derivar-se senão do umas certas verbas, a que esta é completamente estranha.

Ha aqui duas irregularidades: a primeira é a do reforçarem os fundos especiaes com uma verba que está marcada na lei; o a segunda a do se lançar um imposto sobre o soldado, imposto que não está legalmente auctorisado. (Apoiados.)

Desejo que o sr. ministro me dê explicações a respeito dos differentes pontos para que chamei a sua attenção.

Chamo a attenção de s. ex.ª ainda para um outro facto anormal.

V. ex.ª sabe, e a camara, que os regimentos são commandados por coroneis e os batalhões de caçadores são commandados, metade por coroneis e outra metade por tenentes coroneis.

Parecia que os seis tenentes coroneis que deviam ser chamados para o commando dos corpos de caçadores, deviam ser os mais antigos; não acontece assim, são, pelo contrario, os mais modernos; os mais antigos continuara a servir como subalternos nos regimentos de infanteria.

Outro facto.

N'uma ordem do exercito ha a seguinte disposição: um capitão que sáe despachado major não póde ser nomeado para o mesmo corpo em que acaba de ser capitão; e isto porque ha de haver forçosamente uma certa confiança entre elle e os seus camaradas, o que póde prejudicar a disciplina.

Pois s. ex.ª passa por cima d'essa disposição; não a revoga, mas não a cumpre.

Peço desculpa á camara por lho ter tomado tanto tempo com estas minuciosidades, mas parece-me que n'um parlamento não se podem deixar de considerar assumptos graves todos os que prendem com questões de legalidade.

Ouvirei as explicações do governo, o tomarei de novo a palavra se julgar necessario.

Vozes: — Muito bem.

O sr. Sá Carneiro: — Sr. presidente, agradeço aos nobres deputados os srs. Adriano Machado e Pinheiro Chagas as phrases benevolas que se dignaram dirigir-me na sessão de sabbado, e muito mais por serem dois deputados nos quaes acato a sua elevada illustração e patriotismo.

Sr. presidente, eu disse na ultima sessão, que não descurássemos a nossa força publica; disse eu, que um paiz sem força publica e sem tribunaes não podia existir, porque não se respeitando os direitos dos cidadãos, a anarchia seria a consequencia infallivel d'esta falta, e disse tambem, e hoje o repito, que não é só para garantir a ordem publicas, mas tambem para garantir os tratados convencionaes que ha entre as nações, que hoje, e sempre se exigiu a existencia d'estes elementos, acima de todos os que devem existir n'um paiz civilisado.

Sr. presidente, Pericles, envolvido cora os philosophos, com os poetas e com os actores, descurou a força publica, e aplanou sem querer o caminho á conquista de Filippe, que alcançou em Chersoneso o que Dario e Xerxes tinham tentado em vão.

E a palavra eloquente e poderosa de Demosthenes, instigando os gregos á resistencia, nada conseguiu.

Quem diria que o primeiro tribuno da Grecia, o homem que arrastava as massas populares com a sua vigorosa palavra, elle, o primeiro dos patriotas, fugiria, como fugiu, do campo da batalha, e o que é mais para estranhar é que elle se encarregasse de fazer o. elogio a Filippe, de quem recebeu uma corôa de oiro!!

Sr. presidente, ha d'estas aberrações na humanidade. O sr. presidente do conselho insistiu na necessidade de uma Sessão de 10 de maio de 1879

boa lei de recrutamento, lei que tanto mais valerá, quanto mais materia prima fornecer para o exercito, quando for" precisa; e eu avançarei mais, que com uma boa lei de recrutamento, e quadros instruídos e com disciplina haverá um exercito modelo.

Roma, depois que Julio Cesar passando a Rubicon afogou a liberdade romana, passou de republicana, que era a imperialista, e não obstante as conquistas continuarem com o imperio e com mais rapidez e vigor que no tempo da republica, Augusto abolindo o recrutamento do tempo da republica, precipitou a queda do imperio do occidente.

Eu sou apologista do recrutamento obrigatorio pessoal, e que é o que mais convem ás nações pequenas. Segundo os meus calculos, se a obrigação do serviço attingir quinze annos, isto é, dos vinte aos trinta e cinco anhos de idade, e o numero dos mancebos, termo medio, que chegarem idade legal for de 20:000, teremos no fim de quinze anhos 300:000 homens; o feitas as deducções mais avultadas ficariamos em todo o caso corri 200:000 homens.

Alguém diz: «O paiz não acceitaria o recrutamento obrigatório». Pela minha parte não posso admittir similhante opinião, pois nós portuguezes, seremos acaso menos patriotas que os outros povos? '

Pois não existe o recrutamento obrigatorio em quasi, toda a Europa?

Adoptemos o recrutamento obrigatorio pessoal, organisemo-nos, como o exigem as necessidades da tactica moderna, e assim progrediremos, ainda que lentamente em a nossa organisação militar.

E sobretudo prestemos seria attenção á possa instrucção militar, porque as nossas escolas, que produzem muito, falham emquanto á qualidade.

Nos estabelecimentos de instrucção militar o progresso e a regeneração do exercito reclamam e pedem uma reforma radical.

Sr. presidente, não se póde brincar com a instrucção militar, porque nos póde isso ser fatal. -

Porque na profissão militar as experiencias são raras; e. sobretudo perigosas, porque a materia é a mais preciosa de todas — avida — ou o sangue dos homens, as consequencias são maiores que se podem imaginar, e por isso a sorte dos estados póde ficar compromettida

Os militares precisam saber, e para saber precisam estudar, o para isso é preciso que nós militares abandonemos a vida ociosa que geralmente levamos, e que trabalhemos. E preciso tambem que os governos, para o futuro, sejam avaros nas concessões de commissões estranhas ao ministerio da guerra. *":

Sr. presidente, foi moda em todas as epochas em cousas militares imitar os vencedores; rio meiado do seculo passado ria famosa guerra dos sete annos imitou-se tudo o que era: prussiano; imitaram-se ás fardas,"os chapéus é até os castigos da espada de prancha, como se n'isto estivesse o segredo das victorias.

Sr. presidente, o principal segredo de Frederico II, o inimigo das tres mulheres Catharina; Maria Thereza e a Pompadour, consistia na instrucção e educação quedava ás suas tropas.

A sua infanteria foi eminente no fogo; a sua cavallaria eminente nas cargas, é as tres armas manobravam com incrivel precisão. v "' " w

" Os seus officiaes estudavam, e com os seus generaes raro. era o dia que Frederico não tivesse palestra sobre 'assumptos militares.

A instrucção militar na Prussia é dada em commum a todos os que se dedicam á classe de officiaes. Ha sete escolas de cadetes espalhadas no paiz, sete escolas de guerra; as primeiras de seis annos, as segundas de tres annos. Para os engenheiros e artilheiros ha mais vinte e um mezes de curso.

Em França depois de 1870 foram reformadas as escolas militares, mas o sr. Trochu n'um livro que publicou affir-

Sessão de 10 de maio de 1879