1646
DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
ma, que não foram reformadas, mas sim transformadas, continuando nas mesmas escolas a antiga rotina official.
Notou-se em 1861, que o nivel da instrucçâo militar tinha baixado em França; ao mesmo tempo que os generaes inspectores nos seus relatorios confirmavam isto mesmo, acrescentavam, que principalmente os officiaes da escola de Saint Cyr onde se preparam officiaes para a infanteria e cavallaria, se apresentavam mal e com maneiras bruscas. Apesar d'isto nada se fez, porque o imperio se achava em grandes embaraços.
Em França ha as seguintes escolas: Saint Cyr para cavallaria e infanteria, a polytechnica para artilheria e engenheria, e a escola de applicação d'estas duas armas é hoje em Fontainebleau. E ha a escola da Flêche, que corresponde ao nosso collegio militar, menos na instrucçâo militar, que não ha na Luz; e a escola gymnastica ora Vincennes.
Entre nós em geral não ha instrucçâo militar. Aqui os meninos recebem uns papelinhos, a que officialmente se chamam cartas, que mettem em canudos de folha, e os deveres da sua profissão não tratam de os aprender. Os nossos officiaes de cavallaria e de infanteria com curso, quando vão para os corpos, tratam com desdém os detalhes de serviço improprio da sua grande sciencia, e olham para tudo com desprezo.
A vida dos nossos officiaes na caserna tambem é deploravel: "das dez para onze horas quando não têem serviço vão para o quartel, principia o cavaco, mas não sobre cousas militares.
. Eu desejava, que em vez das palestras que ha nos quarteis, a que elles chamam cavaco, emquanto esperam que se dê a ordem, desejava, repito, que se estabelecessem palestras militares.
:. Estabeleçam-se nos quarteis as escolas do tiro reduzido pelo systema de Avigny, já aperfeiçoado por um sr. brigadeiro hespanhol de que me não lembra o nome, e cuja despeza orça cada tiro em pouco mais de 1 real.
, Na boa estação ensinem aos soldados a atacar e a defender, posições, etc.
Os nossos officiaes novos não têem educação militar; embrulhados quasi sempre no insignificante alburné, têem pouco garbo militar.
Os alferes graduados, como eu tenho observado por essas ruas, olham para os soldados como para escravos, raro é aquelle que corresponde á continência que se lhe faz, o que muito concorre para afrouxar os laços da disciplina.
Sr. presidente, nós os militares é necessario que abandonemos por uma vez esta vida ociosa que levámos; é preciso que trabalhemos;' é preciso que estudemos para estarmos preparados para qualquer eventualidade, porque quando vem a guerra não é que se estuda, é preciso saber, ter estudado antes, e como os exercitos não são propriamente machinas, como nos tempos antigos, é necessario que o soldado adquira uma certa intelligencia, para cobrir-se.. Um capitão hoje deve saber mais que nos tempos antigos o commandante de um corpo. '
Um general illustre dizia era 1867, no senado francez, que não havia dois capitães em França que soubessem dirigir unia companhia; se isto se dissesse era Portugal trabalhavam logo os jornaes a demonstrar, que eram uns sabios todos os nossos capitães.
A nossa artilheria tem uma excellente escola para os officiaes novos, no polygono das Vendas Novas, mas eu desejo mais do que isto, desejo a mobilidade, e para isto é preciso ir a campo aberto.
A artilheria franceza no polygno era superior a todas as da Europa. A austriaca, que tinha imitado a franceza, foi em 1866 muito superior á prussiana. Em 1870, isto é, quatro annos depois, era a artilheria prussiana a melhor da Europa.'
Em 1866 recommendavam os austriacos, á imitação dos francezes na Italia, a carga á bayoneta, cargas que abortaram todas por effeito das armas de agulha. Napoleão I não queria as mathematicas transcendentes para os artilheiros do campanha, e tinha rasão.
Falla-se bombasticamente defeza geral do paiz, e pela minha parte não percebo o que seja a defeza geral do paiz. Porque o antigo systema do pontos fortificados na fronteira vae passando de moda, o entro nós era isso inexequivel, n'uma raia que tem cerca de 222 leguas kilometricas, o 130 a 136 leguas de costa.
Está-se fortificando Lisboa; ora eu não sympathiso muito cora as fortificações levantadas nos arrabaldes da povoação que se quer defender. Tambem não sou da opinião do sr. general Bialmont, que quer que a fortificação se levante proxima á povoação que se quer defender. Não gosto d'este systema, porque seria dar aos adversarios recursos e gosos de que ficariam privados os nacionaes.
O engenheiro que tem dirigido as fortificações do Lisboa é habilissimo, o se não é mais conhecido é porque pertenço a uma nação pequena, e o que tem sobretudo este engenheiro é ser um dos homens mais sympathicos que eu conheço, refiro-mo ao nosso collega o sr. Sanches de Castro.
Voltando ds fortificações de Lisboa, repito que não gosto de fortificações em arrabaldes.
Eu ignoro quem foram os estratégicos que adoptaram o systema que se está seguindo da fortificação de Lisboa. Eu a respeito do estratégicos não os conheço em Portugal. Com certos dotes estratégicos, apenas n'este seculo houve dois, o infeliz sr. Gomes Freire o o sr.'duque de Saldanha. "
Acerca de estratégicos vem a proposito contar um dito chistoso de Filippe. Como v. ex.ª sabe os gregos elogiara annualmente 10 estratégicos, que eram os generaes. Filippe dizia. «Muito felizes são os meus vizinhos gregos, que ao passo que eu não tenho no meu reino um unico estrategico, elles encontram 10 todos os annos sem difficuldade».
Eu sobre a defeza de Lisboa só vejo as linhas de Torres Vedras. Outra linha mais avançada em Santarem; centro o Monte Junto; esquerda Peniche. Os pontos intermedios fortificavam-se na propria occasião pelo modo porque o fez o heroico Osman-pachá em Plewna.
Tambem não gosto das torres girantes com 250 homens do guarnição, do sr. Bialmont.
E a famosa praça de Anvers, em que se gastaram mais do 20.000:000$000 réis, não me parece que possa corresponder ao que d'ella tinham os belgas o direito de esperar, no caso de uma invasão. A capital abandonada e toda a Belgica á mercê do invasor!!
Direi ainda ácerca das linhas de Torres Vedras, que n'um livro publicado em 1867 pelo sr. Bialmont, referindo-se á terrivel posição de Brutium, occupada por Annibal, e que os romanos perderam a esperança do forçar, diz, que ella faz lembrar as linhas de Torres Vedras, occupadas por Wellington.
Tenho expendido as minhas opiniões; a camara as tomará na consideração que merecerem, e agora só me resta pedir-lhe perdão do tempo que lhe tomei.
Vozes: — Muito bem.
O sr. Presidente do Conselho o Ministro da
Guerra (Fontes Pereira de Mello):- Tratarei de responder o mais concisamente que poder aos oradores que tomaram a palavra sobre o assumpto em discussão, e direi em primeiro logar ao illustre deputado, que muito considero, o sr. Adriano Machado, que não respondi desde logo as suas observações, por me ter parecido que ellas eram mais destinadas a provocar a attenção da camara para encetar um debate aliás importante, do que a provocar uma resposta immediata da parte do governo, e se não fosso isso eu teria immediatamente tomado a palavra e respondido a s. ex.ª como podesse, sobre o assumpto para o qual chamara a attenção do governo e da assembléa.
Agora que o illustre deputado o sr. Pinheiro Chagas, precisou mais alguns argumentos e atacou mais alguns pontos especiaes do assumpto em discussão, julgo do meu de-