1647
DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
ver dar algumas explicações á camara, e dal-as-hei com satisfação o promptidão, na phrase mais concisa que poder usar, por isso que tão unicamente explicações,.embora o illustre deputado, com o gesto mais insinuante o mais amavel que Deus lhe deu, me tivesse dirigido accusações as mais pungentes.
E esta uma felicidade que nem todos têem.
Da pessoas que quando querem ser agradaveis irritam-se, e ha outras que quando querem ser desagradaveis o não são, absolutamente fallando, e digo que o não são porque nem sempre a palavra está de accordo com o gesto, o muitas vezes este é benevolo emquanto aquella é pungente.
. O illustre deputado fez-me muita honra considerando-me com alguns conhecimentos militares, que a minha profissão me obriga a ter, para poder propor ao parlamento a necessaria reforma nos assumptos que estão a meu cargo.
Desejaria ter mais copia e cabedal do conhecimentos, para que estudando os assumptos de que se trata, me podesse collocar á altura d'elles, porque, diga-se a verdade, esta questão do organisação do exercito, entre nós, e em toda a parte, depende da reunião de tantos elementos diversos o de tão differentes combinações, que me sinto assoberbado quando penso no modo de realisar essa organisação, principalmente quando ella tem de ser a derogação, alteração ou modificação do que fizeram homens muito distinctos que occuparam a pasta da guerra antes de mim.
E não se diga a tactica o as armas modernas é que vieram trazer grandes modificações no modo de ser dos exercitos.
Até certo ponto isto é verdade, mas não tanto que antes da guerra franco-allemã não se conhecessem já desde muito as difficuldades com que luctava o nosso exercito para poder passar ao pó do guerra, e não se reconhecesse igualmente a insufficiencia da nossa força publica, comparando a com numero do habitantes do paiz. (Apoiados.) '
Tudo isso se poderia ter remediado o não se remediou quando dirigiram a pasta da guerra homens como o general Passos, marquez de Sá o duque do Saldanha, as primeiras espadas do exercito, os homens mais intelligentes, mais lidos e mais praticos sobre assumptos militares.
Não se fez então, o agora todos os dias insistem com o ministro da guerra actual, para que revogue as suas leis, para que reformo o que elles estabeleceram, reforma que é a alteração das leis existentes, que são referendadas por homens tão distinctos e conhecedores das cousas militares, como áquelles cavalheiros.
Declaro a v. ex.ª, que era preciso que eu tivesse muita vaidade para me julgar á altura da situação em que me colloca o illustre deputado, pretendendo que eu reforme promptamente todas as instituições militares.
Disse o illustre deputado, com aquella voz insinuante, que todos lhe reconhecemos, que o ministro da guerra tom promettido trazer a reforma da organisação do exercito, e que comtudo falta á sua palavra dada solemnemente em ambas as casas do parlamento. "
A arguição e grave, e carece do uma explicação da minha parto.
Em primeiro logar direi a v. ex.ª e á camara, e a camara estará lembrada do que e maior o numero das vezes, sem duvida, em que os illustres deputados insistem pela reforma do exercito, do que aquellas em que eu a prometto.
Tenho todos os annos apresentado á camara estas mesmas rasões; tenho dito as difficuldades com que o governo lucta para fazer a reforma do exercito, e a necessidade que havia de harmonisar essa reforma com a reforma do recrutamento, (Apoiados.) reforma que prometti trazer á camara, o que cumpri. (Apoiados)
O sr. Pinheiro Chagas: — Peço a palavra.
O Orador: — Ao menos d'esta vez não faltei. (Riso)
A proposta do lei, para a reforma do recrutamento, póde
ser approvada, rejeitada ou alterada pelo parlamento, mas. em todo o caso cumpri a minha palavra, trazendo á camara essa lei. N
Não acredito em uma reforma efficaz do exercito, sem se combinar com a reforma do recrutamento, e não podia emprehender esse trabalho, sem primeiro emprehender a reforma do recrutamento.
Agora que a reforma da lei do recrutamento foi apresentada á camara, o que a camara é senhora d'ella, póde approval-a, rejeital-a ou modificai a, espero o seu veredictum, e se n'esta sessão for possivel discutil-a, o que muito estimarei, na proxima sessão legislativa estarei habilitado para, de accordo com a lei do recrutamento votada pela camara, ou com outra que entendam dever apresentar em substituição a esta, trazer ao parlamento a reforma do exercito que esteja em harmonia com ella. E por esta occasião devo dizer que creio mais na efficacia dá lei do recrutamento do que na da reforma do exercito.!
Eu já li, não sei se n'esta casa ou na camara dos dignos pares, um trecho de uni discurso proferido pelo valente general marquez de Sá da Bandeira, que todos respeitamos pela integridade do seu caracter, (Apoiados.) em que elle dizia, respondendo á opposição que instava pela reforma do exercito: — que as reformas do exercito feitas todos os dias, mudando apenas as barretinas e os cordões dos soldados,
traziam grandes despezas sem proveito algum, o que não estava disposto a fazer essas reformas.
Eu, como dizia o nobre marquez de, Sá da Bandeira, tambem me não sinto levado por grande enthusiasmo para fazer a reforma da lei de 23 do julho de 1864, o nem mesmo creio que d'essa reforma podessem vir grandes resultados para o paiz
Do que ha de vir resultados para o paiz e para, a organisação da -sua defeza é da lei do recrutamento, (Apoiados) porque desde que tenhamos um recrutamento serio. e efficaz, em virtude do qual possamos obter o numero de, soldados necessario para os dividir pelos, corpos effectivos, do exercito, o pelos corpos que hão de constituir a reserva, poderemos então dizer que lemos exercito............-
Mas se não tivermos uma boa lei do recrutamento e eu, fizer propostas do lei para a organisação dos corpos que. hão de constituir o exercito activo e o exercito territorial, como a gendarmerie em França, ou com a organisação da corpos que hão de constituir o exercito activo, o uma milicia similhante ao landwehr que ha na Allemanha, faço uma cousa inutil, porque não teremos soldados.
Posso mostrar que folheei muitas leis de paizes estrangeiros, mas não consigo mais nada, porque estas leis não trazem soldados......
Está aqui a dizer-se todos os dias que necessario reformar o exercito. Mas o que é que se quer reformar? A reforma é para augmentar a força do exercito, ou para reduzil-o, como quer o meu amigo, e não disse bem, porque creio que não é meu amigo o sr. Adriano -Machado? So é para reduzil-o, o que é que s. ex.ª ha de fazer aos officiaes?
Se tivermos só 20:000 homens os officiaes ficam a mais, e como é que com 20:000 homens em pé de paz se ha de depois n'um caso de necessidade transformar o exercito em pé de guerra e eleval-o, do repente, a 50:000 homens?
Não basta dizer, reformem-se os quadros. Já outro dia disse na outra camara que quando se fizer a reforma da lei do recrutamento de modo que haja soldados para 03 corpos e força para a reserva, se ha de augmentar o numero dos corpos ao que for absolutamente indispensavel dentro das regras militares, porque creio que o illustre deputado o sr. Pinheiro Chagas sabe muito bem, porque é militar, embora não faça uso do officio, ou deve saber, que' alem de certos limites não se podem organisar companhias e batalhões; têem de se organisar dentro de limites fixos. Não se póde dizer que tenhamos companhias com 600 homens cada uma, nem regimentos com 4:000 praças.
Sessão de 10 de maio de 1879