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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

cento proximamente, e a administração que entrou depois caiu do poder em 12 do agosto do anno seguinte, deixando os fundos a 33 3/4, isto é, 6 1/4 abaixo do preço por que os tinha recebido».

Deus me livre de empregar este meio de apreciação, mesmo para com s. ex.ª Não o faço. Pois então porque um governo vê baixar os titulos de divida publica, porque um homem que está á frente de um estabelecimento de credito importante vê baixar o preço dos titulos emittidos por esse mesmo estabelecimento, devo eu, sem mais exame, condemnar esse governo ou esse homem, e te lo como inhabil para gerir os negocios que lhe estão confiados? Não póde ser. Pois eu, que sou o primeiro a dar testemunho da muita intelligencia com que o sr. presidente do conselho dirige o banco hypothecario, havia de accusar s. ex.ª, porque as obrigações emittidas por esse importantissimo estabelecimento chegaram-se a vender-se a 82$000 réis, isto é, mais de 8 por cento abaixo do par?

Pois este facto demonstra porventura a inhabilidade de s. ex.ª?

Não, sr. presidente, provém elle de muitas causas, que não se podem occultar, quando se queira ser justo.

Os fundos baixaram durante a primeira administração reformista, 6 1/4 por cento, e eu vou, resumindo tanto quanto possa as minhas reflexões, expor os motivos que justificam completamente esta declinação no preço dos fundos, sem ser necessario attribui-la á inhabilidade dos homens que erraram, é certo (e é preciso que a camara entenda por uma vez que eu não tenho a pretensão de sustentar que aquella administração foi a mais feliz, e a que póde prestar maiores serviços ao paiz), mas que se é preciso reconhece-lo, fizeram alguma cousa em beneficio da sua patria. Sejamos justos para com esses homens, reconhecendo ao menos a sinceridade das suas intenções.

Quatro causas vou eu assignalar á camara, cada uma d'ellas só por si bastante para influir na declinação dos fundos, e o que só deve admirar aos que imparcialmente estudarem este assumpto é que a declinação não fosse ainda maior como era para receíar. E aqui note a camara que eu estou defendendo os meus amigos os srs. ministros da fazenda e marinha contra o nobre presidente do conselho.

O primeiro foi ministro da fazenda d'essa situação, o segundo um dos seus mais dedicados amigos.

Quando o sr. presidente do conselho accusava com tanta acrimonia aquella administração não se lembrava, por certo, que tinha ao seu lado cavalheiros sobre os quaes pesava uma parte da responsabilidade pelos actos praticados pelo governo de que fizera parte o sr. bispo de Vizeu (apoiados).

A primeira rasão, e rasão capital, era a falta de dinheiro que então se sentia não só em Portugal, mas no principal mercado monetario da Europa. E eu, que não gosto de citar factos sem trazer logo documentos que os comprovem, vou ter a v. ex.ª e á camara o que dizia um jornal competentissimo n'esta materia, insuspeito, porque nem sempre apreciou com muita benevolencia os actos da administração a que me refiro.

Fallo da correspondencia de Portugal.

Sabe v. ex.ª o que dizia esse jornal em 30 de dezembro de 1868? Dizia o seguinte:

«Os descontos nos bancos d'esta praça (referia-se a Lisboa) continuam pela taxa de 6 por cento; mas têem sido muito difficultados por todos os estabelecimentos de credito. Por este mesmo motivo todos os papeis de credito e acções de companhia e bancos conservam os seguintes preços nominaes.

Indica os preços, e mais abaixo diz:

«Havendo vendedores que se sujeitariam a bastante desconto n'estes preços, para realisar dinheiro diante de offertas.»

Já v. ex.ª vê qual era a situação do mercado monetariom interno, mas a situação do mercado monetario de Londres era igualmente grave.

Tinha que citar a este respeito alguns apontamentos; mas prefiro aproveitar-me de um documento que o nobre relator da commissão teve a bondade de me facilitar. Por este documento se vê, que durante todo o tempo em que esteve no poder o nobre presidente do conselho de ministros, desde janeiro até julho de 1868, se conservou invariavelmente o juro em Londres a 2 por cento; durante a administração que se seguiu, o juro começou successivamente a elevar-se até attingir 4 1/2 por cento. Facto rarissimo, n'aquelle mercado, como sabem todos que mais ou menos dedicam a sua attenção para estes assumptos.

Já v. ex.ª vê que não poderia manter-se elevada a cotação dos fundos de um paiz que estava em presença de uma crise financeira não só interna mas externa.

Ainda mais. Todos sabem quão grande influencia exercem no preço dos nossos fundos os capitães valiosos que constantemente vem do Brazil.

V. ex.ª sabe que no periodo a que me estou referindo aquelle imperio sustentava uma guerra terrivel, durante a qual os cambios em todas as praças brazileiras desceram extraordinariamente, como não ha memoria, o que não só prendia ali as valiosas quantias que eram o producto dos generos exportados de Portugal, mas as que mensalmente são transferidas para o nosso paiz. A falta d'estes recursos não só restringia o movimento do nosso commercio, mas affectava sensivelmente a cotação dos nossos fundos (apoiados).

Eis a segunda rasão, rasão importante e gravissima, que ninguem de boa fé póde desconhecer e amesquinhar.

Mas ainda ha mais; foi durante essa administração que se deu um facto extraordinario no paiz vizinho. Nós vimos uma revolução lançar por terra uma dynastia e derribar um throno, e todos sabem que a proximidade nos prejudicava (apoiados).

Não sou eu que o digo; ha de ser o mesmo jornal insuspeito e competente a que ha pouco me referi.

Quer v. ex.ª saber o que a Correspondencia de Portugal dizia em 30 de setembro de 1868?

Eu leio:

«... Referimo-nos aos recentes acontecimentos de Hespanha. que, infelizmente, vieram influir na depreciação dos nossos valores. Nem outra cousa podia acontecer, attenta a vizinhança em que estamos de um paiz totalmente revolucionado, e onde os fundos publicos são em tudo similhantes aos nossos. Os acontecimentos politicos de Hespanha, fazendo baixar os seus fundos consolidados de 3 por cento a 30 por cento, não podia esta baixa deixar de paralysar as transacções nos nossos.»

E é verdade. E eu invoco o testemunho do sr. ministro da fazenda, e elle que nos diga se o baixo preço dos fundos hespanhoes não está constantemente influindo no preço dos nossos, e se não é este um dos varios obstaculos que impedem a elevação do preço dos titulos da nossa divida fundada.

Creio bem que o illustre ministro estará n'este ponto de accordo commigo.

As tres rasões que acabo de mencionar creio que todos reconhecem que eram importantissimas.

Uma outra, porém, passo a indicar, que era sufficiente para obrigar os fundos portuguezes a baixarem; e o que admira, como já disse, é que elles não baixassem ainda mais.

A necessidade de um novo emprestimo era evidente; e todos sabem que, quando os mercados monetarios conhecem que um paiz qualquer tem necessidade de negociar um emprestimo, quasi sempre aproveitam esta occasião para fazer com que os fundos se conservem baixos.

Não serei eu que venha dizer a v. ex.ª, sr. presidente, que existia a necessidade de fazer aquelle emprestimo; ha de ser um membro da camara dos dignos pares, e que n'aquella epocha tinha assento n'esta casa.