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SESSÃO DE 21 DE MAIO DE 1888 1641

materias primas e em relação ao consumo, e havia outras com as quaes se não davam estas circumstancias.

Evidentemente a respeito das ultimas não se justificava a protecção.

As industrias metallurgicas, que, se não tinham no paiz as materias primas, tinham comtudo um consumo que já as desenvolvera bastante e que mais ainda as desenvolveria, essas deviam ser protegidas.

Não queria esta protecção por meio de subsidios, como se fizera com relação á fabrica de productos ceramicos das Caldas da Rainha; mas, parecia-lhe rasoavel que ao menos se protegessem os estabelecimentos nacionaes, encarregando-os das reparações que o estado pretenda mandar fazer nos seus navios.

Não era muito que ás industrias metallurgicas se desse esta protecção, quando á fabrica das Caldas se dera um subsidio pecuniario.

Quanto ao couraçado Vasco rd Gama as obras de que elle carecia, quando fora para Inglaterra, eram : caldeiras novas, e reparações na machina e couvez.

De obras similhantes já carecia o Africa, e tudo se fizera em Portugal, com approvação das estações competentes. Portanto, com relação ao Vasco da Gama, a industria nacional tinha direito a ser atendida.

Comprehendia o argumento do praso mais longo, quando houvesse grande urgencia, porque as fabricas portuguezas não têem os mesmos recursos de pessoal e de material que têem as inglezas ou de outros paizes; mas não havendo urgencia, devia ter-se uma certa contemplação com as fabricas para poderem desempenhar-se dos encargos que tomem.

Aproveitava o estar com a palavra para propor, em nome da opposição regeneradora, que na acta se lançasse um voto de sentimento pelo, fallecimento do sr. conselheiro Arrobas, que fôra membro d'esta camara.

(O discurso será publicado na integra em appendice a esta sessão quando s. exa. restituir as notas tachygraphicas.)

O sr. Feliciano Teixeira:- Pedi a palavra para declarar a v. exa. e á camara, que por motivo justificado não assisti ás sessões do dia 12, 14 e 15, e que se estivesse presente á sessão do dia 12 teria approvado a moção do sr. Eduardo José Coelho.

A justificação e declaração vão publicadas a pag. 1638.

O sr. Teixeira de Vasconcellos: - Manda para a mesa uma representação de muitos cidadãos do concelho de Amarante, pedindo a construcção do caminho de ferro do valle do Tamega.

Como, segundo lhe consta, a respectiva proposta de lei será em breve apresentada á camara reserva-se para, na discussão d'ella, fazer algumas considerações, tendentes a mostrar que a construcção d'este caminho de ferro satisfaz os interesses da localidade que deve atravessar o ao mesmo tempo os interesses do estado.

Pede que a representação seja publicada no Diario do governo.

Assim se resolveu.

(O discurso será publicado em appendice a esta sessão, quando s. exa. o restituir.)

O sr. Oliveira Matos: - Pedi a palavra para dirigir algumas breves considerações ao sr. ministro da fazenda e ouvir a sua auctorisada palavra ácerca de um assumpto que julgo importante, sob o ponto de vista historico da arte architectonica em Portugal. E como o sr. ministro da fazenda é um espirito levantado e eminentemente illustrado, positivo e moderno, comprehendendo perfeitamente os deveres do alto logar que desempenha, tenho a bem fundada esperança de ser attendido no desejo que muito simplesmente vou formular, pedindo toda a protecção official para um rico e valioso especimen da arte nacional.

Quero referir me ao precioso claustro do convento de Santa Maria de Cellas, de
Coimbra.

Hoje que em todos os paizes civilisados se trata de restaurar e conservar com o maximo zêlo e cuidado, despendendo-se quantias importantes, os monumentos e objectos de arte, antigos, que possam servir de elemento á reconstituição da historia dos povos e á boa educação nacional artistica, não será do mais que em Portugal se olhe tambem e muito attenciosamente para o pouco, mas ainda assim muito valioso que existe, e que, milagrosamente escapou ao martello destrutor e ao pincel e cal dos trolhas, guiados n'essa obra de destruição pelo genio artistico dos juizes de confrarias, das juntas de parochia e dos regedores e morgados de aldeia.

O nobre ministro da fazenda, por mais de uma vez tem manifestado a sua boa vontade ácerca do assumpto de que me occupo, tendo ordenado acertadas providencias no intuito de proteger, quanto póde, a conservação dos monumentos nacionaes. E ainda ha pouco, quando se tratava da venda do convenio de Cellas, a que me refiro, s. exa. deu mais uma prova dos seus bons desejos; pois, constando-lhe que ali havia alguma cousa de antigo e bom, que valia a pena não deixar destruir nem allienar por um insignificante prego, s. exa. mandou nomear uma commissão de cavalheiros que julgou competentes , para examinarem o edificio todo e darem a sua opinião ácerca do valor artistico de quanto n'elle existisse e dos meios a adoptar mais convenientes para a sua conservação em poder do estado, no local ou fóra, como melhor se entendesse, no caso de realmente ali haver cousa de merecimento que interessasse á arte nacional e se devam considerar como monumento aproveitavel.

Falta me a competencia propria e conscienciosa para , poder discutir e apreciar sob o ponto de vista historico artistico o valor real do claustro do convento de Cellas, que, uns dizem pertencer á architectura mais bella do seculo XII; outros affirmam ser mais antigo; e ainda outros, hesitam em lhe marcar epocha determinada, sendo, porém, todas as opiniões concordes e unanimes e n'ellas me louvo , por serem de peritos auctorisados, de que o claustro é uma preciosidade antiga e de grande merecimento, que merece e deve ser conservada como um rarissimo especimen da arte architectonica portugueza.

Isto me basta, sr. presidente, para que eu sustente com toda a energia a opinião do que é conveniente e é preciso, que o claustro se conserve e no mesmo local aonde está pela fórma que se julgar mais acertada, não se consentia do, nem que d'ali se retire, porque com a mudança muito perderia, nem que se venda conjunctamente com o edifício do convento por uma bagatella que de certo nada enriquecerá o thesouro.

E muito ao contrario entendo que o governo não póde, nem deve hesitar mesmo em despender alguma quantia para ordenar uma boa e conscienciosa restauração, na parte que for preciso, e a sua conservação como monumento publico. Consta-me que a illustrada commissão mandada nomear para dar parecer acaba de se desempenhar do seu encargo, enviando ao ministerio da fazenda um resumido relatorio sobre o assumpto.

Diz-se porém que esse relatorio não satisfaz inteiramente nem os desejos do sr. ministro da fazenda, nem ao que era de esperar da illustração e competencia dos cavalheiros que o elaboraram, e por quem eu tenho pessoalmente a maxima consideração.

N'este relatorio não se encontra uma opinião clara, decisiva, ácerca do monumento, nem tão pouco se affirma de uma maneira positiva e forte, a conveniencia de o conservar no local, tornando indispensavel a sua permanencia e sustentação mesmo á custa de alguns sacrificios e despezas.

A commissão parece preocupar-se um pouco com a questão economica, e n'essa corrente de idéas vae formulando o seu parecer, por entre duvidas e evasivas, não