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1707

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Mas, ainda assim, havia um corpo de exercito ou uma divisão, parece-me que a do general Reding, aquella que, em Baylen, obrigou o general Dupont a capitular. Dupont, que passava por bom general e que acabou os seus dias n'uma prisão.

Depois vieram os inglezes e feriram varias batalhas com os portuguezes, seus bons auxiliares.

Na batalha do Victoria, onde tanto se distinguiram os portuguezes, disse Wellington que a infanteria portugueza era a melhor do mundo; e alguem diz que Wellington se arrependera d'esta franqueza, que, em todo o caso, feria o orgulho britannico.

A guerra de guerrilhas dou bons resultados; e até o proprio imperador Alexandre, em 1812, aconselhava aos seus generaes, que fizessem com as tropas pouco instruidas uma guerra similhante á que faziam os hespanhoes; mas este methodo hoje não é facil, ou, pelo menos, não creio que dê resultados serios, porque a cavallaria, que cobre todos os movimentos, desemboscaria as guerrilhas.

Eu não conheço senão a guerra da primitiva, da infancia da arte; não conheço a guerra methodica, a guerra da sciencia, senão pelos livros.

E ninguem póde dizer: eu faria isto, ou faria aquillo, ou eu não faria o que se fez em tal batalha, porque só quando se chega ao campo é que se sabe o que se sente, e como as cousas se passam. O que se devia fazer em certos casos, o que se devia fazer em outros, quem o sabe?

E digo isto, porque não é uma cousa que se faça no gabinete; é uma cousa em que o sangue e a vida são a materia prima, isto é, em que a vida corre imminente perigo, e, portanto, não admira que a serenidade não seja muito regular em todos os actores d'aquella sanguinário drama.

Os bons generaes, por consequencia, são áquelles que, a par da intelligencia e do saber, possuem a faculdade de conservarem sangue frio, porque os outros, os que perdem a cabeça, compromettem a força que commandam.

Por isso é que é muito difficil encontrar bons generaes.

Hoje não são as leis que dominam, são os bons corações, a humanidade, e bons corações são todos, não é d'este nem d'aquelle, é de todos; em nome da humanidade commettem-se iniquidades.

Eu bem sei que se deve este estado ao longo interregno da paz octaviana, de que felizmente temos gosado, mas ainda se deve mais á indifferença com que havemos olhado para as cousas militares, e eu mesmo não sei se o procedimento dos commandantes dos corpos e dos generaes, sobre o modo de informar dos seus officiaes, deriva da ignorancia, ou da chamada humanidade. Pois que se as informações dadas d'esses officiaes, fossem relativamente postas na justiça com que se dessem essas informações, existia o correctivo á promoção estupida do almanach, lei que contraria o bom senso, contraria os interesses de paiz e do exercito! As informações annuaes ácerca dos officiaes são as mesmas, desde o coronel ao alferes. Todos são dignos de posto immediato, porque todos sabem do seu officio, e todos mostram muito zêlo pelo serviço, e se algum commandante se lembra de dizer a verdade ácerca de um official, acode logo algum a dizer, modifique a sua informação, tenha dó dos meninos do informado.

No proprio ministerio da guerra, se acaso aquella estação chega alguma informação, pouco lisonjeira para o informado, não se faz caso d'ella, a maior parte das vezes, e o official, de que se deu má informação, é promovido ao posto immediato.

O que direi sobre instrucçâo militar? Em geral ha muita sciencia, a maior parte d'ella galvanisada, mas pratica nenhuma.

Sr. presidente, eu insisto em dizer a v. ex.ª, que na Europa ácerca de instrucçâo militar são os prussianos os grandes mestres.

A maxima é a seguinte: Ao lado do principio, o facto, ao lado da instrucçâo a educação, porque se entendo n'aquelle

paiz, que a boa educação é um poderoso auxiliar da disciplina.

Eu sou d'aquelles que sempre assim entendi, e ainda hoje o entendo, que o laço mais forte da disciplina é a affeição; o chefe que seguir este principio, ha de encontrar poucas reacções da parte dos seus subordinados.

Nas crises politicas, que são as mais perigosas, e aquellas que mais prejudicam a disciplina, ha occasião de experimentar os dois systemas. O da severidade e o da affeição, que é a do estimulo, pelo trato, pelo conselho e sobretudo pelo exemplo.

Sr. presidente, eu prohibi que no estabelecimento do estado, de que sou actualmente director, que o estado maior tratasse por tu o estado menor, como eu observei que geralmente succedia.

Eu nunca chamei na minha longa carreira militar e no meu longo trato com soldados, nunca chamei, repito, um nome injurioso a um soldado, o nunca o tratei por tu, a não ser a algum, depois de estar em minha casa alguns annos; e note v. ex.ª que sempre passei por severo em assumptos de disciplina, na opinião dos meus camaradas, porque adoptei por maxima, que no exercito não deve nunca ficar impune a mais ligeira infracção dos regulamentos militares; ora o que é necessario é o bom tacto de graduar o castigo á pena, para não se darem os factos, que muitas vezes observei, de se applicar um castigo que não estava em harmonia com a falta.

Sr. presidente, o que é necessario igualmente é não se dar mais preferencia a uma das armas que ás outras. Todas são indispensaveis na guerra; mas o que eu não posso admittir, é que as armas da infanteria e da cavallaria sejam tratadas como plebeas.

Prestemos desvelada instrucçâo á infanteria, lembremo-nos que é ella a primeira das armas, ou que ella é o exercito, propriamente dito.

A infanteria combate de perto e de longe, e em todos os terrenos.

Dizia se antigamente, que a força da infanteria consistia no fogo e na bayoneta; actualmente podemos dizer, que essa força consiste, quasi exclusivamente, no fogo, e sendo isto assim é claro que a instrucçâo á infanteria, sobre o fogo, deve ser a mais desvelada.

Sr. presidente, quando a infanteria n'um exercito é derrotada, considera-se desde logo o exercito perdido, por muito superiores que sejam e intactas que estejam as armas especiaes. E tem-se notado um facto na historia, vem a ser, que nos povos os mais civilisados propondera sempre a infanteria, e nos menos civilisados propondera sempre a cavallaria.

No tempo da republica romana, quando succedia haver uma guerra em tempos de dictadura, a lei prohibia ao dictador que montasse a cavallo á frente das tropas, obrigava-se o chefe supremo á marchar a pó em homenagem ás legiões, ás quaes Roma devia as suas fabulosas conquistas.

De tudo o que eu tenho dito, resulta o ardente desejo que tenho, de que se preste á infanteria a mais desvelada instrucçâo, porque da infanteria depende quasi inteiramente a sorte da guerra.

E necessario sem contestação olhar pela infanteria, mais do que até hoje se tem feito, e é indispensavel abrir-lhe uma valvula para a promoção, graduando, quanto possivel, que as promoções marchem ao par em todas as armas; mas como nem sempre é possivel conservar o equilibrio, o que era natural, é que esse desequilibrio fosse a favor da infanteria e da cavallaria, mas não; n'estes ultimos tempos o desequilibrio tem sido favoravel ás armas chamadas especiaes

Sr. presidente, para o exercito a promoção é tudo, tirae-lhe a promoção, e o exercito existirá de nome; mais do que os vencimentos, o estimulo para o exercito, é a pro-

Sessão nocturna de 13 de maio de 1879