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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

assim é mais caro do que o fornecido á guarda municipal.

O sr. ministro da guerra, com o seu espirito generoso, quando faz as suas digressões por diversos pontos do reino, deixa sempre uma lembrança pela maneira sympathica como o recebem.

Foi s. ex.ª ao Algarve e deixou uma estrada que, apesar de ter só um kilometro construido, já custou 28:000$000 réis; foi a Vianna do Castello, onde, segundo disseram alguns jornaes, tivera uma recepção enthusiastica, e reconhecido pelas demonstrações que ali recebeu, e querendo dar uma prova da sua benevolencia, deixou em Vianna do Castello uma padaria militar, creação esta que tem o infortunio de ser contemporanea das eleições.

Como já disso, o trigo vem para a padaria militar de Lisboa e d'aqui vae em farinha para Vianna do Castello, para lá se fabricar o pão e ser este remettido para Braga, Valença, Porto e Bragança.

Parece que o illustre general, que commanda a divisão do Porto, muitas vezes tem demonstrado a conveniencia de haver unia succursal da padaria militar na cidade do Porto; e naturalmente todas as circumstancias pediam que houvesse n'aquella cidade uma succursal da padaria; mas afigura-se-me que isso se não fará, que não haverá succursal no Porto, e que o trigo virá a Lisboa, para ser reduzido a farinha pela industria particular, sendo enviada para o Porto que a verá passar com gosto e prazer para Vianna do Castello, para depois de transformada em pão voltar ao Porto!

Creio que Vianna do Castello não estava nas condições de ter uma succursal de padaria militar. Para a ter parece-me que foi preciso fazer fornos, officinas e armazens que custaram 3:-00)5000 réis approximadamente.

Como a repartição do ministerio da guerra não se achou habilitada, com os fundos necessarios para pagar este beneficio a Vianna do Castello, quem vae pagar isso é o preço do pão.

Estas e outras rasões é que explicam o preço excessivo das rações do pão ao exercito. A phantasia do nobre ministro da guerra levou-o a estabelecer uma succursal da padaria militar em Vianna do Castello para fornecer pão a uma parto da força militar que está no Minho, a estabelecer fabricas e a construir armazens, mas tudo isto ha de entrar no custo do pão. (Apoiados.)

Não fallo do outros pontos de boa administração que se dão n'este ramo de serviço publico. Não me canso com isso. Sou leigo na materia, e mesmo áquelles que são instruídos n'ella não lhe lançam muita luz.

A padaria militar fez-se n'umas barracas; gastou-se muito dinheiro com as obras e concertos que foi preciso fazer, e essas despezas carregam no preço do pão.

Ha tambem em serviço da administração militar, creio que 400 homens. Estes 400 homens recebem os seus vencimentos e pret pelo respectivo orçamento; mas alem d'isso recebem as gratificações á custa do pão do pobre soldado.

A padaria militar está estabelecida nas taes barracas, e todo o serviço de um estabelecimento regularmente montado que se faz por meio de machinas a vapor, ali é feito a braços.

A unica machina a vapor ali conhecida é da força de oito cavallos, que serve só para pôr em movimento uns peneiros.

De tudo isto resulta, como já disse, o alto preço porque saem as rações, e resulta ainda cousa mais fabulosa!

Citarei um exemplo.

Creio que foi hontem ou um dia d'estes, que passou uma petição ou representação, em respeitosa continência ao sr. ministro da guerra, assignada não sei se pelo senhor Infante D. Augusto, commandante da brigada do cavallaria, se pelo general commandante da 1.ª divisão militar, queixando-se de que as forragens fornecidas aos corpos de cavallaria da 1.ª divisão militar, eram muito más, levavam muita terra, produzindo doenças nos cavallos, o nomeadamente nos do regimento de cavallaria n.º 2.

Creio que esta representação passou a tão respeitosa distancia de s. ex.ª o sr. presidente do conselho e ministro da guerra, que elle ainda talvez não teve conhecimento d'ella, mas procure s. ex.ª ámanhã informar-se do caso, e ver se haverá motivo para alguma syndicancia, mas que não seja como a da padaria militar, que apesar de terminada ha tanto tempo, ainda não deu resultado; apenas e que parece averiguado de todo, é que havendo um alcance de 1:160$000 réis, o inquerito e syndicancia custou mais de 2:0000$000 réis!

Em todo o caso, a syndicancia por emquanto tem dormido um somno que se parece c o somno dos justos, e apenas d'ella resulta como real, os 2:000$000 réis gastos.

Agora resumo as observações que fiz e as perguntas que tenho a fazer ao governo, em duas proposições muito simples.

1.ª Que lei auctorisou o governo a tirar á engenheria militar a direcção das obras do tribunal do justiça do Santa Clara, e a fazer n'aquelle edificio, n'um paiz que não é rico, uma despeza de 99:000$0Ó0 réis em apropriações?

2.ª Se s. ex.ª entende, que podem homens serios, que suppõem ter noções de pratica administrativa, conservar a respeito do fornecimento das rações para o exercito, a situação que acabo de referir; isto é, de se comprar trigo na provincia para se moer em Lisboa n'um estabelecimento particular, porque a padaria militar não tem machinas de moagem, para depois transportar a farinha para uma certa localidade da provincia, para ahi se fazer pão para depois pelo caminho de ferro ser transportado ás outras localidades, muitas vezes intermedias entre a padaria militar e a succursal?

Desejo saber de s. ex.ª se julga bom um tal systema, e, no caso contrario, quando traz ao parlamento as propostas necessarias para remediar estes inconvenientes.

Limito aqui as minhas observações, pedindo desculpa a v. ex.ª e á camara de lhe ter tomado mais tempo do que desejava.

Tenho dito.

(O orador não reviu este discurso.) O sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã é a continuação da que estava dada. Está levantada a sessão. Eram onze horas e tres quartos da noite.

sessão nocturna de 13 de maio de 1879