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ainda, o engenheiro Dupré calculava uma só via, e pelo contracto o caminho de ferro ha de ter duas vias, e aqui falhou tambem o calculo deste engenheiro, porque a differença de uma via para duas e muito distincta. O engenheiro Dupré calculava a sua somma por kilometros, dividindo o calculo de 260 kilometros de Lisboa á fronteira, e assim como este engenheiro se enganou neste calculo, assim como já houve um engano na commissão externa, nomeada pelo governo, a respeito do numero de kilometros que havia entre Lisboa e Santarem, é certo que isto altera consideravelmente o preço de cada kilometro. O engenheiro Dupré linha calculado que a primeira secção de Lisboa a Santarem correspondia a 80 kilometros, isto e 548:000$000 réis, e quando desceu á practica, e foi fazer o orçamento achou quasi 55:000$000 réis por kilometro. Mas que são estes 55.000$000 réis, peço a attenção do illustre deputado 1 São unicamente em relação a uma via, e tendo eu já declarado que o caminho de ferro que se projecta, tem duas vias desde logo, sabem todos os engenheiros, e sabe-o o illustre deputado, porque tem a experiencia, e tem o conhecimento de todos estes documentos, que tem estudado, que o augmento de duas vias em relação a uma só é de um quinto, e então já se vê a differença que póde haver.

Mas não pára ainda aqui: ha ainda outras alterações. O engenheiro Dupré não calculava nesta somma o juro accumulado de 2 annos capitalisados, como o governo calcula, e só estes juros accumulados importam em 60:000 libras, perto de 300 contos de réis, e já vê o nobre deputado como isto vai influir sobre o preço de cada kilometro, e por aqui se póde já calcular o preço porque podem sair os primeiros 10 kylometros, segundo os calculos do proprio mr. Dupré. Eu mandei de proposito imprimir o orçamento feito por mr. Dupré, para que quando tenha logar a discussão do contracto, poder ser avaliado e comparado comas condições do contracto.

Espero mostrar á camara e ao paiz, que o governo não fez um contracto lesivo para o estado. Ha ainda a outra circumstancia da parte correspondente ao juro, que se não accumulava, e que neste contracto se accumula; e note a camara que o engenheiro Dupré não calculava o material circulante, que é uma cousa importantissima, e o governo calculou com elle; veja o illustre deputado como vai subindo o preço por kilometro segundo o calculo do engenheiro Dupré, e eu estimei infinito de ter occasião de me servir da auctoridade deste engenheiro para defender as estipulações do contracto.

Ainda ha mais, sr. presidente; mr. Dupré não comprehendeu os trabalhos já feito, as despezas dos engenheiros, as sommas correspondentes aos estudos que se tem practicado, que importa tudo em algumas mil libras, e nós comprehendemos na somma de 50 contos de réis por kilometro, todas estas despezas; ha ainda outra circumstancia para augmentar o preço do kilometro de mr. Dupré, que é os trabalhos feitos por conta da repartição de obras publicas, e mesmo o lucro da companhia, porque não se póde imaginar que uma qualquer companhia tome conta desta ou daquella empreza, sem que della lhe resulte algum lucro Já declarei que o caminho de ferro que se projecta tem duas vias desde logo, e todos os engenheiros sabem, e tambem o sabe o illustre deputado, que se calcula em um quinto o excedente da despeza para duas vias, e a este respeito fez o illustre deputado os seus calculos immensamente superiores áquelles que o governo fez.

Ora ainda ha outra circumstancia a attender. Os nobres deputados conhecem o districto de Santarem; mas é preciso ir a Santarem com a idéa de se fazer um caminho de ferro, para se poder bem avaliar a despeza enorme que ha a fazer. Por exemplo, da Ponte de Sancta Anna a Santarem que é uma pequena distancia, a despeza ha-de ser immensamente maior. Não se pense que o caminho de ferro tem de atravessar um terreno tão facil que não ha nada que fazer. Pois, senhores, ha a fazer 54 pontes, 119 acquedutos principaes e 76 passagens. O nivel, por consequencia, já vê o nobre deputado que não é tão despido de obras de arte, que aliás comprehende um grande numero, e algumas importantissimas; por exemplo, a ponte de Sacavem, que pelo projecto de mr. Dupré foi calculada em 10 contos, e segundo a planta que está no ministerio das obras publicas calcula-se em 35 contos: convido os illustres deputados, se quizerem, a irem examinar esta e outras plantas. E uma ponte toda de cantaria e ferro. Os pilares hão-de ser de cantaria, e já se vê que ha-de ser muito cara. Além desta ha outras; ha uma importantissima que vai sobranceira aos telhados de Villa Franca, que tambem ha-de sair cara, assim como as arcadas que se hão-de fazer nos campos alagadiços de Villa Nova.

Ora, sr. presidente, á vista disto tudo, destas considerações, que o illustre deputado não impugna, porque eu conheço a sua boa fé, e estou persuadido que se fez as suas perguntas, é porque não sabia que as hypotheses variavam; espero pois que s. ex.ª se convença de que o estado não dá nem madeira, nem os materiaes; não dá mais nada do que os 50:500$000 reis por kilometro.

Sr. presidente, não é por este simples enunciado que se ha de fazer uma completa idéa das bases que acabei de indicar; ha de ser pelo exame do contracto, quando vier á camara S. ex. ha de vir então no conhecimento de que os seus calculos tem de soffrer uma nova modificação. Eu hei de mostrar á camara em occasião opportuna, tanto em [elação ao preço do engenheiro Dupré, como em relação aos calculos da commissão externa, como em relação ao programma do governo, que o contracto não foi lesivo para o estado.

Em quanto á pergunta que se me fez, de qual é a receita com que o governo intende fazer face a estas despezas nos primeiros dois annos, respondo que não é nenhuma; e não foi com o pensamento de affastar estes encargos do thesouro que o governo fez isto, mas unicamente com o desejo de não cumplicar as difficuldades actuaes. Nestas circumstancias parece-me ter demonstrado que o contracto, por esta simples indicação, não é lesivo para o thesouro, e que o projecto que se discute, não tem nada com a approvação do contracto'; intendo que póde ser approvado por esta camara, e uma vez que está disposta a querer que se façam os caminhos de ferro, ha de approvar este projecto, para que as expropriações possam ter logar, sem que se prejudiquem de maneira alguma as garantias da propriedade; nesta conformidade não quero abusar do direito da palavra, e esperarei que o illustre deputado faça outras considerações para a tomar de novo, se acaso o julgar necessario). (Vozes: — Muito bem).