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joso. Desde d momento em que a. ex. declara que tambem se comprehende o material circulante, não posso deixar de confessar que o argumento que eu fizera, soffre uma modificação: comtudo apezar dessa circumstancia, de ter o caminho de ferro desde já duas vias, eu digo que o preço por kilometro ainda e exaggerado, como hei de demonstrar quando se discutir o contracto.

Tambem não posso comprehender como s. ex.ª se resolveu a estabelecer desde já duas vias. A Belgica que por assim dizer está no centro da Europa apezar do immenso movimento que alli ha, não leve no principio senão uma via, e ainda hoje tem uma só via em 197 kilometros dos 559 que formam a sua rêde geral. Nos Estados Unidos, na Allemanha, na Italia, e na Hespanha começou-se por uma só via. É verdade que os caminhos de ferro inglezes e francezes tem em geral duas vias: mas em França mesmo o caminho de ferro de París a S. Germano funccionou por muito tempo, e muito bem, com uma só via.

Disse o sr. ministro que a differença da despeza de uma a duas vias anda por 1/5 da despeza total; isto não póde ser exacto, mas se o fosse, era razão de mais para que s. ex. não contractasse logo o caminho de feno de leste com duas vias; porque sendo a despeza de cada kilometro 50:500$000 réis, o augmento da despeza na passagem de uma a duas vias, estabelecendo-se que a differença é de 1/5 é de 10:050$000 íeis por kilometro; o que em toda a linha que se calcula em 260 kilometros, vem a dar um augmento de 2.613:010$000 réis, que não direi que se vão lançar á rua, mas que é uma despeza, que não careciamos de fazer já. Será prudente, que nas nossas circumstancias vamos fazer a despeza de mais de 2:600 contos de réis, quando nada nos prova que essa despeza seja necessaria, quando lemos mesmo o exemplo em contrario de quasi todos os paizes, em que ha caminhos de ferro? Estou persuadido que ninguem haverá que possa aconselhar o governo para que comece o caminho de ferro com duas vias, quando é certo que uma via é sufficientissima para as necessidades da circulação, e ha de se-lo por muitos annos. Intendo portanto que seria muito melhor não ter contractado desde já para as duas vias para não fazer pezar sobre nós um excesso de despeza de 2:000 contos, que poderia ser empregado em qualquer outra obra de utilidade publica. Não temos nós tão pouco que fazer que senão podesse empregar essa quantia de uma maneira mais util, como por exemplo na continuação do caminho de ferro de Lisboa a Santarem na direcção do Porto.

Agora vou dar as razões que tenho para não crer que a differença entre uma e duas vias seja igual a ½ da despeza total.

Eu intendo, que senão póde estabelecer proporção alguma entre a despeza total de um caminho de ferro, e a despeza, que occasionou a collocação de uma segunda via nesse caminho. Mais claramente ainda: intendo, que construindo-se um caminho de ferro com uma só via, mas com aterros, desaterros, e expropriações para duas vias, a despeza da collocação da segunda via não póde ter relação alguma com a despeza total desse caminho. Intendo, que n'um caminho de ferro, por exemplo, de 100 kilometros, 50 dos quaes custavam 20 contos cada um, e 50 a 80 contos cada um, a despeza da collocação de uma segunda via deve ser a mesma, tanto na ametade, que custou muito dinheiro, como na ametade, que custou muito pouco

Imaginemos um caminho de ferro, para a construcção do qual houve grandes difficuldades a vencer, e expropriações de grande valor a effectuar, o que tudo fez uma grande despeza: imaginemos esse caminho com uma só via, mas com aterros, desaterros, e expropriações para duas vias: é evidente, que não havendo novas difficuldades a vencer, nem novas expropriações a effectuar para a collocação de uma segunda via, esta deve custar o mesmo que custaria, se o caminho em logar de ter custado grandes sommas tivesse custado muito pouco dinheiro.

Se isto não fosse assim, vejamos o que aconteceria, por exemplo, em Inglaterra.

Os caminhos de ferro de Inglaterra são os mais caros de todos; porque alli nunca se attendeu á despeza. Era necessario fazer entrar os caminhos no interior das grandes cidades, expropriar propriedades de um grande valor, e fazer obras de arte tão grandiosas a par das quaes, como diz Miguel Chevalier, os monumentos mais gabados dos romanos não passam de miniaturas, tudo se fazia. O resultado foi que o caminho de ferro de Londres a Greenwich custou por kilometro 4 milhões, e 100:000 francos; o caminho de ferro de Londres a Blackwall custou por kilometro 5 milhões de francos. Os 14 primeiros kilometros de Londres a Bristol custaram por kilometro 3 milhões, e 400:000 francos; os 14 primeiros kilometros de Londres a Birmingham custaram por kilometro 3 milhões, e 700:000 francos; e os 3 kilometros de Vine-Elms a Waterloo, que formam a entrada em Londres do caminho de Sonthampton, custaram 23.971:000 francos, o que dá por cada kilometro perto de 8 milhões de francos. Pergunto agora, se cada um destes caminhos tivesse sido construido para uma só via, mas com aterros, desaterros e expropriações para duas vias, dir-se-ía, que a construcção e collocação de uma segunda via, custara ½ da despeza total, isto é, 1.600:000 francos em cada um dos 3 kilometros do caminho de ferro de Sonthampton que entram em Londres? Não de certo, era impossivel. Ha mais ainda: o augmento de despeza na passagem de uma a duas vias nos caminhos de ferro de París a Ruão, e de París a Orleans, foi calculado em 6:210$000 réis, e o caminho de ferro de París a Ruão custou por kylometros 400:000 francos, e o de París a Orleans custou 412:878 francos, o que faz com que aquelles 6:210$000 réis não sejam nem um undécimo da despeza total desses caminhos. Intendo pois, que não se póde estabelecer, a este respeito, nenhuma percentagem, porque em um caminho de ferro, em que houver kilometros que tenham feito uma pequena despeza, e outros em que a despeza seja muito condenavel, a collocação de uma segunda via deve produzir a mesma despeza n'uns e n'outros.

Ha ainda outra circumstancia a ponderar. Diz Miguel Chevalier que uma das causas, ou talvez a causa principal, que tornou mais dispendiosos os caminhos de ferro inglezes, foi a lei que se seguiu nos declives e nos raios das curvaturas, a qual elevou em mais de 50 por cento a despeza dos mesmos caminhos. Que tem o augmento de despeza proveniente daquella causa, que se tem já hoje evitado nos caminhos de ferro americanos e allemães, e que o engenheiro Dupré aconselha que se evite em Portugal, que tem, torno a perguntar, esse augmento de despeza com a