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as duas vias desde já, se nós fizessemos uma linha de ferro de Lisboa para Santarem e nada mais, era demasiado; mas como a intenção do governo, e a da camara — cicio eu, é de que o caminho de ferro não pare em Santarem, mas de que siga para a fronteira e para o Porto, intendi que, n'um caminho de ferro que se ramifica, pelo menos este ramal onde vão prender as duas ramificações, a da fronteira e a do Porto, devia ter desde logo duas vias; como sempre se havia de mandar fazer mais tarde as duas vias, pareceu-me util que se fizessem logo. Mas o governo intendeu que este caminho onde hão de entroncar os outros dois devia ler duas vias, para facilidade dos transportes e para evitar os accidentes, que se teem dado em caminhos de ferro de uma só via; tem este fim principal a construcção das duas vias. O illustre deputado que tem andado por caminhos de ferro, sabe que é esta uma das vantagens das duas vias. Mesmo hoje poucos são os caminhos de ferro com uma só via. É ainda que é verdade, como diz o illustre deputado, que na Belgica ha caminhos de ferro que não teem duas vias, é certo que a maior parte delles as teem. (O sr. Avila: — Agora) Lm França quasi todos teem duas vias; (O sr. Avila: — Apoiado) em Inglaterra todos, a não ser algum caso excepcional. Não me pareceu que fosse dinheiro deitado á lua, como o illustre deputado mesmo disse, é uma despeza para uma cousa que se havia de fazer mais tarde, mas que me pareceu que era mais conveniente fazer já; uma vez que ha o sincero desejo e o decidido empenho de que isto vá por diante, deve-se fazer desde já como deve ser.

Nestas circumstancias e tendo respondido como pude ás observações apresentadas pelo illustre deputado, sento-me, porque não quero privar de maneira nenhuma os meus illustres collegas de tomarem parte na discussão e dizerem mais alguma cousa.

O sr. Cunha Sotto-Maior': — Sr. presidente, poucas vezes tem acontecido entrar eu em uma discussão com tanta repugnancia como nesta, porque todos quantos planos tinha formado para entrar neste debate, lenho-os visto completamente esterilisados. Pedi a palavra e tive de a ceder ao meu illustre amigo o sr. Avila para responder in continenti desejava fallar depois de alguns cavalheiros que apoiam o governo, mas vejo que sou obrigado a fallar em seguida ao sr. ministro da fazenda, o que sempre tenho querido evitar, porque intendo que quando ha uma maioria tão grande como ha nesta camara, que apoia o governo, quando se apresenta á discussão da camara um parecer assignado por 16 srs. deputados, os deputados que assignam o parecer e a maioria que o apoia, devem abrir a bocca e fallar; mas não acontece assim, devem estar sempre em scena o si. ministro da fazenda e os deputados da opposição, porque a camara não tem mais gente. (O sr. Placido pedia a palavra como relator da commissão, e mais outros senhores.) Depois de ouvir os srs. deputados como e que hei de fallar? Como hei de responder se já me não chega a palavra! Assignam 16 deputados um parecer, o estes 16 deputados conservam-se calados. Ora pelo amor de Deus! Pedis a palavra; mas fallar agora é o mesmo que não fallar. Como quereis que o sr. Avila, eu, e o sr. Corrêa Caldeira, que ainda não pediu a palavra, e cine não sei se a pedirá, vos respondam? A que horas vos havemos de responder? Ora, senhores, pelo amor de Deus!... Tem só fallado o sr. ministro da fazenda e os deputados da opposição, e eu esperava que os srs. deputados tivessem pedido a palavra, sobretudo tendo eu ouvido fóra da camara e nos corredores grandes discursos e grandes promessas, e era por causa destas grandes promessas com que que atroaram os ouvidos, que eu esperava que se rompesse o silencio, mas vejo que são oradores só lá fóra, aqui dentro da camara, com a sessão aberta, são mudos.

Sr. presidente, o projecto tem seis artigos, dos quaes approvo quatro e rejeito dois, que são os que auctorisam o governo a fazer immediatamente as expropriações, e direi a v. ex.ª e á camara para nunca esconder o meu pensamento até nas cousas mais pequenas, que eu, apesar da seriedade com que o sr. ministro da fazenda fallou, está-me a parecer incrivel, tenho toda a repugnancia em crer que o sr. ministro da fazenda acredite sinceramente no caminho de feno. (Riso. = O sr. Ministro: — Acredito. = Apoiados.)

E necessario, sr. presidente, uma incredulidade levada ao ultimo gráo, para eu ser Ião tenaz nesta minha opinião ácerca do caminho de ferro; e se acaso eu não temesse escandalisar a pia crença em que está esta camara ácerca do caminho de ferro, vaticinaria que o actual concessionario não faz o caminho de ferro; e peço ao governo e aos srs. deputados que registem esta minha profecia; o actual concessionario não faz o caminho; o mais que elle póde fazer, é depois de ter a concessão, vende-la. (Vozes em sentido negativo.) Pois havemos de vêr. Diz o dictado que ninguem escarneça do procela antes do tempo marcado para a profecia se realisar; por consequencia os srs. deputados guardem a sua opinião, eu guardo a minha, e vamos a ver quem acerta, se sou eu, se a camara.

Sr. presidente, o sr. ministro da fazenda promette, e já tem promettido por mais vezes, trazer á camara o contracto definitivo; quando vier esse contracto definitivo, eu então mostrarei, e mostrarei com documentos, que de todas quantas propostas existem nas differentes secretarias, não ha uma só, incluida a do proprio sr. Hislop, em que venha a colação do preço do kilometro em 50:500$000 réis. Eu até duvido que o sr. ministro da fazenda as visse, porque as propostas originaes tenho-as eu na minha mão, e por consequencia o que o sr. ministro viu, seria quando muito uma cópia infiel. As propostas originaes estão na minha casa, na minha gaveta; por consequencia o sr. ministro não podia vêr essas propostas. Não tenho culpa se, posso tirar da secretaria os papeis que me convém. Fechem as portas! E creio que não haverá nenhum empregado que diga que vou lá abrir as gavetas, ainda não fui indiciado desse crime; mas o caso é que as tenho em minha casa n'uma gaveta, lenho-as ha mais de um mez em meu poder, porque quiz-me preparar para esta discussão; e então, quando vier o contracto, hei-de mostrar que a concessão do caminho de ferro a uma companhia que pede por cada kilometro 50:500$000 réis, é (sem querer offender os srs. ministros, e principalmente o sr. ministro da fazenda por quem tenho a consideração que me merece sempre um antigo collega, e de quem aprecio muito as qualidades moraes) o acto da maior rapina que selem feito em Portugal. Tenho isto radicado em mim; está na minha idea, não ha forças humanas que me tirem daqui. Em toda a historia dos caminhos de ferro, que é bem comprida e longa, não