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SESSÃO DE 29 DE MAIO DE 1885 1849

honra dos paes, os destroços fumegantes do sen desgraçado paiz feito pedaços... tem v. exa. serenado o monstro? Não, sr. presidente, o cobarde volveu n'um insensato; para melhor poder saciar-se, ha de ir elle mesmo cair e precipitar-se tambem no abysmo que se lhe cavou aos pés.
E a resaca tremenda.
Por isso eu detesto os demagogos; e se é verdadeiro o poeta francez quando declara:

«On pardonne a la heine et jamais au mépris»

que me perdoe essa raça de energumenos, porque eu odeio-os.
Eu não faço referencias a partido algum constituido. Deus me livre do similhante cousa. Refiro-me a qualquer homem de qualquer partido que especule com as massas em proveito proprio. (Apoiados.)
Mas, se me fosse licito, n'este momento, fazer tambem um appello aos dois respeitaveis paladinos do partido republicano, que têem assento n'esta casa, eu pedir-lhes-ia que advogassem as suas ideas, pois que traduzem as suas convicções e a convicção e respeitavel e veneranda, parta ella d'onde partir; mas que aos vendilhões, se tambem por lá os ha, pois que elles hoje brotam, rebentam, pullulam espontaneos de toda a parte, por dignidade da religião que professam, os enxotem e os expulsem do seu templo. (Vozes: - Muito bem.)
«Ó liberdade, que de crimes se não commettem em teu nome!»
Era assim que a primeira heroina da revolução franceza, cuja memoria se sanccificou depois pelo martyrio, exclamava nos degraus da guilhotina, de frente para a estatua da liberdade, que assistia n'esse momento impassivel (na sua impassibilidade apparente) mas angustiadissima pela idea que ali significava, as exequias, aos funeraes que em seu nome se faziam a republica d'aquelle grande povo!
E assim é, sr. presidente, quantos crimes se não commettem em nome d'ella!
E eu não me insurjo contra a propaganda; mas eu revolto-me, mas eu insurjo-mo contra esta derrocada systematica das idéas que se não conhecem. Sem saber como edificar, sem saber como erigir, fazer tábua raza de todos os principios... se porventura fecundou beneficos resultados nas especulações do philosopho, sabe Deus que de funestas, que de tristissimas consequencias nos desvairamentos do politico! (Apoiados.)
Termino, levantando de novo com firmeza a minha bandeira: Delenda Carthago! Eduquemos o povo; eis o Delenda dos parlamentos modernos.
Quo não esqueça a educação moral (a educação moral acima de tudo e sempre) para que o povo comprehenda os direitos e os deveres que assistem a todo o cidadão de qualquer paiz, e com dignidade os zele, e com dignidade os cumpra.
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados de todos os lados da camara e por alguns pares do reino que se achavam na sala.)

Discurso proferido pelo sr. deputado Eduardo Coelho na sessão de 22 de maio, e que devia ler-se a pag. 1709, col. 1.ª

O sr. Eduardo Jose Coelho. - Ouvi com religiosa attenção as palavras do sr. ministro do reino, em resposta ao meu collega e amigo que me precedeu no debate.
Disse que ninguem mais do que s. exa. desejou empregar a sua alta auctoridade em favor dos opprimidos.
Vou ter ensejo de ver confirmadas com factos as palavras do nobre ministro, porque a minha voz, modesta e humilde, levanta-se hoje em defeza dos opprimidos pelos agentes do governo.
Não poderão accusar-me de impaciente, porque hoje interpello o governo sobre as graves occorrencias, objecto da minha interpellação.
Tambem não podia ser accusado de parcial. As occorrencias que dão motivo a esta interpellação tiveram logar em Janeiro, e as provas d'ellas estão nos documentos que requisitei do governo, e que os agentes d'elle enviaram. Não podia, pois, dar testemunho de mais paciente e de mais imparcial. (Apoiados.)
Primeiro que entre no assumpto, não devo occultar que não desejo melindrar pessoalmente o sr. ministro do reino, porque de todos os membros do governo e s. exa. a quem menos desejo arguir. Quaesquer que sejam as evoluções da politica, não posso, não quero, não devo emancipar-me de um profundo respeito para s. exa. Foi meu mestre, e isso e já titulo de benemerencia; mas seria ingratidão esquecer que mostre mais do que benevolente, porque foi mestre amigo.
Não quer isto significar que serei benevolente se o nobre ministro não der aquellas providencias que tenho direito de esperar do governo; quero unicamente exprimir que sentirei muito se, forçado pelo meu dever, ao qual não saberei faltar, tiver de dirigir ao illustre ministro palavras de censura.
Não trato propriamente da uma questão local, e não quero com isto dar a entender que amesquinho as discussões das questões chamadas locaes e de interesse secundario; pelo contrario estou convencido de que e da maxima importancia discutir aqui as questões locaes, defender os interesses mais immediatos dos povos que representamos, porque da somma d'esses interesses resulta o interesse geral e commum. (Apoiados.)
É certo, porem, que a minha interpellação não é propriamente do interesse local, porque onde houver garantias individuaes offendidas, o domicilio violado, e as liberdades publicas maltratadas, ahi estão questões verdadeiramente politicas, do verdadeiro interesse geral e constitucional. (Apoiados.)
Não dou novidade á camara, affirmando que a lucta eleitoral em Chaves, na ultima eleição, foi renhida e muito violenta, e que o governo por todos os modos procurou sair victorioso do combate empenhado. Deixo no escuro a serie de violencias, o uma como odyssea de intrigas, que os agentes do governo desenvolveram por aquella occasião.
Não era tambem duvidoso para pessoa alguma, que a eleição no circulo de Chaves teria de repetir-se, porque eu tive a honra de ser eleito tambem pelo circulo de Bragança, que a lei manda preferir. Daqui resultou, que os agentes do governo não afrouxaram no systema de perseguição e violencias contra o partido progressista em Chaves, e que, após a lucta eleitoral ultima, nem ao menos houve um curto armisticio entre os partidos bolligerantes. Para os que lidem em assumptos eleitoraes, não é duvidosa a importancia da eleição da commissão recenseadora, e por isso os agentes do governo tentaram leval-os de assalto, e para realisar tão damnados intentos não houve ardil e violencia que não empregassem.
Alguns dias antes da lucta eleitoral a que me refiro, tive a honra de procurar o sr. ministro do reino, dando-lhe parte das violencias praticadas pelos seus agentes, e tão extraordinarias as achou s. exa., que me recebeu com um sorriso proprio de quem é ministro, porque um ministro, em regra, não acredita nunca nas queixas dos seus adversarias, e ainda porque os factos que eu lhe narrava lhe pareciam do tal maneira inverosimeis, que não os podia acreditar.
Pois eu vou mostrar hoje que os factos que ao sr. ministro pareceram inverosimeis são inteiramente verdadeiros.
Devo, pois, acreditar que o procedimento do sr. ministro ha de ser em harmonia com a estranheza que s. exa. revelou por esses factos, caso demonstre que são verdadeiros.