O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

— 184—

Discurso que devia ler-se a pag. 124, col. 1.ª. lin. 4 da sessão n.° 11 d'este vol.

O sr. Francisco Guedes: — Sr. presidente, o governo pretendeu que eu aceitasse uma lista de candidatos, e que a impozesse ao districto que administrava. Conhecendo eu que essa lista não era aceita, vim a Lisboa, e d'isso informei o governo, pela fórma que já tive a honra de expor n'esta casa.

Offereci, por parte do districto, uma transacção; porem o governo, embalando-me com boas palavras, fingiu aceitar, e deixou-me ir para Evora sem uma resposta decisiva. Quando lhe mandei a lista, apurada naquella conformidade, recebi em resposta a minha demissão, e os agentes eleitoraes do governo começaram então a espalhar a lista que se me havia imposto.

Sr. presidente, quando vim a Lisboa informar o governo a respeito da opinião do districto, dei-lhe a maior prova de lealdade que podia dar-lhe; e nunca por esse facto eu deveria ser taxado de traidor. Se eu quizesse atraiçoar o governo, aceitava-lhe a lista, não o informava de nada, espalhava-a conforme podesse, e até onde podesse, e a perda da eleição seria o resultado. Se eu assim tivesse procedido, sr. presidente, podia o governo dizer que eu o havia atraiçoado; mas tendo procedido na fórma que deixo dito, ninguem com verdade o poderá dizer. (Apoiados.)

O governo, sr. presidente, conscio da minha lealdade, não deveria consentir que os seus amigos politicos e a sua imprensa espalhassem que eu havia sido demittido porque o queria atraiçoar. Sou incapaz de similhante proceder, e offereço como garantia d'esta verdade a minha vida publica e particular. (Muitos apoiados.)

O governo, sr. presidente, consentindo que se publicassem contra um empregado, que linha a consciencia da sua lealdade, arguições Ião graves e tão offensivas á sua honra,

não deve agora estranhar que esse empregado, depois de demittido, e tendo uma cadeira n'esta casa, declare aqui alto e bom som, para desaffronta da sua honra, como todas estas cousas se passaram; (Apoiados.) e o sr. ministro da fazenda é quem menos o deve estranhar, porque s. ex.ª bem sabe que sou deputado novo, e que não estou ainda bem sciente do que é e não é permittido n'esta casa, com quanto eu tenha mesmo em s. ex.ª um famoso exemplo, quando em 1856 s. ex.ª veiu ao seio do parlamento declarar a confidencia que lhe havia feito um sr. deputado por Béja, a respeito da maneira por que se linha feito certa eleição. Ha comtudo muita differença entre os nossos procedimentos: eu declarei o que se linha passado entre mim e o sr. ministro, porque a minha honra e a minha reputação assim o exigiam; e s. ex.ª divulgou o que lhe haviam contado confidencialmente, só porque linha interesse em sustentar ou impugnar uma eleição. (Muitos apoiados.)

(Entrou o sr. Ministro da Fazenda, Antonio José d'Avila.)

Muito estimo, sr. presidente, que entrasse o sr. ministro da fazenda, porque, tendo s. ex.ª dito, em uma das sessões passadas, que alguns governadores civis tinham sido demittidos nas vesperas das eleições, por estarem ha muito tempo em politica diametralmente opposta á do governo, e por consequencia a transtornarem os seus actos e a inverterem as suas ordens; eu que fui o unico governador civil demittido, não posso deixar de provocar o sr. ministro da fazenda para que declare, perante a camara e o paiz, qual a ordem que inverti ou que deixei de cumprir. Se s. ex.ª o não fizer, eu declaro, perante a camara e perante o paiz, que s. ex.ª é um ministro diffamador das auctoridades...

(Grande susurro e muita agitação na assembléa.)