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tado a gastar um só real, em quanto as 30:000 libras não forem satisfeitas em Londres, em quanto o governo não estiver auctorisado para fazer estas despezas? Não declarei ainda hontem isto em resposta que dei aos quesitos do sr. Avila? E s. ex.ª mesmo que disse, que eu não tinha sido bastante explicito na resposta a outros quesitos, não confessou que nesta parte eu tinha respondido cathegoricamente, que o governo não se julgava auctorisado (e parece-me que até isso vem no Diario, segundo ouvi ler a s. ex.ª) para fazer a despeza das expropriações, sem estar para isso devidamente auctorisado?... (O sr. Avila: — De certo, mas faltava uma cousa, e era, se s. ex.ª se julgava auctorisado para isso por este projecto). Não, senhor, não me julgo auctorisado. (O sr. Avila: — Muito bem). Eu não quero dar lições de delicadeza ao nobre deputado, porque sei que é muito delicado — ás vezes; (Riso) mas peço perdão para lhe perguntar: que necessidade havia de se dirigir um montão de injurias, inclusivamente á minha honra pessoal?... (O sr. Corrêa Caldeira: — Não, senhor). Pois então peço ao nobre deputado que lenha mais cautella nas asserções que profere no parlamento, porque eu sou bastante melindroso, como s. ex.ª o deve ser e effectivamente é. (O sr. Corrêa Caldeira: — Queira dizer quaes foram as injurias que eu lhe dirigi). N'uma das sessões passadas, quando eu fallava, disse o nobre deputado n'um áparte — para que eram estes mysterios — para que era esta falla de praça? — Pergunto eu, não é isto uma insinuação dirigida ao governo? (O sr. Corrêa Caldeira: — Mas é a verdade). Mas é a verdade!... (O sr. Corrêa Caldeira: — Disse-o o sr. Avila, e v. ex.ª não se offendeu).
O sr. Presidente: — Peço ao sr. deputado que deixe fallar o sr. ministro sem o interromper.
O Orador: — Eu sou o orador nesta caia, que nunca fallo sem ser interrompido, e que nem uma só vez por excepção interrompo; (Apoiados: — É verdade) mas não importa que me interrompam, porque felizmente parece-me que tenho sempre resposta satisfactoria que dar aos meus illustres adversarios. Sr. presidente, tudo se póde dizer, póde-e dizer que não houve segunda praça, e é uma verdade; póde-se dizer que as condições não são vantajosas; póde-se dizer que eu não revelei a natureza e extensão dessas condições, e já declarei que as não revelava até que tivesse assignado o contracto; póde-se dizer tudo, mas tudo se póde dizer de maneira que não offenda os collegas, e não se procure lançai-lhes insinuações odiosas, que elles não merecem (Apoiados) e que tem direito a exigir que lhes não sejam lançadas.
Sr. presidente, eu tenho já dicto mais de um vez nesta camara, que tambem já fui opposição; um illustre deputado que me faz hoje opposição, era então ministro; diga s. ex.ª se eu dirigi uma só insinuação á honra de algum ministro? (O sr. Cunha Sotto-Maior; — Dirigiu, sim senhor; ao sr. visconde de Castellões, quando vendeu a madeira do arsenal). A sua honra, não senhor, peço perdão; o sr visconde de Castellões de certo que zela melhor a sua honra, que o illustre deputado, e s. ex.ª não se queixou nunca nem ao parlamento, nem me consta que em parte alguma, que eu tivesse feito allusão nenhuma a sua honra; eu não era capaz disso. Sr. presidente, a minha regia é esta; se ha injuria pessoal, e necessario que se diga francamente, porque eu sei levantar as injurias, mas não desejo nunca que por uma insinuação que póde passar em virtude das frases parlamentares, se queira lançar uma suspeita sobre o meu caracter, suspeita que intendo profundamente que não mereço... (O sr. Corrêa Caldeira: — V. ex. dá licença?) Pois não...
O sr. Corrêa Caldeira: — Ora, eu disse claramente quando me referi á falta de praça, que se dizia em outro tempo, que a falla de praça em contractos de obras publicas dava logar a todas as inducções desairosas contra os ministros que procediam assim, e accrescentei logo — mas eu declaro que as não faço contra V. ex.ª, nem contra o ministerio. (Apoiado) Fiz esta declaração, e veja v. ex.ª quanto é injusto na apreciação que está fazendo do que eu disse. E isto não é satisfação que eu dê agora, é o que disse ha pouco.
O Orador: — Tenho muita satisfarão em não ler motivo de me queixar do illustre deputado, nem de ninguem; mas s. ex. não deve levar a mal, nem a camara, que desde o momento que se fazem certas insinuações, que reputo offensivas a mim, eu as levante (Apoiado. — O sr. Corrêa Caldeira: — Mas eu não as fiz). Ainda ha pouco o sr. Cunha dizia é uma especulação politica — e o sr. deputado que estava fallando, disse — especulação commercial — especulação commercial!... Quer dizer, que o governo queria sustentar uma especulação contra os interesses do seu paiz!... Ora, pergunto eu, se isto é mais que uma insinuação?
Alas não quero progredir neste terreno porque não gosto delle, porque vou para elle sempre com summa repugnancia, porque estimaria infinito que deixassem de existir neste recinto estas scenas summamente desagradaveis (Muitos apoiados) e que não fizessemos recriminações, creio que injustas, pelo que respeita a mim summamente injustas, e que a fallar a verdade me pungem sobre maneira; seria preciso ter lama nas veias, como disse o sr. Cunha, em logar de sangue, para senão sentir offendido com certas cousas que se tem a consciencia de não merecer. (Apoiados) O contracto definitivo ha de vir á camara; (O sr. Avila: — Muito bem) não haja impaciencia. Não sabe a camara que depois de assignadas as bases da convenção tem de se lavrar a escriptura publica, tem de se passar decreto approvando os estatutos, estatutos que hão de preceder o contracto, e o contracto tem de ser lavrado tambem nas notas do tabellião (do celebre tabellião (Riso) desta vez ha tabellião) numa palavra tem de seguir-se todo o processo que as regras indicam em negocios desta natureza? Nem ao menos querem conceder o tempo material para fazer isto? Não é possivel trazer o contracto hoje nem amanha; tenham os nobres deputados um pouco de paciencia; deixem vir o contracto, examinem-o detidamente, fulminem-o se quizerem, e fulminem o ministro que o fez, mas não estejam a antecipar-se sobre condições que não conhecem, e de que apenas hontem pude revelar á camara uma parte. E já disse ha pouco ao sr. Avila, a razão porque fiz essa revelação: foi porque o governo tinha feito assignar por sua parte as bases da negociação; e por consequencia já me julgava auctorisado, sem comprometter o contracto, a poder revelar algumas das condições. Não queiram pois fazer-me uni crime de não dizer tudo quanto lá vem, e porque não disse que vinha tambem um (ele