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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

nualmente 20 missionarios, suppondo a hypothese da ausencia de força maior que obrigue algum a interromper o curso. E 20 padres é numero insufficiente para as necessidades da provincia.

A prova está em que o collegio das missões ultramarinas de Sernache do Bomjardim, tendo preparado 26 missionarios nos ultimos cinco annos, mandou para Macau, China e Timor, isto é para as igrejas dependentes de Macau, 11 missionarios.

O sr. Scarnichia: — Estão todos em Timor.

O Orador: — Não duvido.

O sr. Scarnichia: — Em Macau não ha nenhum.

O Orador: — Peço desculpa a v. ex.ª

Eu regulo-me pelos documentos officiaes. Não tenho conhecimentos d'esta materia, resultantes de observação propria, porque nunca fui ás nossas possessões, e agora é já tarde para emprehender tão larga viagem.

Os documentos, officiaes dizem que foram 3 para Macau, 1 para Timor e 1 para Hai-nan, China.

Isto é o que dizem os documentos officiaes. Eu considero official o que affirmou o illustre bispo de Bragança na camara dos dignos pares por occasião de se discutir o projecto da Guiné.

O illustre bispo de Bragança é o superior do collegio das missões ultramarinas.

Mas quer fossem todos para Timor, quer fossem só parte, a conclusão é a mesma.

Foram do collegio de Sernache, logo não os havia em Macau. Logo o seminario de Macau não chega, é insuficiente.

Mas o peior não é isso. O peior é o estado em que se 'acha o seminario.

Ouça a camara o testemunho do sr. Corvo, o qual hei de ter necessidade do invocar mais veze3. Vou ler o relatorio que s. ex.ª apresentou n'esta camara em 1875, aliás muito bem elaborado, como tudo quanto sae da sua penna.

N'este relatorio encontram-se as seguintes palavras: «.apenas ha a notar á deficiencia de professores habilitados para leccionar algumas disciplinas.

Este apenas vale um discurso. E um bom seminario, tem boas condições, apenas faltam professores habilitados! Falta insignificante. Uma bagatella.

A camara comprehende bem o que vale um estabelecimento litterario que apenas tem a deficiencia de professores habilitados para algumas das disciplinas. (Apoiados.). Este é o estado do seminario de Macau. Note-se, que dos do ultramar este é o que está em melhores condições.

Vindo de Macau para a índia encontramos n'esta tres seminarios descriptos no orçamento, o de Rachol no arcebispado de Goa, o de Alape no bispado de Cochim e o da Feira d'Alva no arcebispado de Cranganor.

Pedi na camara differentes informações a respeito dos seminarios do ultramar. Essas informações não vieram ainda. Não admira isso. Faço idéa de como tem andado a administração colonial.

Conheço um pouco da administração do paiz, e pelo estado d'esta calculo como andará aquella.

Essas informações não vieram.

Estou convencido de que o nobre ministro não as tendo na secretaria, tratou de as obter do ultramar, e naturalmente não chegam senão para o anno.

Não tenho informações muito circumstanciadas a respeito d'estes seminarios da India, mas desconfio que elles estão muito mal.

Podem avaliar-se os recursos dos dois ultimos, ponderando que o estado dá a cada um a larga dotação de réis 500$000 annuaes.

Vejam que grandes estabelecimentos litterarios podem ser com a dotação de 500$000 réis! E todos elles dão numero tão abundante de missionarios e de padres, que segundo hontem demonstrei pelas contas do gerencia do es-

tado da India, relativas ao anno do 1876-1877 faltavam na provincia 40 por cento dos padres que devia haver. D'aqui póde concluir-se o estado em que estão.

Deixemos a India e vamos a Moçambique.

Em Moçambique não ha seminario, mas ha de haver; não sabemos quando.

O sr. Luiz de Lencastre: — Lá ha seminarios.

O Orador:: — Eu posso dizer a v. ex.ª quaes são os seminarios que lá ha.

O sr. Luiz de Lencastre: — Tambem eu.

O Orador: — Pois eu peço a s. ex.ª e a todos os meus collegas que têem conhecimento d'este assumpto que peçam e usem da palavra e que venham esclarecer a discussão.

Digo isto em boa paz e no interesse da patria, porque é necessario que. cada um traga para esta causa que é commum, que é do interesse de nós todos, o contingente do sou saber, da sua instrucção e.do seu estudo.

Como já disse, e agora repito, esta questão não é de um partido, é de todos, aqui não p3de haver divergencias partidarias.

Mas voltemos a Moçambique........

A respeito do seminario de Moçambique, disse o sr. Corvo no seu relatorio de 1875:

«O novo prelado tenciona fundar, á custa da sua propria fazenda, um seminario em Moçambique. O governo julgou dever auxiliar com a verba de 800$00p réis esta util fundação.»

Em Moçambique não ha seminario, ha de haver, construido e fundado á custa da propria fazenda do prelado, e de uma dotação orçamental de 800$000 réis.

Não está concluido, mas vae concluir-se com presteza!

No anno 3:000 está prompto!

Esta obra na presteza da sua feitura deixará a perder, de vista as obras de Santa Engracia. (Riso.)

Imagine-se o que um pobre prelado, tendo de congrua 1:200$000 réis, que é o que está no orçamento, e vivendo em Moçambique, póde fazer á custa da sua propria fazenda, e com um subsidio de 800$000 réis, para concluir com brevidade o seminario!

Da costa oriental de Africa venhamos á costa occidental, do Moçambique venhamos a Angola.

A respeito de Angola dá-nos noticia o illustre bispo, que diz assim no relatorio que eu já tenho citado á camara mais de uma vez:

«Só no fim de cinco annos e de repetidas ordens do governo é que se póde alugar casa para elle (seminário) e principiar a funccionar com alumnos externos...»

Isto escrevia o illustre prelado em 1878, no anno passado.

Calculo a camara os esforços que é necessario fazer para manter regularmente um seminario em Angola, quando foi necessario empregar cinco compridos annos só para alugar a casa, e isto apesar das instantes e repetidas ordens que o ministro dava aos governadores, porque, desenganemo-nos, lá no ultramar quem governa são mais os governadores do que os ministros. (Apoiados.)

Levaram cinco compridos annos para alugar a casa, depois alugou-se a casa e estabeleceu-se lá o seminario com uma modestia realmente extraordinaria.

Foi aberto, segundo diz o illustre prelado, para principiar a funccionar com alumnos externos.

Que seminario é este que principia a funccionar com alumnos externos?!

Isto não é seminario, é um curso de aulas ecclesiasticas onde aquelles que se dedicam ao ministerio do altar podem receber instrucção ecclesiastica, mas nunca a educação ecclesiastica, que é cousa muito differente e aliás necessaria, indispensavel para o missionário.

Em Angola, póde-se dizer, não ha cousa alguma, é necessario fazer tudo.

Mas deixemos Angola, o vamos a S. Thomé e Principe.

Sessão de 15 de maio de 1879