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SESSÃO DE 23 DE JULHO DE 1887 2035

Estas são as palavras do sr. ministro da fazenda.
Sr. presidente, sou particular amigo do sr. Marianno de Carvalho, mas como opposição politica, ninguem o tem atacado mais do que eu.
Opposição systematica não a faço, porque não m'a consente a minha organisação; nem penso, sr. presidente, que um homem serio e de convicções sinceras a possa fazer. Diatribes não me agradam; nas discussões parlamentares nem atiro d'estes, nem lanço insinuações.
Se isto é fazer opposição, não a faço hoje, nem jámais a farei.
No parlamento discute-se com algarismos, com pensamentos e com idéas; assim é que tenho discutido; como o illustre articulista estou, pois, dignamente na opposição.
Mas, sr. presidente, este incidente não merece indignação, e peço desculpa á camara por me ter indignado, tanto, por tão pouco!
Tem o sr. Marianno de Carvalho bastante hombridade e eu tambem, para não fazermos particularmente combinações machiavelicas e accordos que homens de bem não fazem.
Amigos somos mas em opposição estâmos.
Permitta-me, todavia, a camara, que lhe diga claramente: oxalá, cedo venha o dia em que possamos dignamente caminharmos um para o outro, para a sustentação de uma politica liberal e democratica.
Oxalá cedo venha esse dia, diga-o alto e em bom som, em que os elementos liberaes d'este paiz possam dar-se as mãos, e luctar unidos contra esses conservadores, que de conservadores só têem o nome e os interesses. Oxalá!
É celebre! Os meus companheiros de trabalho e de lucta; os meus companheiros de sete annos continua e constantemente no mesmo partido, embora nas ultimas e infimas classes, os meus amigos politicos estão ali; os meus amigos pessoaes d'aqui.
E é d'ali, onde devia ser conhecido, que me attribuem accordos immoraes com qualquer judeu, endinheirado!
Não conheço judeus, embora não tenha a monomania larvada do judaismo!
Fui educado por um pae, miguelista e catholico, no emtanto tolerante e amigo da liberdade.
Se, para vós judeu, quer dizer banqueiro, sei o que elle é, e quaes são as suas funcções sociaes; sei que tem defeitos e virtudes; que amontoa colossaes fortunas e o egoismo é a sua divisa, mas tambem sei que no mechanismo economico moderno é uma necessidade.
Sem professar religião alguma, respeito profundamente todas; positivista como sou, as crenças, que emanam da fé religiosa ou da sciencia, merecem-me inteira e sincera consideração.
Fosse eu, embora, catholico fervente, não adoraria Santa Apollonia; mas tambem não me curvaria nem accenderia vélas diante de Santa Iria.
Tambem não odeio os judeus, tomando este nome no sentido de banqueiro; porque têem elles a sua funcção especial e indispensavel no meio economico actual. São instrumentos uteis de trabalho, indispensaveis rodas no mechanismo financeiro moderno; chamam-se Rotschilds em Londres e em Vienna, Ephrusia em Paris, Mayer e Burnay em Lisboa.
Outros judeus ha, que esses é necessario extinguir. São conhecidos os traços caracteristicos d'essa raça terrivel. A sua missão historica é devastadora, como a horda de hunos que Attila arremessou sobre a Europa.
Esse judeu, na idade media, explorava o nobre, e quando o havia empobrecido, este, ás vezes, queimava o na praça publica, roubava-o e desflorava-lhe a filha; depois transformou-se, mendigava as migalhas que lhes deixavam cair os grandes homens, como Colbert e Pombal; mais tarde esperava nas ante-camaras ministeriaes, curvado e sorridente, a passagem do grande politico, e por fim, entrando nos gabinetes ministeriaes, ensinou aos ministros ignorantes os calculos e as operações mal realisadas.
A pouco e pouco, estendendo os fortes tentaculos, como a pieuvre de que falla Victor Hugo, envolveu tudo, e de facil instrumento da politica tornou-se agente; procura agora organisar partidos para seus instrumentos.
Sr. presidente pertenço á classe d'aquelles que não vêem nomes mas principios, d'aquelles que em circumstancia alguma querem saber se são judeus ou se são catholicos os homens; que têem uma funcção publica e social e não podem ser attendidos, jamais, por qualquer outra ordem de considerações.
Agora nós.
Com sincera, mágua e profundo desgosto me refiro a terceira conclusão.
Escorraçam me do partido, em que durante nove annos militei? É um plano, um trama de ha muito seguido nas trevas contra alguns correligionarios incommodos, combinação que hoje irrompe á luz do dia.
Uma parte do partido procura expungir outra aos seus quadros porque manifesta opinião contraria?! Assim seja
Sr. presidente, vou terminar para nunca mais tocar n'este assumpto.
Na hora da despedida e de separação forçada levo saudades.
Terei paciencia.
Ao menos, permitia Deus que os meus de armas, despindo as reluzentes armaduras de fino aço damasquinado, para envergarem as alvas tunicas dos pretendentes, as não manchem com ambições menos dignas.
Emquanto aos escorraçados, poucos são e fracos. São poucos, são, aquelles que durante annos trabalharam com a regeneração nas ultimas fileiras, sem honras e sem premios; e são esses os escorraçados!
Tanto peior! Com o pequeno numero ficará talvez a tradição. E a bandeira gloriosa, que Fontes Pereira de Mello sustentou com mão segura, essa bandeira rasgada pela metralha de cem combates gloriosos, salpicada de sangue de heroes, talvez fique com esses poucos... Com os muitos, com os fortes, ficará a bandeira nova de seda pura, como a não tem o sultão da Turquia, recamada de oiro fino, como mais fino não o enterram os Ouraes - sim, mas essa bandeira nova e rica será... comprada na rua dos Fanqueiros!
O sr. Presidente: - A ordem dos trabalhos para a sessão nocturna de hoje é, na primeira parte, a discussão do projecto de lei n.º 178, e na segunda parte a continuação da discussão do projecto das pautas.

Está levantada a sessão.

Eram seis Horas da tarde.

Discurso proferido pelo sr. deputado Barbosa de Magalhães, na sessão de 16 de julho e que devia ler-se a pag. 1808, col. 1.

O sr. Barbosa de Magalhães: - Sr. presidente, eu tinha pedido a palavra no intuito de mandar para a mesa um additamento ao projecto que se discute, e que é do teor seguinte:
(Leu.)
Este additamento tinha por fim prevenir a duvida de que a junta geral do districto de Aveiro empregasse sómente este subsidio de 8:000$000 réis na construcção do novo edificio, e não d'esse depois dinheiro algum do seu cofre para a continuação d'essas obras.
Suppunha eu, que seria esta a unica objecção que se podia levantar a este projecto, e queria anticipadamente responder lhe.
No entanto o illustre deputado e meu amigo, o sr. José Novaes, acaba de o impugnar com outras rasões, que me