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1726 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

moa, isto é, que o Zambeze é nosso, os territorios são nossos, e que na nossa casa só nós mandâmos. (Apoiados.)

Eu vou terminar com uma ligeira reflexão.

Talvez alguem se persuada que ha qualquer malquerença entre mim e o sr. ministro dos negocios estrangeiros. Não ha.

Eu hei de tratar esta questão amanhã ou quando o sr. ministro dos negocios estrangeiros vier á camara, e pedirei então a s. exa. todas as responsabilidades d ella no passado, o desde já affianço que não ha entre mim e o nobre ministro a menor malquerença, porque qualquer Cousa que me melindre esqueço-a poucos momentos depois.

Eu entendo que o sr. ministro dos negocios estrangeiros é o mais prejudicial ministro que nós temos tido (Apoiados.)

V. exa. sabe com certeza, toda a maioria o sabe e sabe-o a minoria, que na eleição em que fui eleito deputado, o sr. ministro dos negocios estrangeiros votou commigo, sendo meu adversario, o que demonstra bem claramente que s. exa. não me quer mal.

Póde portanto o sr. ministro dos negocios estrangeiros estar descansado e escusa de ter o menor receio de que entre mim e elle, possa haver qualquer questão pessoal n'esta casa.

Eu sou portuguez e unicamente portuguez e tenho um modo de ver as cousas muito differente do de s. exa.

S. exa. tem a seu cargo uma pasta cujos negocios interessam altamente a Portugal, e entende que deve dar tudo, o e eu entendo que não se deve dar nada.

Vemos as cousas de modo differente. É apenas isto.

Ora este receio que eu tenho de s. exa. não importa, como v. exa vê, do maneira nenhuma a menor idéa de indisposição pessoal.

Deus permitia que o sr. Barros Gomes longe d'aqui, e onde esteja n'este momento, ouça as minhas palavras e venha ao parlamento tratar esta questão como nós a queremos tratar.

Nada tenho com s. exa.; é pura e simplesmente uma questão da nossa patria, em que nos devemos ligar, para nos oppormos áquillo de que nos querem espoliar.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Ministro da Marinha (Henrique de Macedo): - Começo por agradecer ao illustre deputado as palavras, no meu modo de ver excessivamente amaveis que se dignou dirigir-mo pessoalmente. Essas é que eu attribuo á bem querença e não tanto outras palavras de critica dirigidas a ura outro meu collega, que alguem, não eu, poderá considerar de malquerença pessoal.

Nunca podia suppor que s. exa dirigisse por qualquer fórma, e segundo o seu modo de ver, as discussões, sobre tudo em assumpto de tanta importancia, por malquerença a alguem.

Acredito e estou convencidissimo de que s. exa., quando me é exageradamente agradavel, é isso devido de certo á conta em que me tem, o não aos meus merecimentos; mas tambem creio que as palavras de critica, mais ou menos acerbas, ditas n'este logar não provém da malquerença pessoal, sobre tudo quando se trata de questões do vulto e da importancia d'aquellas a que s. exa. se referiu. Isso é que eu não podia acreditar de ninguem, e muito menos do s. exa., de quem sou amigo pessoal e tambem o não acredita o meu collega. ( Apoiados.)

Hei de transmittir-lhe as palavras do illustre deputado, e asseguro a s. exa. que as hei de transmittir de fórma que hei de accentuar no seu animo a convicção de que ellas não são senão a expressão da verdade.

Relato um facto á camara e de certo ella me acredita, porque não está habituada a ouvir-me fallar senão a verdade.

Hontem, quando terminou a sessão, conversando com o meu collega o sr. ministro dos negocios estrangeiros, perguntei-lhe se pile vinha hoje á camara, dizendo-lhe que eu tinha de vir porque discutindo-se em ordem do dia o orçamento rectificado, tinha fallado sobre o assumpto o sr. Julio de Vilhena, tratando-se principalmente da questão colonial; e tendo terminado s. exa. o seu discurso, eu havia pedido a palavra para lhe responder. S. exa. disse-me que, em virtude do que se tinha passado na ultima sessão, ficara convencido de que a opposição regeneradora, e sobre tudo a opposição em geral, não desejava tratar na sessão de hoje o assumpto a que se referiu o sr. deputado Serpa Pinto. Essa convicção vejo que era erronea, mas posso assegurar, que da parte do meu collega o sr. ministro dos negocios estrangeiros essa convicção era de boa fé.

E esse o motivo, e o ter ido hoje ao paço em obrigação de serviço, visto ser hoje dia de assignatura real, que fez com que s. exa. não viesse a esta casa.

Estou certo, porém, que desde que eu lhe communique os desejos do illustre deputado, s. exa. se apressará a vir a esta camara, na primeira sessão, para tratar do assumpto, nos limites em que já declarou que podia tratal-o, nos limites em que foi tratado na outra casa do parlamento. E aqui verá o illustre deputado que, dizendo-lhe estas palavras, lhe demonstro por alguma fórma que o facto de s. exa. não comparecer aqui hoje, não significa de nenhum modo uma desconsideração por esta camara, quer dizer, não significa o desejo de tratar esta camara de uma maneira differente d'aquella por que foi tratada a camara dos dignos pares, sobre o mesmo assumpto.

Portanto, s. exa. de certo comparecerá, logo que seja avisado por mim de que estava n'uma errada convicção.

E, a final, desde que desappareça esta idéa de desconsideração, que me parece que não póde existir, depois das explicações que acabo de dar a final, repito, o prejuizo será simplesmente um adiamento de discussão por algumas horas.
Quasi que não preciso de defender-me de increpações propriamente feitas á minha pessoa, pelo illustre deputado que acaba de fallar sobre o assumpto de que se trata na parte que se refere á minha pasta; s. exa. foi o primeiro a assegurar á camara, em vista de documentos que teve ensejo de consultar no ministerio da marinha, e que não estão sobre a mesa d'esta camara para serem consultados por todos os illustres deputados que o desejassem fazer, porque me foram primeiro pedidos por alguns membros da camara dos dignos pares, e estão sobre a mesa d'aquella camara; mas como ia dizendo, s. exa., em vista d'esses documentos, foi o proprio que declarou á camara, sinceramente, como e seu costume, que o ministro, se tinha errado, tinha procedido em vista de informações officiaes, porque não tinha outras para proceder n'esta occasião.

Direi comtudo a s. exa., que o erro, se erro houve, não se lhe póde chamar propriamente uma reconsideração; não é um erro sem emenda possivel e a curto praso; porque, consistindo esse erro simplesmente na prorogação de um praso, e contendo, como o illustre deputado viu, o telegramma dirigido ao governador de Moçambique por mim, telegramma que auctorisava a prorogação d'esse praso, contendo, digo, a indicação ou antes a ordem de urgentemente dar ao governo todas as informações que podesse colher sobre o assumpto e a sua opinião valiosa sobre elle, para que o governo podesse resolver definitivamente, ouvidas as estações officiaes competentes, contendo, repito ainda, o telegramma todas estas indicações, vê v. exa. e a camara que ha simplesmente uma prorogação de praso e mais nada, e que o governo se reservava depois, obtidas das auctoridades locaes informações mais circumstanciadas, resolver o assumpto definitivamente.

Não ha aqui portanto, o que propriamente se chama uma reconsideração.

Eu não revoguei o regulamento, não auctorisei mesmo a sua suspensão para todos os portos da provincia de Moçambique, nem mesmo para o porto de Quilimane; auctorisei simplesmente o governador a conceder uma proro-