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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Rodrigues de Freitas, preferido na sessão de 9 de setembro, e que devia ter sido publicado a pagina 588 d'este Diario

O sr. Rodrigues de Freitas: — Peço a v. ex.ª que marque um dos proximos dias para se verificar a interpellação que annunciei ácerca dos enterramentos no cemiterio de Paranhos, e tanto mais sou levado a pedir isto a v. ex.ª, quanto confio nas informações de pessoas dignas de credito, segundo as quaes ha tentativas para conseguir que o governo consinta em que seja approvado um terreno sem condições proprias para cemiterio.

O nobre presidente do conselho já aqui disse muito claramente que havia de prestar toda a sua attenção a este negocio, que é realmente valioso, que póde tomar proporções ainda mais graves se s. ex.ª não attender a elle, resistindo a todas as supplicas que se lhe fizerem desde que não estejam de conformidade com a lei. Peço pois a v. ex.ª que contribua para que o governo responda o mais breve possivel a esta interpellação.

Chamo tambem a attenção do sr. ministro do reino para um communicado que vem no Jornal do Porto, chegado hoje a Lisboa, e que diz respeito a certos insultos feitos por empregados do lazareto a passageiros vindos do Brazil. S. ex.ª examinará estas reclamações e fará o que entender conveniente.

Permitta-me agora v. ex.ª que eu diga algumas palavras ácerca das votações que hontem houve n'esta casa.

Votei a proposta do illustre deputado, o sr. Barjona de Freitas, declarando que a julgava mais uma proposta de censura do que de louvor. Se o illustre deputado, o sr. Barros e Sá, não tivesse requerido que se julgasse discutido o modo de propor, eu teria pedido ao sr. Barjona de Freitas que fosse mais explicito sobre o sentido da moção. S. ex.ª já tinha declarado que ella não era de censura nem de confiança. S. ex.ª já havia dito que, se o governo podesse por uma iniciativa forte resolver a questão de fazenda, o partido regenerador não duvidaria apoia-lo. Reflectindo n'isto, pareceu-me que taes palavras indicavam censura ao gabinete por não ter até agora dado provas d'aquella iniciativa.

Porém se o partido regenerador, que ha dias se queixava de não lhe darem a palavra para definir a sua posição politica, não tivesse cortado o debate, perguntaria ao illustre deputado, o sr. Barjona de Freitas, se o partido regenerador entendia que o governo tinha tido iniciativa correspondente ás necessidades publicas.

Ainda n'outras palavras se manifestou tal partido no gabinete. O sr. Barjona de Freitas disse que um facto importante se déra: o partido historico declarára-se opposição ao governo; e acrescentou phrases mostrando que desde então era assás difficil ao ministerio dirigir os negocios publicos. Isto de certo não é louvor; isto é censura; mas sinto que o eloquente orador não fosse mais tranco; depois de taes phrases, o seu partido não podia definir-se dizendo que não era nem a favor nem contra o governo; o sr. Barjona de Freitas, com o seu talento e com a sua habilidade parlamentar, evitou, quanto lhe era possivel, responder claramente ao que se lhe perguntava.

Apesar d'esse talento, entendi aquella moção como de censura; e se eu perguntasse a s. ex.ª se o partido regenerador julgava que o governo tinha tido até agora iniciativa bastante, estou convencido de que s. ex.ª me responderia conscienciosamente que não.

Os ministerios não vivem de um apoio, que se envergonha de o ser, nem de uma confiança igual... a zero; necessitam maioria que o defenda, não só dizendo — approvo ou rejeito, mas tambem defendendo os seus projectos, representando o seu pensamento politico.

Póde o que se tem passado aqui ser util para um ou outro partido que queira herdar as pastas; póde ser isto uma commoda hypocrisia politica, mas não é conveniente para o reino (apoiados). É possivel tambem que a moção do sr. Barjona signifique as melhores intenções de que o paiz seja bem governado.

Mas o que vemos nós? Vemos uns poucos de ministros, alguns dos quaes não comparecem na camara, senão quando têem de dizer que rejeitam propostas da opposição, ou que approvam as dos amigos do governo, ou, emfim, para avidamente se prenderem á ultima tabua de salvação que s. ex.ª encontraram n'este mar politico tão agitado (apoiados). Essa tabua foi a moção do partido regenerador.

Creio que, quaesquer que fossem os estadistas que substituissem os actuaes ministros, formariam governo de politica mais definida, e encontrariam quem os auxiliasse com a sua palavra; acabaria o systema do silencio ou dos inconvenientes ápartes, ou dos votos dolorosamente proferidos em voz baixa por aquelles mesmos deputados, cuja aptidão eu reconheço, e que n'outras epochas teriam feito discursos eloquentes (apoiados).

Governo, na accepção rigorosa da palavra, não existe. Póde ir vivendo como até agora; póde ir dando o triste espectaculo de arrastar a sua existencia (apoiados).

Sinto que um partido importante d'esta casa, o regenerador, tome a responsabilidade de factos que podem desacredita-lo perante o reino; o povo está com os olhos fitos na politica d'esta casa; o povo deplora que tão fraco e inconstitucional governo dirija os negocios publicos; por isso censurará aquelles que, pela ambiguidade de suas palavras, contribuem para que esta perigosa situação dure ainda mais tempo (apoiados).

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