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1748 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

guos pares, por isso que a camara dos deputados tinha o mesmo direito para os examinar.

(O discurso será publicado um appendice, quando s. exa. o restituir.)

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros [Barros Gomes): - A respeito do desassocego em que s. exa. fallou, creio que se illudiu, e tambem não julgo que acertasse com respeito á minha responsabilidade pelos actos que tenho praticado; não assim com respeito á questão de que se trata, que eu sei que é gravo, o que obriga o governa a applicar toda a sua actividade na sua resolução.

A respeito do meu desasocego, poderia s. exa. figural-o tomo figuram muitas outras cousas; podem, se isso lhes apraz, imaginar, como, por exemplo, imaginaram um desaccordo entre mim e o meu particular amigo o sr. Henrique do Macedo, com quem tenho estado na melhor harmonia e intelligencia, consultando-o muitas vezes sobre assumptos da minha pasta, como consulto tambem todos os meus collegas, e especialmente o sr. presidente do conselho, sendo certo porém, que, pelas circumstancias dos negocios que tenho a tratar, é o sr. Henrique de Macedo aquelle a quem consulto e ouço mais a miudo, apreciando por todas as fórmas o seu juizo claro e recto e vivendo com elle n'uma camaradagem que não póde ser melhor. N'estas circumstancias é que vem o illustre deputado surprehender-me deveras, notando dosintelligencias entre mim e este meu collega!

Agradeço a s. exa. esta novidade. S. exa. deu-me hoje umas poucas de novidades, uma d'ellas foi esta, e a segunda lei outra, que em verdade não achei tão extraordinaria, e vem a ser que eu não mereço a confiança da opposição; estava eu um pouco suspeitoso de que a não merecia, mas, visto a declaração de a. ex.11 adquiri a convicção de que effectivamente não logrei essa ventura.

Com franqueza direi, porém, a s. exa. que estou n'este logar e continuarei a permanecer n'elle, emquanto for honrado com a confiança da corôa e dos meus collegas no gabinete, e especialmente a do sr. presidente do conselho, e emquanto as maiorias das duas casas do parlamento não me significarem por qualquer fórma que ou desmereci do seu apoio.

N'estas condicções desejaria eu bem que os meus actos fossem por tal fórma bons e que os animos dos illustres deputados ficassem por tal fórma despreoccupados de todo o facciosismo que esses actos podessem ser apreciados com outro fim que não fosse o ter o prazer de me lançar em rosto os meus desastres diplomaticos.
Seria uma fortuna para mim, se por acaso a carencia absoluta de facciosismo no meu amigo o sr. Franco Castello Branco o levasse a apoiar-me; mas não me lembro, o n'estas cadeiras tenho visto homens eminentes, não mo lembro que a nenhum d'elles fosse dado lograr essa confiança e esse apoio incondicional d'esse lado da camara. Nunca vi isso, e eu não esperava por mim gosar tamanha ventura.

Não foi, pois, de todo uma surpreza que o illustre deputado me fez, dizendo que eu não merecia a sua confiança politica, confiança politica com que, aliás, eu não podia contar, em face da propria altitude assumida e da palavra proferida pelo illustre deputado.

Quanto ao ponto essencial tenho a dizer ao illustre deputado que s. exa., como qualquer outro membro da opposição ou da maioria, tem o direito plenissimo de chamar a attenção do governo sobre qualquer assumpto e discutil-o, mas que o ministro da corôa, e muito especialmente o ministro a quem estão confiadas as relações externas, que é tudo quanto ha de mais delicado, e que se prendem a circumstancias e particularidades que por sua natureza nem sempre podem ser expostas; o ministro dos negocios estrangeiros especialmente, repito, tem o direito pleno de dizer o que eu digo, isto é que entendo que n'este momento não devo ir mais longe e que devo repellir de mim a responsabilidade da continuação d'esta discussão. Recuso-me, pois, agora a dar explicações; mas isto não significa que eu ai não dê em occasião opportuna. Se qual seja essa occasião é que só eu sou o juiz.

Portanto, s. exa. amanha levanta de novo a questão, e eu posso vir aqui ouvil o; mas francamente, creio que esse tempo poderia ser mais bem empregado em defender os interesses que me estão confiados, do que em estar aqui constantemente a declinar uma discussão que no momento actual reputo inopportuna.

Portanto a nossa situação é clara. Os illustres deputados podem discutir, podem com os seus vastos conhecimentos tratar largamente esto ou outros assumptos africanos, podem até destruir os argumentos em que eu me podesse basear para sustentar o nosso direito, como me parece que succedeu ha pouco; mas a discussão para mim n'este momento está terminada, e não direi mais nada. Entendi que assim praticava O meu dever, e n'este terreno mo conservo.

E podem o illustres deputados ter a certeza de que, quando entendo em consciencia que cumpro, um dever, não me afastam d'elle, sejam quaes forem os direitos ou as accusações que me dirijam.

Quanto á questão do Zaire, a que se alludiu, devo dizer ao illustre deputado que as circumstancias então eram bem differentes, porque quando discuti o tratado de 1884 já estavam impressos o distribuidos dois volumes do Livro branco, que tratavam do assumpto.

Referi-me a uma questão finda, acerca da qual haviam sido apresentados á camara, para os apreciar, todos os documentos que o governo de então tinha julgado opportuno reunir o publicar, para esclarecer a camara e fundamentar o juizo do parlamento.

O sr. Franco Castello Branco: - Peço a v. exa. que consulte a camara, sobre se me permitte fazer ainda algumas considerações em resposta ao sr. ministro.

O sr. Presidente: - Consulto a camara sobre se consente que dê a palavra ao sr. Franco Castello Branco, visto que já deu a hora.

Resolveu-se affirmativamente.

O sr. Franco Castello Branco: - Observa ao sr. ministro que a opposição, embora s. exa. não goste, precisa ainda do mais explicações da parte do governo, sobre a questão do Zambeze.

(O discurso será publicado em appendice a esta sessão se s. exa. o restituir.)

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Barros Gomes): - É simplesmente para pedir ao illustre deputado que não tenha tantas apprehensões com respeito á ignorancia em que eu desejo manter a camara sobre a maneira como dirigi as negociações acerca da bahia de Tungue.

Não é por minha culpa que o Livro Branco, que trata d'estas negociações, não está ainda distribuido no parlamento; hoje mesmo dirigi ao sr. administrador da imprensa nacional uma queixa formal acerca da demora que tem havido na impressão d'este livro, demora que me está causando o desprazer de ouvir as accusações do illustre deputado n'esta occasião, quando eu desejaria muito não ter de responder a essas accusações, e por outro lado habilitar a camara com todos os documentos que comprovam qual foi n'esta questão delicada o procedimento do governo, e como por elle foram resalvados o brio e a dignidade nacionaes.

Do sr. Venancio Deslandes recebi uma carta, explicando a situação em que se acha a imprensa nacional, e dizendo que o pessoal está cansado, não obstante que tinha dado ordem para a todo o custo reforçar aquelle que está encarregado da impressão dos Livros Brancos, para obter a segurança de que dentro em pouco esses livros sobre as negociações relativas a Zanzibar e á China estariam promptos, e assim tornados publicos esses documentos ácerca dos quaes motivo algum me póde levar a declinar a dis-