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SESSÃO DE 25 DE MAIO DE 1888 1749

cussão, e a dar conta dos meus actos, quer ao illustre deputado, quer a qualquer outro membro d'esta camara.

Ainda mais. S. exa. que tem tantas apprehensões, teria podido já, se quizesse, estar informado passo a passo da maneira por que dirigi essas negociações lançando mão de um documento que está publicado; refiro-me ao Livro Azul inglez. Encontra ahi s. exa. todas as notas, e mais do que isso, encontra a noticia de todas as minhas conferencias com o representante de Sua Magestade Britannica em Lisboa, todas as palavras que trocámos mutuamente.

O sr. Franco Castello Branco: - O Livro azul não me foi distribuido, nem me parece que costuma sel-o entro nós.

O Orador: - Tambem o governo não tem obrigação de o distribuir.

O sr. Franco Castello Branco: - Logo não tenho obrigação do o conhecer como deputado.

O Orador: - Mas tinha a possibilidade, querendo, do o adquirir de um momento para outro para, lendo o, socegar assim a inquietação do seu animo, de habilitar-se desde logo pura apreciar os meus actos, contrariando assim a minha supposta intenção de os subtrahir ao exame da camara.

Mas é em verdade uma injustiça attribuir-me uma tal intenção, pois, creia me s. exa., é independente da minha vontade, o facto d'esses documentos não estarem já na camara.

S. exa. conhece-me ha muito tempo, e n'outras occasiões tem-me feito mais justiça, do que aquella que me está fazendo n'este momento.

O illustre deputado sabe, que não declinei nunca as responsabilidades da discussão. (Apoiados.) Estou n'esta camara ha muitos annos, desde 1869, tenho exercido o logar ministro durante mais do quatro e nunca declinei que de a responsabilidade dos meus actos. Em questões d'esta ordem estou sempre prompto a assumil-a inteira, perante a representação nacional.

Não desejo occultar nada.

Agora, por isso mesmo que não declino as responsabilidades d'essa discussão, por isso que a minha consciencia me diz que tenho empregado todos os esforços para bem servir o meu paiz, a minha tranquillidade é completa, e o meu espirito acha-se perfeitamente socegado n'esta questão, como em todas em que tenho a consciencia de que cumpro os deveres do cargo que me foi confiado.

Não digo que, ao ver o illustre deputado, que muito considero e prezo e por quem tenho uma sympathia especial, que já tenho tido occasião de confessar a s. exa. muitas vezes, atacar-me com tanto calor e declarar-me, perante uma assembléa illustrada, como esta, tão absolutamente incapaz, tão pernicioso até para o meu paiz, no sentido de que póde correr perigo, nas minhas mãos, a dignidade nacional, o seu bom nome e os mais altos interesses publicos; quando me vejo assim passado um diploma de incapacidade por um homem com força de intelligencia, de talento, e das qualidades do sr. Franco Castello Branco, não digo, repito, que isso passo desapercebido para mim, não digo mesmo que isso mo seja indifferente; pelo contrario é-me doloroso, e é possivel que n'este momento não possa de todo disfarçar a impressão que me vae pelo espirito; mas, emquanto á consciencia do cumprimento do meu dever, á fórma por que dirijo os negocios a meu cargo, ao modo como procuro ser util ao meu paiz, correspondendo assim á confiança que elle em mim deposita, representado pela maioria n'esta e na outra camara, e á confiança dos meus collegas; emquanto a isso, nada sinto que me incommode, porque nada receio. (Apoiados.)

Terei receio, mas é de que nem sempre, por circumstancias alheias á minha vontade, se possam combinar as cousas da melhor forma para o meu paiz; mas, repito, o conhecimento que elle tem já e que deve vir a ter da direcção que tenho dado ás relações externas, socega-me e tranquillisa-me. A minha inquietação, posso afiançai-o ao illustre deputado, não vem d'esse lado. S. exa. engana-se inteiramente; creia que a esse respeito até me sinto bem, estou perfeitamente é vontade, tal é a consciencia de que os meus actos em nada têem contribuido para desfavorecer o meu paiz ou menoscabar a sua dignidade.
(Apoiados.)

Emquanto aos documentos, ácerca da navegação no Zambeze, os que estão na camara dos dignos pares hão de vir tambem para esta camara. Se para lá foram, foi a pedido de alguns dignos pares e de accordo com os ministros da marinha e dos negocios estrangeiros, e taes documentos não têem nada com as relações externas.

São unicamente documentos da responsabilidade e dependencia do ministerio da marinha, porque se referem a informações de auctoridades locaes e a communicações officiaes trocadas com a provincia de Moçambique. Não têem nada relativo a negocios externos.

Não mandei, por emquanto, outros documentos para a camara dos dignos pares, nem podia mandal-os, negando-os aqui, sem offender esta camara, que tanto respeito, e tenho obrigação de respeitar. Como podia eu apresentar ali documentos que me recusava a apresentar n'esta casa?! {Apoiados.)

Foi n'esta camara que fiz as declarações importantes, que asseguravam o direito do governo portuguez, e d'aqui é que foram tramsmittidos para a imprensa da Europa.

Não podia, pois, entrar no meu animo a menor idéa da desconsiderar por qualquer maneira esta camara; seria isso uma loucura, que nunca me passaria pela mente.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Presidente: - A ordem do dia para ámanhã é a continuação da que vinha para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram seis heras e um quarto da tarde.

Rectificações

Na sessão de 23 de maio de 1888, no discurso do sr. D. José da Saldanha, a pag. 1692, lin. 55 e 56, col. l.ª, onde se lê «o se que dizer e o que se fazer». deve ler-se «o que se disser e o que se fazer»; mesma pagina, lin. 49, col. 2.°, onde se lê «me occorreu»,deve ler-se «me occorrem»; a pag. 1693, lin. 27, col. l.«, onde se lê «s. exa.», o a lin. 68, onde se lê «assim como tenho»,
deve ler-se «assim como creio tenho»; mesma pagina, lin. 59, col. 2.ª, devo ler-se «fraqueza», em vez de «franqueza», pag. 1694, lin. 27, col. 1.ª, onde se lê «o soubesse, Tinha», deve ler-se «o soubesse, não vinha»; a pag. 1695, lin. 8, col. 1.ª, deve ler-se «poderá», em vez de «poderão», e lin. 11, onde se lê «seja muito pouco numerosa a sua familia», deverá ler-se «seja muito, quer seja pouco numerosa a sua familia»; menina pagina, lin. 70, onde está «mulheres», deve ler se «mulher».

Redactor = S. Rego.