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1798

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

que "poderíamos tirar, se tivessemos o arsenal da marinha nas condições em que devia estar.

Quiz-se construir umas caldeiras para a corveta D. João, começaram-se a construir as caldeiras, mas levaram tanto tempo a construir, que quando estavam promptas o navio teve de ser condemnado.

Estas caldeiras vão ser applicadas, creio eu, a uma das canhoneiras que estão em construcçâo, o da-se um facto que é lamentavel.

Uma d'estas canhoneiras, que já apparecem no orçamento do anno economico futuro como devendo estar armadas, quando não estão acabadas, tem de ser desmanchada em parte, com grande dispêndio, porque não houve todo o cuidado na abertura do furo para o veio do hélice, ou não se marcou bem o espaço para as caldeiras. De maneira que este navio tem de ser desmanchado, em parte, ainda antes do estar concluido.

Isto são factos que revelam menos cuidadosa administração.

Não desejo privar o governo de poder desenvolver a marinha, que é util e indispensavel, mas realmente custa a dar auctorisações para a compra de navios de guerra quando deixámos estragar no Tejo outros que podiam ainda prestar bom serviço.

' Ainda chamo a attenção do sr. ministro para um facto, que tambem não mostra boa administração..

Em todas as colonias, á excepção de Macau, a artilheria de que estão guarnecidas é pessima; e alguma ainda do seculo passado.

Ora, no arsenal da marinha têem-se vendido peças que, se não eram das melhores, eram incontestavelmente muito Superiores ás que estão no ultramar.

Ora, parecia-me conveniente que fossemos mandando para o ultramar essas peças para substituir as que lá existem, em logar de se estarem a vender a 10 réis o kilogramma, e, se são exactas as informações que tenho, passa de cem o numero de peças vendidas.

E para estes factos, e ainda para muitos outros, que eu podia agora referir, se o podesse fazer perante o ministro que gere a pasta, factos que revelam má administração, que eu chamo a attenção do governo no interesse do paiz.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros e interino da Marinha: — Eu desejo dizer duas palavras apenas a respeito das reflexões que fez o illustre deputado e meu antigo amigo, o sr. Pereira de Miranda. ¦

As observações de s. ex.ª a respeito das difficuldades da boa conservação dos navios no Tejo são exactas; mas é verdade tambem, e é conveniente dizel-o, que para a boa conservação dos navios é preciso adoptar o processo que está em pratica na Inglaterra, e é ter docas cobertas por telheiros, onde os navios se guardem para não soffrerem a acção do tempo, a acção das ondas e sobretudo a acção destruidora das amarrações. (Apoiados.)

É claro que nós não podemos fazer isto, porque não temos os capitães disponiveis para fazer docas o abrigos, os quaes deviam naturalmente ser feitos mais baratos e mais convenientemente na outra banda. (Apoiados)

Mas as reflexões do illustre deputado são de tal maneira justas, que eu communicarei ao meu collega, cuja grave doença infelizmente se prolonga, que ellas me fizeram impressão, a fim de que estude este assumpto. (Apoiados.)

Quanto ás observações que fez o illustre deputado, a respeito da morosidade das obras que se executam no arsenal, devo dizer que essa morosidade resulta de muitas cireumstancias, algumas das quaes são de mais facil remedio do que outras.

Uma das causas da morosidade das obras feitas no arsenal é a falta de machinas e utensilios.

Hoje já ha mais do que havia, mas ainda não ha tudo o que devia haver, e é essa uma das causas, por que as obras de ferro, sobretudo, se fazem com grande morosidade.

Na minha opinião era conveniente que se fizesse no arsenal o menos possivel d'essas obras, mas tambem não é facil entregar á industria particular uma parte das obras de ferro destinadas aos navios; porque ha a considerar cireumstancias especiaes, que se não dão nos navios mercantes, sendo a consequencia d'isto, que ás vezes uma obra do ferro da industria particular, bem feita, até certo ponto, não é sufficientemente resistente para ser empregada n'um navio que é uma arma de guerra.

Isto não quer dizer que a reflexão do illustre deputado não seja justa; é isto juntar ás difficuldades apresentadas por s. ex.ª mais uma difficuldade ainda para a solução do problema.

Sobretudo é preciso tirar ao arsenal os habitos de pouca actividade. (Apoiados.)

Esses habitos de pouca actividade são tradicionaes no arsenal; datam do tempo da sua instituição, datam da antiga Ribeira das náus. (Apoiados.)

Entretanto, hoje trabalha-se no arsenal mais e melhor do que se trabalhava em outro tempo. (Apoiados) Isto é fóra de toda a duvida. Todos os que têem conhecimento do arsenal sabem isto. (Apoiados.)

Mas está o mal curado de todo? Não está; e eu já me contento que elle se cure até ao ponto que é possivel fazel-o nas officinas do estado.

Do estado, digo: mas não só em Portugal; é em toda a parto. Todos sabem que as officinas do estado trabalham morosamente; mas em cousas de marinha, essa morosidade deve ser compensada pela perfeição das obras, e pela sua solidez, que é indispensavel.

São estas as observações que me pareceu justo fazer, para mostrar ao illustre deputado a consideração em que tenho as suas reflexões, e a conveniencia que reconheço em que

0 sr. ministro da marinha as tome em devida conta. Antes de terminar, peço á camara que haja de me permittir que mande para a mesa uma proposta de lei E a seguinte:,

(Leu)

(Será publicada no fim da proxima sessão.) Foi enviada á commissão dos negocios estrangeiros e internacionaes, e ouvida a da fazenda.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para segunda feira é a continuação da de hoje e maÍ3 os projectos n.ºs 103.° e 118.°

Está levantada a sessão. Eram seis horas da tarde.