O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 25 DE JULHO DE 1887 2049

zoito leguas de comprimento por duas a quatro de largura, está ali empregado em duas fabricas de distillação um capital superior a 500:000$000 réis, e que ellas, desde outubro até abril ultimo, transformaram em alcool 36:000:000 de kilogrammas de batata doce, que é a materia prima que quasi exclusivamente empregam na sua laboração, e que é producto da ilha. As fabricas pagam a 140 réis cada 15 kilogrammas de batata, vindo assim a ser de 336:000$000 réis a importante somma que, no referido periodo, foi entregue ao proprietario, ao rendeiro, ao trabalhador e á pequena industria do transporte interno. Por conseguinte, sr. presidente, esta questão é importante para a industria fabril, e importantissima para a agricultura e para as classes menos abastadas de S. Miguel.
Sr. presidente, aquella ilha n'estes ultimos trinta annos, tem passado por varias crises que os habitantes d'ella têem procurado debellar com grande difficuldade.
Os proprietarios, com a sua iniciativa intelligente, inventando novas culturas, os pobres trabalhando a terra com aquelle esforço de boa vontade que os têem tornado conhecidos, em toda a parte para onde têem ido, como trabalhadores de primeira ordem. O oidium destruiu completamente os vinhedos, e elles voltaram-se pura os laranjaes, que lhes deram alguns annos de grande prosperidade. Mas de novo a doença veiu atacar esta cultura e a exportação de laranjas, que chegou a ser de 300:000 caixas, acha-se reduzida a 50:000, e tende a diminuir e a morrer completamente, apesar dos esforços que se têem empregado para debellar o mal que caiu nos laranjaes. Póde dizer-se que a cultura da laranjeira é negocio findo para S. Miguel. Cultivaram, o tabaco, mas essa cultura, comquanto tenha adquirido bastante importancia, não deu os resultados que se esperavam; porque o tabaco, produzido e manipulado em S. Miguel, nunca conseguiu ser consumido senão nos Açores e Madeira. Fizeram estufas e plantaram ananazes, mas essa cultura é de sua natureza restricta, em vista do preço d'aquelles fructos não poder deixar de ser muito elevado. Ensaiaram a cultura do chá, mandaram ir chinas á ilha para ensinarem á maneira de preparar as folhas d'aquella planta, mas não se conseguiu introduzir este producto nos mercados, e póde considerar-se aquella cultura como não tendo, por ora, um futuro certo. Os trigos, milhos e fava produzidos em S. Miguel não alcançam um preço suficientemente remunerador, pela concorrencia que lhes fazem no mercado productos similares de proveniencia estrangeira; por isso se tem limitado a cultura d'esses generos. No entretanto, o valor da propriedade estava de rastos e a emigração fazia-se, por milhares de individuos annualmente; para as ilhas de Sandwich, para os Estados Unidos da America e para o Brazil: Foi então, ha poucos annos, que varios proprietarios de S. Miguel pensaram em empregar alguns capitães no estabelecimento de fabricas de distillação que amparassem o valor da propriedade na sua decadencia, e que empregassem os braços das classes pobres, não só no fabrico, mas sobretudo no trabalho da terra, que devia dar-lhes a materia prima para aquelle.
Realisaram o seu pensamento e conseguiram, em parte, o seu fim. A propriedade começava a levantar e do seu abatimento, e a emigração; diminuia consideravelmente. E não podia deixar de assim acontecer, visto como só o valor da materia prima comprada em sete mezes pelas fabricas excedeu o valor de todos, os outros productos exportados da ilha no mesmo periodo, 336:000$000 réis; disse eu já a v. exa., foi o valor áquella 278:000$000 réis a importancia d'estes. É n'estas circumstancias que se apresente o problema.
Sr. presidente, v. exa. avalia perfeitamente a extensão de terreno que é preciso para produzir 36:000:000 de kilogrammas de batata, e o numero de braços que são necessarios para a sua cultura, e para o trabalho de duas fabricas da importancia d'aquellas a que me tenho referido. Se a industria da distillação do alcool em S. Miguel não for protegida e se morrer, é consequencia fatal e immediata, alem da perda dos capitães empregados nas fabricas, a recaída do valor da propriedade e o tornar-se ainda mais impetuosa a correnta da emigração, por agora suspensa, e á qual já alludi.
Sr. presidente, eu sei que o nobre ministro da fazenda pensa muito a serio, na solução d'este problema, e tenho plena confiança em que a altissima competencia de s. exa. o ha de resolver por fórma que interesses tão vitaes, como os que expuz, não sejam prejudicados e que consequencias tão desastrosas, como as que referi, se não dêem. Como não quero tomar mais tempo á camara, reservo-me para quando s. exa. trouxer ao parlamento as medidas, que houver por convenientes n'este assumpto e direi o mais que se me offerecer a este respeito.
Uma outra representação que mando para á mesa, é dos empregados da secretaria do governo civil de Ponta Delgada, que pedem augmento nos seus actuaes ordenados. Pelos fundamentos que adduzem os peticionarios, julgo ser de toda á justiça a satisfação do seu pedido.
Cumpre-me fazer uma declaração. Recebi estas representações na sexta feira ultima, e só hoje as apresentei porque, na sessão d'aquelle dia, não pôde v. exa. por motivos de serviço parlamentar, dar a palavra a ninguem antes da ordem do dia, e, na de sabbado, estando eu inscripto em quarto logar, não tive a fortuna de me chegar a palavra antes da ordem do dia.
Peço a v. exa., o favor de dar ás representações o conveniente destino, e de consultar a camara sobre se auctorisa a publicação d'ellas, no Diario do governo.
Foi auctorisada a publicação e deu-se-lhes o destino indicado nos respectivos extractos.
O sr. Arthur Hintze Ribeiro: - Apesar da importancia do assumpto de que vou occupar-me, e que é o mesmo que acaba de expor o meu prezado collega e amigo, o sr. Poças Falcão, poucos momentos tomarei á camara, porque não farei mais do que juntar as minhas instancias ás que s. exa. acaba de fazer, chamando á attenção do sr. ministro da fazenda sobre esta importante questão, que diz respeito á distillação da batata doce na ilha de S. Miguel.
Foi pelo illustre deputado feita a resenha das differentes culturas que têem sido tentadas n'aquella ilha com o fim de sustentar a sua prosperidade e o bem estar d'aquella população.
É fóra de duvida que os agricultores ali têem luctado sempre com grandes embaraços e difficuldades; têem sido, verdadeiros luctadores, procurando quanto possivel attingir o bem estar geral; mas a má sorte não cansa de os perseguir e a maior parte das tentativas que têem fido feitas, têem tido um resultado bem differente d'aquelle que era para desejar.
Havia a cultura, com vantagem, dos laranjaes; mas infelizmente uma doença os atacou e fez com que esta fonte de prosperidade tenha caído por fórma tal, que se póde considerar quasi aniquilada. Basta dizer que os proprietarios de S. Miguel tiravam todos os annos d'essa cultura cerca de 900:000$000 réis, que se dividiam não só por elles, mas por todos os manipuladores e trabalhadores d'este ramo de industria agricola; e hoje, como o meu illustre collega acabou de dizer, acha-se substituida esta industria pela da batata doce, que está longe de dar as vantagens da outra cultura, porque não produz mais de 300:000$000 réis, cifra muito inferior á que se obtinha da cultura das laranjeiras.
D'aqui vem que ainda hoje aquelles povos luctam com grandes difficuldades.
Têem porém experimentado, como já disse, differentes culturas. Uma d'ellas, a dos ananazes parecia promettedora, mas este fructo exportava-se annualmente em tão grande abundancia para Inglaterra, que o seu preço, baixando consideravelmente, deixou de ser remunerador.