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que deve tomar a iniciativa, a dizer-se que a camara não lhe compete discutir o assumpto, vai uma differença immensa. Quando se argumenta assim, não ficam bem as pertenções a Cicero e a Demosthenes! Grandes logicos! O seu prurido de ministeriaes consiste na impotencia para o bem, e na indifferença para o mal. E querem que os deputados da opposição mostrem sympathia e respeito por elles e pelo ministerio?! Não póde ser.

Não tomarei muito tempo á camara, até mesmo porque quando se chega a um tal estado, a situação está bem definida, e o silencio é o unico partido a tomar: o silencio, direi agora tomo já disse um distincto escriptor francez, é o pudor das historias, como esta. Nós os deputados da opposição devemos curvar a cabeça e cobrir a cara de pejo, devemos envergonhar-nos de estar n'uma camara, que é insensivel e indifferente no mal que ataca as fortunas particulares e publicas.

E que fizestes vós para remediar este mal? Podereis acaso negar a existencia do mal? Eu vos vou contar um facto que soube já nos corredores da camara. Hoje houve pagamento de pret á guarnição da capital, este pagamento foi feito em soberanos, e para se trocarem estes soberanos em cobre foi necessario perder 30 réis em cada um. E é isto indifferente á camara.'... Trocam-se os soberanos por prata com o rebate de quatro vinténs e um tostão, e por cobre é necessario dar 30 réis!

Mas alguns srs. deputados que dão certas idéas como precedentes a imitar, nem se quer leram o relatorio da commissão. Que não façam caso dos meus argumentos, e dos factos que eu cito, muito embora, não me afflijo com essa resolução: mas que não façam caso dos seus collegas, e dos cavalheiros que são ministeriaes como elles, isto é muito, é de mais.

Entretanto o mal existe, e ninguem o nega, a propria commissão o confessa. Mas qual é o remedio que se propõe? Nenhum, ou por outra soffrer e não queixar. O parecer da commissão de commercio e alies em quatro palavras diz muito mais do que eu poderia dizer em muitas.

Peço a attenção para o seguinte enunciado da commissão.

A commissão não desconhece que o desapparecimento da moeda de praia, que alimentava a circulação no nosso paiz, é uma verdadeira calamidade, cujas causas convem investigar de prompto, mas com prudencia e madureza, a fim de descobrir os meios mais efficazes para atalhar os seus perniciosos effeitos.

Mas esta calamidade que convem investigar de prompto, para a illustre commissão, para o governo, «. para a maioria significa não fazer nada, não fazer caso.

De maneira que a commissão reconhece que é uma verdadeira calamidade o desapparecimento da moeda de prata, e que esta calamidade deve ser atalhada de prompto, a fim de senão sentirem os seus perniciosos effeitos; mas o governo e a camara, torno a dizer, querem evitar esta calamidade não fazendo caso della, nem tractando a questão. Bella logica Não a quero seguir.

Ainda mais, a commissão não contente com estas poucas palavras, que acabo de citar, mais abaixo diz que “ era preciso atacar esta questão na sua origem, e resolve-la segundo os principios da sciencia, de um medo permanente, destruindo os vicios do nosso actual systema monetario,» Pergunto, come é que a illustre commissão quer destruir os vicios do nosso systema monetario? Quaes são as medidas que apresenta para esse fim? Nada, nada absolutamente nada! E não será muito bem dicto, muito parlamentar, muito financeiro, muito administrativo, o parecer da illustre commissão!!!

Quanto á commissão de fazenda, esta teve o atilado engenho e a sublime idéa de considerar a questão pelo lado fiscal; fez de uma questão grave e séria uma questão mesquinha e pueril. As abalisadas intelligencias da commissão de fazenda não tiveram duvida de rebaixar a questão a uma questão fiscal! Em que mãos está entregue a orle financeira do meu paiz \.'.. (Riso) A commissão de fazenda diz — como da proposta do sr. Santos Monteiro não póde resultar diminuição consideravel nos rendimentos do estado, póde por isso adoptar-se. — E para cobrir a cara de vergonha quando se vê que um assumpto desta importancia é rebaixado ignaramente ás mesquinhas e acanhadas proporções de um assumpto fiscal.

Sr. presidente, devemos lamentar vêr o nosso paiz, e a fazenda publica entregue em taes mãos!

Destes que se atreveram a tomar sobre os seus hombros a espinhosa e difficil tarefa de regularisar as finanças da nação, posso eu, com outra applicação, dizer o que dizia Blacás de Touché «Quem se aconselha com taes ministros perde dez corôas se as tiver.» Homens taes, digo eu, perderiam as finanças de dez paizes, se dez paizes lhe entregassem as suas finanças. (Riso)

A questão é simples e clara; ha equilibrio, ha proporção, ha igualdade entre a moeda prata e a moeda ouro? Ha igualdade na moeda prata entre o nosso paiz e a Inglaterra? Não. Em Inglaterra a praia vale 1 para 14 ½, e em Portugal vale 1 para 16 ½. Por conseguinte salta aos olhos de todos, é da comprehensão das intelligencias mais obtusas e acanhadas, que valendo mais a praia em Inglaterra, e mais o soberano em Portugal, vem os soberanos de Inglaterra buscar a prata a Portugal, porque valendo o soberano em Portugal 4:500, mais 660 do que o seu valor intrinseco, afluem os soberanos em procura da prata em virtude das leis do mercado. Parece-me que é da primeira intuição esta consequencia.

Não sei, nem quero saber se a prata sae por contrabando; mas o que sei é que depois da revogação da lei de 30 de janeiro de 1851, que augmentou o direito de exportação, ella tem saido em muito maior quantidade, do que quando vigorava a lei; nem se póde negar a evidencia deste facto.

A prata tinha o direito de 1;000 réis por marco, estabelecido para a sua exportação, e o ministerio achou que este direito era elevado, que podia facilitar o contrabando, e reduziu-o a 100 réis. Mas, suppondo, concedendo mesmo, que este direito provocasse o contrabando; o que é tambem certo, é que a prata não se exportava. E eu não acredito no contrabando da prata em grande quantidade, porque ninguem contrabandêa um genero de grande valor, quando elle involve um grande volume, porque ninguem se quer expor ao risco de o perder. Pois 20 marcos de praia será uma cousa que se possa contrabandear facilmente? Pois 20 marcos de prata poder-se-hão levar n'uma algibeira? Só se fosse aquelle Hercules da minha quer ida Moimenta da Beira, que