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Representação apresentada á camara dos senhores deputados em sessão de 5 de julho

Senhores deputados da nação portugueza. — Onze mil sessenta e seis portuguezes, vossos irmãos, mas que menos favorecidos de fortuna na patria, fomos trazidos, pelo amor ao trabalho, a vir procura-lo na terra amiga do Brazil, apresentam-se hoje ante vós, srs. deputados da nação portugueza, para chamar a vossa attenção sobre um assumpto gravissimo para muitos milhares de portuguezes, e que todavia parece ter sido votado ao desprezo pelos poderes publicos d'esse paiz, a que todos nos honramos e temos gloria de pertencer.

É do actual consul portuguez no Rio de Janeiro, o barão de Moreira, que nós representantes, cujas assignaturas se acham nas adjuntas relações, vos vimos fallar.

Preferimos usar d'este ultimo termo, em vez do de accusar ou de arguir, porque não se deve accusar sem provas que acompanhem desde logo a accusação, nem nos parlamentos convem, em regra, admittir accusações contra quem não possa defender-se d'ellas no mesmo logar. Os representantes comprehendem assim estas cousas, e nem necessitam de as preterir.

O fim que aqui nos trouxe havemos consegui-lo com a verdade, porque o esperâmos da justiça e prudencia do governo, ou se o não conseguirmos, hão de muitos de nós representantes, emquanto estivermos na provincia do Rio de Janeiro, acolher-mo-n'os ao abrigo e protecção de qualquer dos outros agentes consulares estrangeiros, ainda que isto nos custe.

Srs. deputados da nação portugueza, os representantes não vem queixar-se do consul, barão de Moreira, pela denegação de favores que elles lhe tenham pedido. Nunca o incommodaram para isso. Tambem não vos vem dizer que elle é inepto, como de facto é, para as importantes attribuições do seu cargo. Tudo isto seria o menos, e porventura ainda relevavel se n'elle se dessem as principaes das condições que são — as da probidade e da independencia, para o fazerem merecer a confiança dos portuguezes, que na provincia do Rio de Janeiro não são menos de cincoenta mil. O motivo essencial que nos obriga a fazer esta representação é este.

Na verdade, srs. deputados da nação portugueza, não ha emprego publico de maior responsabilidade hoje do que o consulado portuguez no Rio de Janeiro, e esta responsabilidade é pela maior parte com relação ás pequenas e modestas fortunas, mas que, reunidas, sommam em alguns milhares de contos de réis! A propriedade, os bens e os capitaes do portuguez rico não soffre, em regra, perigo, porque por esses ha muito quem se interesse, muito quem vigie, titulos e escripturações regulares, e, emfim, mil elementos de verificação e segurança. Mas não acontece o mesmo com os bens do pobre, e comtudo o peculio feito pelo suor e pela economia, e não poucas vezes até com grandes privações do pequeno commerciante, do caixeiro, do operario, do artista e do jornaleiro, não tem menos direito á protecção do seu governo do que os recheados cofres e os bens dos abastados. Talvez, srs. deputados da nação portugueza, o peculio do pobre careça ainda de muito maior e mais providente protecção, porque n'esse peculio está o pão de muitos centos de desgraçados que em Portugal só esperam os effeitos da mercê divina, pelo trabalho do pae, pelo do filho, pelo do irmão ou pelo do parente que está no Brazil.

E estará o actual barão de Moreira no caso de corresponder e de dar garantia a tão grave e tão immensa res-