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1744-B DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tas representam uma verdadeira riqueza e uma escola especial de agronomos, nós temos deixado estragar a que existe o não pensâmos, nem em melhorar nem mesmo em aproveitar, o que possuimos.

Do antigo director do caminho de ferro de Mormugão, o sr. Fernando Mousinho de Albuquerque, encontrâmos algures a seguinte opinião sobre este assumpto:

«Entra-se nas Novas Conquistas o atravessam-se as provincias de Embarbacem, Chondrovadi e Cacorá. Aqui a população diminuo consideramente, a cultura igualmente e a civilisação é, póde dizer-se, nulla; estas provincias até ao começo dos trabalhes do caminho de ferro estavam quasi no estado selvagem; á parte uma tentativa feita por uma companhia, que fez alguns caminhos publicos e procurou arrotear algum terreno entre Collce e Mollem, nenhum vestigio de civilisação se encontra. O aspecto geral do paiz é inteiramente diverso, mas nem por isso menos pittoresco e aproveitavel; a palmeira desapparece n'esta região para dar logar ás preciosas florestas que, se fossem devidamente curadas, seriam sem a menor duvida um manancial de riqueza para o paiz.

«As principaes madeiras que aqui se encontram são: a toca a mareta clara e escura, o sissó, de que se fazem as conhecidas mobilias da India, a mangueira e muitas outras que se não prestam á marcenaria podem ser aproveitadas com grande vantagem em todo o genero de construcções. A vegetação é opulentissima e se nas densas florestas d'esta região se não encontram arvores de grande porte, é isso devido á maneira como são tratadas. São dois os principaes inimigos a combater, e os meios a empregar para isso parecem-me tão faceis quanto economicos. É necessario acabar com os parasitas e com as queimadas.

«Nada mais facil hoje.

«O córte bem regulado das lenhas destroe o primeiro, uma lei do protecção das florestas acabaria com o segundo, e para pôr em execução estas medidas não seria necessario despender um ceitil. O meio que se afigura mais facil seria um arrendamento a longo praso. Quem duvidaria tomar essa empreza? A posição das florestas é a mais vantajosa; não sómente os seus productos têem saída facil pela linha férrea que os atravessa, como tambem têem ao lado uma quéda de agua magnifica na cascata do Sonaulim, que podia servir de motor a qualquer fabrica de serração e apparelho de madeiras que devia montar-se. Alem d'isto encontram-se nas proximidades da linha, intercalados com as florestas, jazigos de magnifico barro, alguns dos quaes têem sido já aproveitados na construcção da linha ferrea, fornecendo tijolo muito regular; igualmente se encontra perto a areia e portanto estão á mão os elementos necessarios para a industria do fabrico do vidro. O melhor meio porém, que se me afigura para explorar economicamente as florestas d'esta região seria talvez procurar tornal-as aptas para fornecer travessas de caminhos de ferro. É fabuloso o consumo d'este material nas linhas da India e fabuloso é tambem o preço por que as travessas hoje chegam vindas da Europa.

«É este um dos problemas da exploração dos caminhos de ferro que muito tem preocupado os engenheiros da India. Um dos augmentos mais importantes dos orçamentos supplementares da nossa linha é a verba travessas, porque a principio só suppoz que ellas se encontrariam no paiz.

«A ultima secção da linha caminha toda ella n'uma extensão superior a 15 milhas, ladeada por florestas em cujo seio se encontram as mais preciosas madeiras d'este tão bello quanto fertil paiz.»

E não são tão pouco importantes as nossas matas na India que não representem só na área que occupam, o valor de 2:800 contos de réis; e nas arvores, que passam de 10 milhões, o valor de mais de 800 contos, de réis, susceptivel de augmentar consideravelmente. É uma riqueza importante, que se está desaproveitando e a perder-se!

Qualquer outro paiz já teria aproveitado as excellentes madeiras, que ali possuo, como as de teca, mareta e puna, na construcção de navios, como os que se construem no nosso arsenal da marinha, e que sairiam ali muito mais baratos e melhores.

A excellencia das madeiras junte-se a barateza da não de obra, a aptidão já de ha muito revelada nos nativos para essas construcções, que se faziam no arsenal de Goa com uma grande perfeição, e estava plenamente justificada a minha idéa. A corveta D. Fernando ainda hoje attesta o que foram as construcções navaes em Goa. A montagem de um arsenal custaria dinheiro, mas seria do uma importancia suprema o desenvolvimento de trabalho que traria á provincia e as vantagens que d'ahi proviriam.

Um bom pessoal de constructores seria hoje impossivel encontrar em Goa, donde desapparcceram os que havia, e excellentes; mas os primeiros que ali fossem mandados da metropole, facilmente constituiriam escola, e os operarios podiam ser contratados uns na India ingleza, e outros formados na população nativa.

Nós já lá tivemos, como disse, esse serviço excellentemente montado.

Um paiz como o nosso, que necessita de uma numerosa marinha colonial, podia, se aproveitasse os elementos que possuimos, construir com vantagem e economia barcos de madeira, que ainda prestam excellentes serviços, como as corvetas saídas do arsenal de Lisboa, e como os navios que hoje se estão fabricando na America.

A montagem de um arsenal em Goa seria o meio de dar um alto incremento á terra, e teria por base o aproveitamento das matas que são um verdadeiro manancial de riqueza nas Conquistas e em Damão.

O problema de procurar nestes elementos desaproveitados de riqueza publica da provincia fontes de receita, é da maxima importancia para a vitalidade, independencia e maior desafogo da situação da colonia. Uma carta que tenho presente, de um dos homens mais illustrados de Goa diz o seguinte:

«Essa questão capital é aquella de que antes de tudo o governo deve tratar, para augmentar os recursos do thesouro e evitar a bancarota que me parece imminente, pelos encargos empreteriveis que brevemente nos deve trazer o caminho de ferro de Mormugão, cujas ténues receitas, juntamente com, 4 lagues de rupias de indemnisação ingleza, não darão certamente o preciso para pagar os juros do numeroso capital despendido na linha.»

O futuro da colonia de Goa está em muito, nas medidas que deixo apontadas; mas é necessario que formem um conjuncto de administração, com outras medidas e reformas.

Não quero dar grande desenvolvimento ás minhas considerações, porque não quero tomar tempo á camara; mas não quero deixar de lembrar entre essas reformas a da instrucção publica, a que já me referi n'outra occasião.

Bastará dizer a v. exa., sr. presidente, que a instrucção publica na India regula-se ainda, como no lyceu, pelo regulamento de 1856 ou 1857; e tanto a Instrucção primaria como a secundaria e superior estão n'um atrazo lastimoso. E não admira isso, quando em Portugal ainda não conseguimos ter uma faculdade de letras devidamente organisada, e quando os nossos lyceus, que não são bem nem uma realschule nem um gymnasio allemão, nem cousa que se pareça com um organismo racional, está reduzida a ser, em prssimas condições, uma esprcie das chamadas escolas burguezas, na Allemanha.

O nobre ministro da marinha pensa tambem, de certo, em pôr em execução o seu codigo administrativo. Ora peço licença para observar a s. exa. que me parece que é de toda a conveniencia que não se ponha em vigor esse codigo, sem ser ouvido o conselho governativo da provincia, e os homens que ali têem servido e que conhecem a pro-