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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
confiança em que s. ex.ª ha de dar o devido peso ás poucas reflexões que vou fazer.
A estrada de Guimarães a Mangualde tem sido perseguida de um mau destino; já por duas ou tres vezes que esteve para se lhe dar começo, mas com tanta infelicidade que os ministerios cáem na occasião em que estão dispostos a mandar proceder á sua feitura!
Eu até lembrava a s. ex.ª o sr. ministro das obras publicas que se tivesse muito amor a essas cadeiras, que de certo não tem, não mandasse proceder á construcção d'esta estrada, porque se o fizer, cae (riso).
O sr. Andrade Corvo, que tambem occupa um logar nos conselhos da corôa, poderá dar informações a v. ex.ª do estado d'aquella estrada; pois cuido que s. ex.ª melhor do que outro qualquer poderá dizer qual é o seu estado de viação, porque s. ex.ª teve a infelicidade, creio que de dar duas quedas, quando a percorreu, provenientes do seu mau estado de viação.
Tem certos logares em que nem a pé nem a cavallo se póde andar; é intransitavel.
S. ex.ª quando esteve no ministerio estava disposto a mandar proceder á feitura d'aquella estrada, e creio que por isso é que logo em seguida caiu; eu lamentei então muito por esse motivo a queda de s. ex.ª, porque estou convencido que aquella estrada teria sido concluida.
Na sessão passada apresentei aqui um projecto, juntamente com os meus collegas os srs. Julio Rainha e Coelho do Amaral, que sinto não ver presentes, para que aquella estrada fosse considerada estrada de 1.ª ordem e de 2.ª classe, porque é um negocio de inteira justiça pela sua muita e innegavel importancia, que é escusado estar agora a encarecer, e a sua feitura será mais facil do que sendo considerada estrada districtal.
O sr. ministro das obras publicas, o sr. visconde de Chancelleiros, estava na disposição de mandar proceder á feitura d'esta estrada. Abriu-se a camara, e já não era ministro das obras publicas o sr. visconde de Chancelleiros!
Agora vae fechar-se a sessão; é por isso que eu não posso dispensar me de chamar n'esta occasião especialmente a attenção do sr. ministro das obras publicas para a feitura d'esta estrada.
Parece-me que no intervallo da sessão ha muito tempo de dar começo á sua construcção.
Chamo tambem a attenção de s. ex.ª para as consultas das juntas geraes do districto de Vizeu a este respeito. Os estudos estão feitos por conta do ministerio das obras publicas.
Posto que eu esteja muito disposto a incommodar s. ex.ª no seu proprio gabinete, não posso dispensar-me de chamar n'este logar a sua attenção, em consequencia da importancia do assumpto, e para dar mais força ás minhas instancias particulares.
Limito por agora as minhas observações; nem preciso mesmo que o sr. ministro use da palavra, porque sei qual é a resposta que s. ex.ª me dá, e assiste-me fundada esperança de que os meus rogos hão de ser ouvidos.
Tenho dito.
O sr. Mariano de Carvalho: — Desejava chamar a attenção do sr. ministro das obras publicas para um negocio em que felizmente não ha 5 réis de despeza para o thesouro.
Apenas exijo que da parte do governo se faça cumprir um contrato entre o estado e uma companhia poderosa.
No concelho de Salvaterra de Magos ha uma valla que estabelece a communicação entre a commercial villa de Salvaterra e o Tejo.
N'esta valla desemboca outra que pertence á companhia das lezirias, e onde havia umas portas chamadas de sarilho. A companhia tirou estas portas de sarilho e substituiu-as por outras chamadas de abrir e fechar.
Resultou d'esta substituição entulhar-se a valla, e a camara de Salvaterra de Magos requereu á companhia das lezirias que mandasse mudar as portas. A companhia mandou examinar e estudar aquella valla.
O empregado dignissimo a quem a companhia mandou fazer este exame, é muito competente em administração e agricultura, mas não tem de certo a pretensão de ser engenheiro hydraulico.
A companhia, em vista da informação d'esse empregado, indeferiu a pretensão da camara.
O caso é que a valla vae se entulhando cada vez mais, a ponto que, ainda ha pouco, ali se navegava em todo o estado da maré, o que hoje não é possivel nem ao barco do correio, apesar de pequeno, e de ter fundo de prato.
A companhia das lezirias recebe um imposto de fabrica para as obras hydraulicas que os campos do Tejo precisam, e por isso o obrigada a manter todas as vallas em estado de limpeza, tanto para a navegação como para o enxugo dos terrenos.
Eu pedia ao sr. ministro das obras publicas que convencesse a companhia a cumprir o seu contrato, para que a valla possa estar em estado de ser navegavel.
Recebi ha pouco uma noticia que deve cobrir de luto o coração de todos os amigos das glorias d'este paiz.
Falleceu o digno par do reino, o sr. Luiz Augusto Rebello da Silva.
Todos admiravam o talento, os altos conhecimentos e os valiosos serviços prestados ao paiz na tribuna e na imprensa pelo illustre finado.
Eu, que tinha a honra de ser seu amigo, pude apreciar tambem os primorosos dotes do seu coração e do seu caracter.
Parece-me que a camara quererá lançar na acta um voto de profundo sentimento por este facto tristissimo, que cobre a patria de luto.
A commoção que me prende a voz, concorda com a manifestação da camara, para que eu não acrescente mais nenhuma consideração.
O sr. Presidente: — O sr. deputado Mariano de Carvalho acaba de propor que se consigne na acta um voto de profundo sentimento com que a camara recebeu a noticia da prematura morte do digno par do reino, o sr. Luiz Augusto Rebello da Silva, e por consequencia vou consultar a camara a esse respeito.
Consultada a camara, approvou unanimemente a proposta do sr. Mariano de Carvalho.
O sr. Mariano de Carvalho: -— Peço a v. ex.ª consigne na acta que a camara approvou por unanimidade a minha proposta.
O sr. Presidente: — Sim, senhor.
O sr. Ministro da Marinha (Jayme Moniz): — Declaro, por parte do governo, que elle se associa á declaração do voto de sentimento que o sr. deputado Mariano de Carvalho pediu se lançasse na acta.
O sr. Osorio de Vasconcellos: — O illustre deputado e meu amigo, o sr. Mariano de Carvalho, precedeu-me-na lembrança que estava de certo no animo de toda a camara, como se deprehende da votação unanime e compacta para que se consigne na acta o sentimento de profunda tristeza, de luto verdadeiro e entranhada saudade pela morte de um dos homens que mais honraram a tribuna portugueza! (Muitos apoiados.)
Extinguiu-se um grande luminar, um litterato distincto, um homem, que com a palavra e com a penna entreteceu para a nossa patria querida uma aureola de eterna fama... Morreu o obreiro extenuado e cansado de tanto lidar, mas na sua obra legou aos evos perduravel e immortal monumento (muitos apoiados).
Ao ver que uma tão notavel intelligencia se sumiu na voragem da morte, nós não podemos deixar de exarar na acta o nosso profundo sentimento, porque não é tão farto, ainda mal! o nosso paiz em robustas e altas intelligencias, que nos não entristeçamos nem deitemos luto, porque mais uma se despediu para sempre, ah! para sempre d'este mun-